Resiliência Pervasiva

Fomos completamente apanhados de surpresa. Por muitas pestes de que tivéssemos ouvido falar ou visto em filmes aterradores, julgo que todos as tínhamos como ameaças longínquas, circunscritas, ou como protagonistas de Hollywood. Se no início do ano alguém nos dissesse que teríamos que ficar em casa, que todos os nossos contactos sociais e profissionais iriam ser por videochamada, que seríamos proibidos de sair do nosso concelho, que deixaria de haver aviões, que teríamos que adoptar novos hábitos, já quase viscerais, como usar máscara, não tocar na cara, desinfectar as mãos, trocar os beijos e os abraços por cuidadosas cotoveladas, diríamos que era doido varrido!

Desta vez, o mundo todo foi apanhado de surpresa. Perante esta escala, o medo, a inexperiência e o desconhecimento são férteis em descoordenação, indecisão, especulação, precipitação e irracionalismo. Os exemplos disto têm sido muitos, bem presentes e já programados para as férias de Verão, para o regresso ao trabalho, para o novo ano lectivo e até para 2021. Durante uns bons tempos não saberemos como será o mês que vem.

O INESC TEC desde Março parece outro. Foi-se despindo de nós e trocou-nos por um guiché de acrílico qual repartição pública, gel desinfectante em todo o lado, sinalética de entrada e saída para gente que não aparece e purificadores de ar para incinerar o estupor, no caso de decidir aparecer.

Mas nem tudo o que parece é, e o INESC TEC, apesar do nosso atordoamento individual, é o mesmo. Num inédito teste de resiliência, superou-o e superou-se. Connosco em casa, o INESC TEC desinfectou-se dos pés à cabeça, vestiu fato-macaco, luvas, máscara e viseira e nunca parou. Com extraordinário empenho, foi-nos dizendo o que fazia e sugerindo o que fazer de uma forma atempada, clara, rigorosa, sempre baseada em informação oficial. Não desligou nenhum serviço, nem humano nem digital. Protegeu os valentes piquetes e alimentou os computadores com mais e novo software para que estivéssemos sempre à distância de um clique, de um drive, de um chat ou de um zoom. A responsabilidade de facilitador e catalisador nas nossas equipas, entre investigadores e serviços, entre serviços internos e externos foi algo que o INESC TEC terá feito de modo exímio. Senão vejamos, para além da execução dos projectos em curso, o INESC TEC viu serem submetidas 80 novas propostas. Além das ideias já em maturação, em menos de dois meses o INESC TEC idealizou 40 projectos para ajudar directamente o país e os portugueses. Ele foi um ventilador, um robô desinfectador, viseiras, máscaras, um estudo da dinâmica da adaptação dos portugueses às novas vivências, acções para permitir que o maior número de alunos conseguissem acompanhar as aulas não-presenciais, estimativas da taxa geral da propagação e da evolução personalizada do sacana, e um radar pessoal para os nossos telemóveis que o topa à distância.

Ao voltarmos, nem tudo será como dantes. O que de tão grande e inusitado nos apanhou de surpresa mostrou a solidez do INESC TEC, como cuida de todos e como progride, apesar de tudo.

Voltamos com novas perspectivas, mais preparados, com ferramentas e métodos mais eficientes. Vivemos num país maravilhoso mas tudo é cada vez mais global, temos necessidade de exterior e de estar juntos mas também mais cautelas, teremos menos espaço para partilhar mas também maior capacidade para cumprirmos a nossa função remotamente. É uma oportunidade excelente, como dizemos no INESC TEC, para descobrir como nos compensarmos disto tudo e, na minha opinião, nada melhor do que ganhar qualidade de vida.

Nota: O autor escreve como aprendeu, com muitos cês e pês.

Rui Carlos Oliveira, Administrador do INESC TEC

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