INESC TEC entre as entidades promotoras da primeira missão espacial análoga realizada em Portugal

É numa gruta vulcânica, na Ilha Terceira, no arquipélago dos Açores que, durante uma semana, candidatos a astronautas vão poder realizar uma missão espacial análoga. Pelas suas características, a Gruta Natal configura o ambiente perfeito para simular uma estadia em Marte ou na Lua, facilitando a realização de treinos, o teste de tecnologias, a recolha de dados, entre outras atividades científicas. CAMões é o nome deste projeto pioneiro em território nacional que conta, entre as entidades promotoras, com a participação do INESC TEC.

Gruta Natal, Terceira, Açores. Foto de @marcbluhm_
Media Partner SOE’23: SpaceWatch.Global

Trata-se de uma iniciativa exploratória, que vai permitir à comunidade nacional e internacional realizar treinos espaciais dentro de grutas vulcânicas – espaços que dispõem de condições semelhantes às cavidades vulcânicas do Planeta Marte ou da Lua. CAMões (Caving Analog Mission: insights about Ocean Earth and Space) – A Journey to the Center of the Earth) é o nome da primeira missão espacial análoga realizada em Portugal, que dará a um grupo de cientistas a possibilidade de ficarem isolados, num ambiente subterrâneo, para, durante uma semana, realizarem atividades de formação e investigação.

“Finalmente vemos um sonho antigo tornado realidade! Vamos tirar proveito de um dos tubos de lava que a Ilha Terceira nos oferece, para simular uma missão a Marte ou na Lua”, explica Ana Pires. De acordo com a investigadora do INESC TEC, a Gruta Natal configura um contexto geológico ideal para os astronautas poderem estudar, fazer ciência, testar tecnologias e fazer os seus treinos espaciais. “Estamos muito entusiasmados com esta possibilidade e empenhados em conseguir que a missão se realize ainda durante este ano com a Crew Zero”, avança a investigadora.

“É incrível como o planeta Terra nos oferece locais muito similares a Marte ou à Lua. A Ilha Terceira apresenta estruturas naturais como os tubos de lava que são verdadeiros “laboratórios de ciência”, que podem ser usados para testar instrumentos, estudar formações geológicas e desenvolver tecnologias para futuras missões espaciais”, reforça Ana Pires, confessando – “Estamos a viver tempos incríveis em termos de Exploração Espacial!”

A missão CAMões será gerida e organizada pela Associação “Os Montanheiros” (Grupo de Espeleologia), em parceria com o INESC TEC, Instituto Superior de Engenharia do Porto, Universidade dos Açores, Universidade de Aveiro, Universidade Lusófona, Women in Tech Portugal, Native Sky e o The Explorers Club. Até à sua realização, espera-se que mais instituições e entidades se associem à missão.

 

Missão CAMões foi anunciada no palco do Glex Summit  

SOE’23. Foto de @marcbluhm_
Media Partner SOE’23: SpaceWatch.Global

A iniciativa foi anunciada durante a segunda edição do SOE – Space, Ocean and Earth Insights, um evento especializado na área de investigação espacial e oceânica, que aconteceu em junho, nos Açores, no âmbito do evento internacional GLEX – Global Exploration Summit. Este ano o SOE’23 foi integrado no GLEX Summit como uma sessão especial “INNER & OUTER SPACE”, sendo o INESC TEC o “Exploration Partner” do GLEX Summit.

O SOE – que integrou pela primeira vez o programa da GLEX – promoveu a cooperação internacional na interação espaço-terra-oceano e, subordinado ao tema “The Quest to Inspire a Universe of Extreme Explorers”, trouxe à discussão a ciência, a tecnologia e a investigação na Terra, no Espaço e no Oceano, reunindo uma série de especialistas de todo o mundo, entre cientistas, empresários, investigadores, decisores políticos. Além disso, o evento potenciou ainda o debate em torno dos trabalhos relacionados com o aprofundamento do conhecimento espacial e da forma como estes são capazes de dar resposta a desafios colocados pelos diferentes elementos que compõem o universo.

O SOE’23 foi organizado pelo INESC TEC e co-organizado pelo Programa UT Austin Portugal, a infraestrutura TEC4SEA, o International Institute for Astronautical Sciences, a iniciativa Space for all Nations e o GLEX Summit Portugal, com o apoio de vários patrocinadores, incluindo a Agência Portuguesa Espacial (Portugal Space), a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), tendo contado também com o apoio de várias entidades e empresas.

 

Porque se realizam missões análogas?

Recentemente, Ana Pires integrou uma missão espacial análoga no deserto do Utah, nos Estados Unidos da América, mais precisamente na Mars Desert Research Station (MDRS) – uma estação análoga espacial que é gerida pela Mars Society. A infraestrutura é utilizada por várias equipas para realizar estudos análogos e testes de campo para uma eventual exploração do planeta vermelho. Ana Pires participou como Crew Scientist da equipa Pegasus (Crew #281), constituída por mais três colegas americanos e uma colega indiana, tendo tido a oportunidade, ao longo de duas semanas, de realizar várias experiências, testar várias geotecnologias, bem como realizar um estudo geológico-geotécnico da região e de caracterização geomecânica das rochas.

“Ao longo de duas semanas tive a oportunidade de usar um mockup de fatos espaciais para efetuar as EVAs (Atividades Extraveiculares) no exterior do habitat, e de simular várias operações no interior e exterior da estação, bem como o próprio trabalho em equipa e de relacionamento social”, refere a investigadora.

Ana Pires, investigadora do INESC TEC, integrou uma missão espacial análoga no deserto do Utah

Durante esta experiência, Ana Pires pode testar ainda o protótipo de uma t-shirt – têxteis inteligentes – produzida em Portugal por Filipa Fernandes, investigadora da OozeNanotech – no seguimento da cooperação entre as duas investigadoras, assim como um subsistema para um ROVER, desenvolvido no âmbito do Mestrado em Sistemas Autónomos do Curso de Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do ISEP. Trata-se de uma ferramenta para recolha de rochas e solo, desenvolvida por Ana Pires e Diogo Abreu, e que foi testada com sucesso durante uma das EVAs.

“Simulamos uma missão a Marte, testamos tecnologias num ambiente extremo e muito semelhante em termos geológicos ao que encontramos na Lua ou em Marte, e trouxemos imensos dados científicos para publicações. Foi uma oportunidade para desafiar os próprios limites, mas também para aprender e trazer conhecimento para o nosso país. Uma experiência única, em termos de treinos espaciais, engenharia, tecnologia, comportamento social, trabalho de equipa, que nos prepara para verdadeiras missões, e nos dá muitas pistas para o futuro sobre como agir neste tipo de operações”, conclui a investigadora.

 

A investigadora do INESC TEC mencionada na notícia tem vínculo ao P.Porto-ISEP.

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