Debelar ameaças, aproveitar oportunidades

As últimas semanas foram de grande mudança e permitiram-nos observar um INESC TEC e um mundo até agora desconhecidos.

Percebemos que conseguimos trabalhar à distância e em grupo mantendo níveis elevados de atividade e de eficiência. Descobrimos que já não há problemas de espaço, de falta de salas de reuniões, ou de conciliação de agendas pessoais. Descobrimos que colegas de outras cidades participam agora nas nossas reuniões internas.  Descobrimos que somos uma instituição que se mobiliza por causas maiores. Percebemos que temos uma invulgar capacidade de mobilizar agentes externos e de coordenar equipas. Confirmámos que o nosso trabalho é reconhecido pela sociedade.

Por outro lado, sentimos falta das conversas de ocasião e dos momentos de almoço; ficámos severamente limitados na nossa capacidade de trabalho em laboratório ou com hardware; alguns nos nossos projetos atrasam-se por isso ou porque os nossos parceiros não se adaptaram tão bem como nós; perdemos ânimo porque ficamos em casa sob pressão.

As ameaças externas, por outro lado, são reais e relevantes: os parceiros que usam os nossos serviços de I&D irão passar por um período menos bom; os prazos para submissão e consequente aprovação de projetos vão sendo adiados; muitas das conferências e viagens de que dependemos para criar novas oportunidades I&D foram adiadas ou canceladas; as datas dos exames dos nossos estudantes e futuros colaboradores poderão sofrer atrasos. Apesar da experiência por nós adquirida na gestão da crise de 2011, estas ameaças têm um impacto difícil de estimar.

No entanto perspetivam-se oportunidades extraordinárias. Depois da globalização, o mundo redescobriu o local e combinou-o com o global através de tele-serviços. Nas últimas semanas o mundo usou intensivamente as tecnologias que dominamos: as comunicações, os computadores, os sistemas eletrónicos, os sistemas de informação, a energia elétrica ou os media digitais. Num outro plano, as pessoas ficaram mais conscientes do valor dos sistemas e infraestruturas públicas e exigirão que sua melhoria seja feita de forma informada e com a colaboração de cientistas. O mundo pós-confinamento será diferente do mundo pré-confinamento: sofrerá uma mutação. Sabendo que os nossos conhecimentos são agentes essenciais desta mudança, compete a cada um de nós decidir como para ela contribuirá. Esta será uma boa oportunidade para reafirmarmos o valor do nosso conhecimento e, coincidentemente, contribuirmos para a resolução de alguns dos grandes problemas da humanidade e do planeta.

Conscientes das nossas características e alicerçados no nosso conhecimento fundamental, há que montar planos para debelar as ameaças externas e definir estratégias de I&D que aproveitem ou definam as oportunidades que se avizinham. Renasceremos, como a fénix.

Manuel Ricardo, Administrador

“Ora, há uma ave que se regenera e se reproduz a si mesma. Os Assírios chamam-lhe fénix. Não é de grãos ou de ervas que vive, mas de lágrimas de incenso e da seiva do amomo. Ela, ao completar cinco séculos de vida, constrói para si um ninho nos ramos de uma azinheira, ou na copa de uma trémula palmeira, com as unhas e o imaculado bico. Mal cobriu o fundo de cássia e espigas de delicado nardo, e canela moída junto com fulva mirra, deita-se lá em cima e termina a sua existência por entre estas fragâncias. Depois, do corpo paterno renasce um pequenino fénix, diz-se, destinado a viver o mesmo número de anos. Quando a idade lhe dá forças e é capaz de carregar pesos, alivia os ramos da alta árvore do pesado fardo do ninho, e leva devotamente o seu berço, e sepulcro de seu pai. E quando, pelas leves brisas, chega à cidade de Hiperíon, pousa-os diante das sacras portas do templo de Hiperíon.” – Metamorfoses, Livro XV, Ovídeo (tradução de Paulo Alberto)

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