As energias renováveis são fundamentais para a descarbonização da economia, mas a sua integração no sistema elétrico requer uma alteração do paradigma de operação e planeamento. O projeto Smart4RES, que chegou agora ao fim, traz melhorias na previsão da produção renovável e vai auxiliar a tomada de decisões dos operadores do sistema elétrico e agentes de mercado sob incerteza e risco.
Foram três anos e meio de investigação com o objetivo de criar a próxima geração de ferramentas de modelização e previsão a curto prazo da produção de energia elétrica de base renovável, e desenvolver novas metodologias de apoio à decisão baseadas em inteligência artificial e interação com o operador humano, que prometem, se não revolucionar, pelo menos alavancar o sistema energético da próxima década. Combinando diferentes disciplinas como meteorologia, investigação operacional, ciência dos dados, sistemas de energia, entre outras, o projeto centrou-se em estudar novas metodologias de apoio à decisão.
Em concreto, o consórcio do projeto Smart4RES, que contou com a participação do INESC TEC e EDP NEW como parceiros nacionais, pretendia alcançar um aumento de pelo menos 15% no desempenho da previsão da produção renovável e alavancar o valor económico da previsão, considerando toda a cadeia de valor desde a previsão meteorológica até às aplicações finais.
“Considerando estes objetivos, o INESC TEC trabalhou, essencialmente, no desenvolvimento de novos algoritmos e conceitos para a previsão da produção de energia renovável. O ponto de partida foram ideias disruptivas que desafiassem o estado atual da arte”, adianta Ricardo Bessa, investigador do Centro de Sistemas de Energia (CPES) do INESC TEC.
Em particular, foi criado um protocolo patenteado para previsão de energia renovável que permite que diferentes proprietários de dados trabalhem de forma colaborativa, melhorando a precisão das previsões entre 5% e 12% para um horizonte temporal até 48 horas. “Também desenvolvemos algoritmos para monetização de dados (vídeo com protótipo) de produção de energia renovável e previsões numéricas do tempo, usando tecnologia blockchain”, acrescenta o investigador. Para além disso, foram criadas metodologias preditivas para sistemas elétricos isolados (ilhas) com elevada integração de produção renovável, considerando o despacho de compensadores síncronos e contratação e ativação da flexibilidade da rede elétrica, baseada em informação de previsões probabilística da produção renovável e consumo.
Os investigadores do INESC TEC Ricardo Bessa e Carla Gonçalves (cuja tese de doutoramento desenvolvida no âmbito do projeto foi distinguida com o EDP Labelec Merit Award 2022) apresentaram, na conferência final do projeto, que decorreu em abril, algumas destas ferramentas que irão ajudar operadores da rede de distribuição e transporte de energia elétrica, operadores de sistema, de mercado e de instalações de produção de base renovável e fornecedores de serviços digitais.
Por outro lado, os resultados deste projeto vão permitir avançar com o desenvolvimento de tecnologias, nas quais o INESC TEC já tem vindo a trabalhar. “Temos como objetivo estabelecer parcerias com a indústria para desenvolver novos casos de uso relacionados com a partilha de dados (Data Spaces), como por exemplo a manutenção preditiva e otimização e ecossistemas industriais”, esclarece Ricardo Bessa.
O Smart4RES não acaba com a incerteza associada à previsão produção de energias renováveis, mas é um passo na exploração de tecnologias que poderão mudar o futuro dos sistemas de energia.
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia tem vínculo ao INESC TEC.