Os Operadores de Sistemas de Distribuição contam com um novo conjunto de aplicações inovadoras, que os vão ajudar não só na operação e planeamento da rede de distribuição, mas também na negociação de novos serviços de flexibilidade em diferentes plataformas de mercado. Este é um dos principais resultados do projeto EUniversal, no âmbito do qual foi ainda desenvolvida uma interface aberta, a UMEI – Universal Market Enabling Interface, que facilita a interação entre os operadores e os novos mercados de flexibilidade.
Contribuir para a implementação eficaz de um sistema elétrico flexível e interoperável – este foi o desafio que juntou 19 entidades de oito países europeus, um consórcio que ao longo de quase quatro anos definiu e demonstrou serviços e produtos de flexibilidade, desenvolveu uma toolbox para apoio às operações e planeamento da rede elétrica, e assegurou a criação de uma interface aberta – agnóstica, adaptável, modular e escalável – que facilita a interação entre os sistemas dos operadores, as plataformas de mercado e os agregadores. O INESC TEC foi uma dessas entidades.
Mas vamos por partes. Comecemos pela toolbox para os Operadores de Sistemas de Distribuição (em inglês, Distribution System Operators – DSO), cujo desenvolvimento foi liderado pelo INESC TEC. “Esta toolbox mais não é do que um conjunto de aplicações inovadoras desenvolvidas pelos diferentes parceiros para apoiar a operação e planeamento da rede de distribuição tendo em conta a integração da flexibilidade do consumo e produção”, explica Clara Gouveia.
De acordo com a investigadora do INESC TEC, a conceção destas soluções teve em consideração a participação dos consumidores ligados aos diferentes níveis de tensão, e a características das redes de distribuição, garantindo o controlo coordenado entre os recursos ligados aos diferentes níveis de tensão. O objetivo? Aumentar a observabilidade da rede e implementar uma estratégia de operação preditiva, adaptável e distribuída. Foi ainda explorado o conceito inovador de áreas de flexibilidade dinâmicas que identificam quais os recursos e que quantidade mobilizar em mercado, sem que seja necessário partilhar informação sensível da rede e facilitando a formulação das ofertas e agregação de forma mais eficaz.
Desta forma, algumas destas aplicações permitem, por exemplo, a quantificação das necessidades de flexibilidade na rede de distribuição de Média Tensão (MT) e Baixa Tensão (BT), assim como “a seleção ótima das ofertas, dependendo do desenho do mercado local”. Isto leva ainda a que os operadores consigam negociar novos serviços de flexibilidade em diferentes plataformas de mercado.
Soluções foram testadas em Portugal, Alemanha e Polónia
Na verdade, o teste da negociação da flexibilidade em plataformas de mercado distintas foi um dos objetivos da demonstração realizada em território português – chegamos, assim, à demonstração dos produtos e serviços. Ao todo, no âmbito do EUniversal, foram realizadas demonstrações em três países – Portugal, Alemanha e Polónia – com redes de distribuição distintas e diferentes enquadramentos regulatórios.
Em Portugal, foram consideradas quatro redes de MT e nove redes de BT localizadas em diferentes regiões. “O demonstrador português definiu objetivos ambiciosos prevendo o teste da negociação da flexibilidade em duas plataformas de mercado distintas para apoio à operação da rede de MT e BT. A demonstração explorou ainda a aquisição de serviços a curto e longo prazo para fazer face às necessidades de planeamento de operação e de investimento na rede de distribuição”, avança Clara Gouveia.
Segundo a investigadora, à semelhança do piloto português, o demonstrador alemão procurou também validar a negociação de serviços de flexibilidade a curto prazo para apoio à operação da rede de MT e BT. Já na Polónia visou-se “a flexibilidade da rede de distribuição, com destaque para o teste de soluções de gestão dinâmica da capacidade das linhas de Alta Tensão (AT), para aumentar a capacidade de integração de produção de origem renovável e ainda o teste de soluções de regulação automática de tensão nas subestações MT/BT e na rede de BT.”
Projeto criou uma interface que facilita a comunicação distribuída
O consórcio concebeu ainda uma nova abordagem sobre a utilização da flexibilidade pelos operadores e a sua interação com os novos mercados de flexibilidade, possibilitada através do desenvolvimento da UMEI. “A interação entre os sistemas do DSO, as plataformas de mercado e agregadores é assegurada pela UMEI”, refere Clara Gouveia, acrescentando que se trata de uma abordagem normalizada, agnóstica, adaptável e modular, que combina APIs (Application Programming Interfaces), que podem ser usadas por qualquer stakeholder.
Além disso, lembra a investigadora, graças a este projeto, o consórcio abordou o tema dos mercados locais de flexibilidade para apoio à rede de distribuição tendo em conta a perspetiva dos diferentes atores envolvidos, nomeadamente o operador da rede, plataformas de mercado de flexibilidade, agregadores e consumidores/produtores.
O EUniversal – Market Enabling Interface to Unlock Flexibility Solutions for Cost‐effective Management of Smarter Distribution Grids – arrancou em 2020 e teve o seu evento final em novembro de 2023, em Bruxelas. O projeto recebeu um financiamento de aproximadamente 10 milhões de euros do programa de investigação e inovação Horizonte 2020 da União Europeia.