A Transformação Digital num Planeta em (R)evolução

Por António Henrique Almeida, Business Development Manager, Tec4Industry

Num contexto de extrema competitividade industrial, verifica-se hoje uma clara tendência para o foco no cliente. Ou seja, ao contrário do que se verificava no pós-guerra, em que os clientes ficaram extremamente afastados da indústria e compravam apenas aquilo que as empresas decidiam colocar no mercado, hoje os clientes conseguem escolher o produto que melhor se adequa às suas necessidades, a partir de uma oferta alargada. Na indústria automóvel, o mesmo construtor apresenta diferentes modelos de automóveis capazes de se ajustar às diferentes necessidades de cada individuo (entre citadinos, pequenos SUVs, grandes SUVs, MVPs, carros elétricos, desportivos, etc.). Por exemplo, a Mercedes produz hoje mais de 50 veículos diferentes, de forma a maximizar e democratizar o seu público-alvo. Igualmente, a Apple tem vindo a desenvolver iPhones, iPads, computadores e outros dispositivos em diferentes gamas, cores e tamanhos e com diferentes características, algo que não se verificava durante a época de Steve Jobs.

Esta alteração de paradigma tem tido um impacto considerável em diversas disciplinas, desde o desenho e desenvolvimento de produto até à gestão de processos, operações e logística das empresas industriais. Ao mesmo tempo, vivemos atualmente num momento crítico do nosso planeta, onde os recursos naturais são cada vez mais escassos e a capacidade da natureza para resistir aos impactos ambientais causados pela evolução da civilização é cada vez mais diminuta, estando a atingir um ponto sem retorno que obriga a uma atuação eficaz e urgente dos diferentes atores e entidades mundiais. Verifica-se hoje que as novas gerações já estão muito mais sensíveis a estes temas, valorizando produtos que apresentam matérias-primas e processos produtivos mais sustentáveis.

Este contexto à escala mundial tem vindo a desafiar o status-quo e as dinâmicas económicas, financeiras e políticas que atualmente se verificam entre principais regiões mundiais, tal como as conhecemos. Por exemplo, países como a China, que sempre investiram em sistemas de produção altamente eficientes e pouco flexíveis, para responder a uma procura em massa, encontram-se pouco disponíveis para responder a estes desafios. Esta realidade cria uma nova oportunidade em regiões mais tradicionais, entre eles o continente europeu, que se tem vindo a especializar em indústrias sustentáveis e com elevada flexibilidade para continuamente se adaptar às exigências e necessidades dos clientes finais.

Assim, devemos entender que, no meio desta evolução e alterações desmedidas, podemos encontrar oportunidades e novos desafios para regiões que, até ao momento, se encontram em processo de terciarização da sua economia. Ou seja, continentes que, devido à sua situação laboral, legal e social apresentam desvantagens competitivas, com impacto direto no seu setor secundário, podem hoje encontrar novas oportunidades para equilibrar esta balança entre os setores da economia.

De facto, este é o momento de agir. Este é o momento de equilibrar a balança industrial mundial, tirando partido das especializações por regiões. Na minha opinião, será obrigatório manter um maior equilíbrio entre indústrias de produção em massa (mass production) e indústrias com foco no cliente (mass customization). Desta forma, tanto a Europa como os Estados Unidos têm vindo a desempenhar esforços para se conseguirem posicionar e aproveitar estas alterações na indústria mundial. De facto, iniciativas como a Indústria 4.0 (i4.0) e a Smart Factories, têm permitido às empresas europeias e americanas, respetivamente, motivar e alavancar um processo de digitalização, capaz de aumentar não só a sua flexibilidade e inteligência para continuamente se adaptar às necessidades do mercado, permitindo a gestão de uma maior gama de produtos, cada vez com menores ciclos de vida, mas igualmente fazendo de forma mais eficiente no que diz respeito ao consumo de matéria-prima, energia e recursos naturais.

Ao mesmo tempo, explorar novas oportunidades criadas por esta transformação digital para criar novos modelos de negócio mais sustentáveis e voltar a aproximar os clientes da indústria transformadora. Aqui, conceitos como a servitização deverão ser explorados, de forma a criar canais de comunicação entre os clientes finais e as empresas industriais e permitir novos serviços, aumentar o tempo de vida dos produtos e a sua reciclagem e evolução/upgrade. Finalmente, e não menos importante, tirar partido da tecnologia para melhorar as condições de trabalho na indústria, e voltar a atrair jovens com talento para este setor industrial, que deverá ser encarado como a base de sustentabilidade da economia europeia.

E como se deve posicionar o INESC TEC neste contexto? Na minha opinião este contexto representa uma excelente oportunidade para o nosso instituto se manter como uma entidade de referência para a indústria. Devemos entender este awareness generalizado como uma oportunidade de colocar em prática tudo aquilo que o INESC TEC tem vindo a desenvolver desde a sua criação. Ou seja, com base em investigação, inovação e desenvolvimento de base tecnológica, tirar partido do seu conhecimento multidisciplinar para ajudar o tecido empresarial português a acompanhar, e, se possível, liderar esta 4ª revolução industrial nas áreas estratégicas do país.

Aqui, serviços inovadores e parcerias estratégicas devem ser idealizados e oferecidos às empresas, desde o apoio à criação e especificação de projetos de I&D em tecnologias chave e emergentes (tais como Robótica, IA, Digital Twin e Simulação, Realidade Aumentada, entre outras); passando pelo apoio na análise de maturidade e definição de roadmaps tecnológicos, alinhados com os objetivos estratégicos de crescimento das empresas; até às ações de formação avançada nas diferentes áreas e tecnologias que distinguem esta 4ª revolução industrial. Continuar a garantir o balanço entre a investigação de base e a integração de tecnologias emergentes em soluções de TRL mais elevado, entender e relacionar o potencial das tecnologias e as necessidades das empresas, assim como suportar a transferência deste conhecimento para a indústria será essencial para manter o INESC TEC como uma entidade de excelência e de valor acrescentado em Portugal.

 

 

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