Por Sheila Góis Habib, Técnica Especialista do Serviço de Relações Internacionais (SRI)
Vai fazer quase dois meses desde que me juntei ao Serviço de Relações Internacionais (SRI) do INESC TEC, e não poderia estar mais contente com o desafio que me foi proposto: apoiar o desenvolvimento da Área de Cooperação Internacional do SRI.
Caso ainda não nos conheçam totalmente, o SRI presta apoio em quase tudo o que precisarem – desde encontrar oportunidades para realizarem intercâmbios de investigação, até à facilitação de reuniões com outras instituições, com vista à partilha de boas práticas. Por isso, não hesitem: enviem-nos um ticket!
Desde que comecei a desempenhar funções no INESC TEC, fiz o mapeamento do portfólio de acordos internacionais da instituição e gravei um podcast sobre a terapia de protões (um tipo de tratamento contra a cancro que tem vindo a conquistar apoiantes). De momento, estou responsável por agilizar uma oportunidade única para os investigadores e investigadoras do INESC TEC, para que possam colaborar com o Instituto Nacional de Informática do Japão, bem como pelo processo da criação de um programa muito interessante para o INESC TEC (fiquem atentos/as!).
Uma pequena curiosidade: o INESC TEC já celebrou acordos internacionais com instituições oriundas de todos os continentes, com a exceção da Austrália (e da Antártica, obviamente!).
Apesar de o meu percurso no INESC TEC estar apenas a começar, sinto-me verdadeiramente entusiasmada por apoiar o Conselho de Administração, bem como a minha equipa, na concetualização, implementação e monitorização da estratégia de internacionalização do INESC TEC. Na verdade, sinto que este desafio me assenta que nem uma luva. Vivi no estrangeiro durante grande parte da minha vida – Reino Unido, Bélgica, Suíça e Angola. Regressar a Portugal e, acima de tudo, ingressar numa instituição como o INESC TEC, faz todo o sentido.
Estudei Direito Internacional e Direitos Humanos, mas a minha experiência profissional é predominantemente internacional com um foco na área das relações internacionais. Tive o prazer de trabalhar no Consulado Geral de Portugal em Luanda, na mais antiga organização de mulheres pela paz a nível mundial (Liga Internacional das Mulheres pela Paz e Liberdade), entre outros locais. Essas experiências foram cruciais para me tornar a pessoa que sou hoje em dia. Na verdade, foi no estrangeiro que descobri o movimento feminista.
Por exemplo, tive a sorte de conhecer e falar com algumas das mulheres que compõem o Movimento Político das Mulheres Sírias. Este Movimento foi criado em 2017, por mulheres Sírias que exigem uma representação significativa no processo político do país, e procuram estabelecer uma paz sustentável e uma democracia inclusiva e livre na Síria. Ouvi, em primeira mão, as suas experiências e as suas perspetivas, bem como os seus esforços para repensar o processo político sírio, tendo em conta princípios feministas e de igualdade de género, com o objetivo de alcançarem um governo de estado de direito democrático, que garanta direitos iguais para mulheres e homens, sem qualquer tipo de discriminação. No entanto, e infelizmente, estas mulheres ainda não encontraram solução para que seja permitida a sua presença e representação nos processos de negociação – ou seja, as suas vozes continuam sem ser ouvidas.
Além disso, tive também a oportunidade de falar com deputadas e deputados do Parlamento Europeu, profundamente preocupados com as graves violações dos direitos humanos da população muçulmana Uigure a acontecer na província de Xinjiang, na China, altamente frustrados e frustradas com o pouco poder que tinham para, efetivamente, fazer algo – não só porque a China se recusava a permitir o acesso de observadores independentes na província de Xinjiang, mas também porque a União Europeia mostra/mostrou alguma reticência/incapacidade em cortar relações com a China, ou mesmo em impor sanções.
Estes exemplos são apenas dois dos muitos que dificultam a criação de um mundo mais inclusivo e equitativo. Ainda temos um longo caminho a percorrer, até alcançarmos um ponto em que os direitos humanos de todas as pessoas sejam respeitados. E é por isso que a consciência e a compreensão interculturais são bastante importantes.
Acredito, piamente, que a ausência de uma consciência intercultural e a não aceitação de quem é visto/a como “diferente”, é uma das principais razões pelas quais o mundo está “repleto” de islamofobia, racismo, ciganofobia, homofobia, transfobia e outros tipos de discriminação. Outra das principais razões é a nossa recusa em ouvir as outras pessoas. Assim, torna-se importante apostar na educação, desde uma tenra idade, para a inclusão e para a aceitação de uma sociedade multicultural como forma de lutar contra as várias formas de discriminação e de intolerância. Como diz o meu amigo Tex Silva e bem, a reeducação em idades mais avançadas, onde as crenças e ideais de intolerância já estão muito enraizados, é um processo bastante difícil. Daí a importância da educação para a cidadania, porque “a educação começa em casa” é o principal instrumento de manutenção da intolerância, devido à transferência intergeracional de crenças. Assim, sou uma acérrima defensora da educação para a cidadania como disciplina obrigatória nas escolas, de forma a promover a igualdade e a interculturalidade.
Acredito, também, que os governos devem ser mais pró-ativos no sentido de incluir todas as pessoas na sociedade, através de iniciativas mais amplas, de um sistema de educação e de espaços de trabalho que incluam todas as culturas, religiões, géneros, orientações sexuais, raças, etnias, etc. Temos vindo a testemunhar algumas tentativas (por vezes, e infelizmente, bem-sucedidas) para impedir o acesso à educação e ao trabalho por parte de mulheres que usam coberturas faciais, como o hijab ou a burca. Ou mesmo situações em que raparigas que desejam frequentar o sistema de ensino não o podem fazer, pois não têm dinheiro para comprar produtos de saúde menstrual. Isto, a meu ver, não é aceitável, e é por isso que a nossa sociedade deve evoluir e tornar-se mais inclusiva.
A diversidade é algo que devemos celebrar – as pessoas têm diferentes origens e, consequentemente, formas de pensar, opiniões e soluções bastante diversas. Juntos e juntas, somos melhores.
Caso pretendam desenvolver a vossa consciência intercultural, o meu conselho é o seguinte: alimentem a vossa curiosidade, pois há sempre tempo e espaço para aprender coisas novas. Procurem interagir com pessoas de culturas e origens diferentes. Dediquem parte do vosso tempo para conviver com elas. E, acima de tudo, façam perguntas e leiam livros sobre assuntos que desconhecem!
Num mundo globalizado e interligado, a educação intercultural é parte da solução para incluir as pessoas na sociedade e fazer com que se sintam bem-vindas em qualquer parte do mundo.
Chegou o momento de vivermos numa sociedade verdadeiramente igualitária.