Cuidar da Mente: porque é que a Saúde Mental deve ser uma prioridade

Mas afinal o que é a Saúde Mental?

Fala-se muito sobre saúde mental nos dias de hoje. É um tema amplamente discutido, mas muitas vezes sem uma compreensão clara do seu verdadeiro significado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe uma definição integradora e holística, definindo a saúde mental como um estado de bem-estar, onde somos livres de desenvolver as nossas capacidades pessoais, enfrentar as dificuldades da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir de maneira significativa para a nossa comunidade.

É importante destacar que a saúde mental vai muito além das perturbações mentais. Não se resume apenas à ausência de doença, envolve também a capacidade de viver de maneira equilibrada, enfrentando as adversidades com resiliência e mantendo um sentido de propósito. A saúde, e a saúde mental mais concretamente, são o resultado de diversas interações biológicas, psicológicas, sociais, económicas e culturais. Estes fatores podem combinar-se para proteger ou prejudicar a nossa saúde. Ao compreendermos melhor o que envolve a saúde mental, podemos adotar atitudes e comportamentos mais conscientes e eficazes para cuidar do nosso bem-estar, promovendo, assim, uma sociedade mais saudável e resiliente.

A Saúde Mental: moda ou prioridade pós-COVID?

Nos últimos anos, especialmente após a pandemia de COVID-19, a saúde mental tornou-se um tema de destaque em muitas conversas, quer em contexto pessoal quer profissional. Porém, surge uma questão pertinente: será que estamos apenas diante de uma moda ou tendência, ou uma maior atenção dada a este tema reflete efetivamente uma mudança significativa e necessária na forma como lidamos com o bem-estar emocional e psicológico?

Antes da pandemia, a saúde mental já era uma área de relevo, contudo ainda desvalorizada. Com a pandemia, infelizmente, muitas pessoas tiveram de lidar com o isolamento, o medo, a incerteza sobre o futuro. O impacto psicológico da pandemia foi profundo, afetando milhões de pessoas, dando destaque a questões essenciais sobre a importância do cuidado com a nossa saúde mental. O aumento da visibilidade da saúde mental pós-COVID foi impulsionado por uma necessidade genuína, alimentada pela sobrecarga emocional vivenciada por muitas pessoas. A pandemia funcionou como um catalisador para aumentar a consciencialização sobre o tema. O foco sobre a saúde mental deve ser refletido na criação de políticas públicas mais robustas, que apostem na prevenção e na implementação de estratégias de saúde mental que ajudem as pessoas e a sociedade a lidar com futuras crises, promovendo a resiliência individual e coletiva. Assim, para que a saúde mental se mantenha uma prioridade, devemos garantir que as discussões e intervenções sobre o tema se mantenham, evoluam e se integrem, de forma genuína, no nosso dia a dia.

O que mudou para as pessoas?

Face aos desafios que emergiram na pandemia, coloca-se então a questão das alterações que houve no que diz respeito ao significado de bem-estar por parte das pessoas. No pós-pandemia surgiu efetivamente uma maior preocupação por parte de todos em encontrar “o seu” equilíbrio. O stress, a ansiedade e o isolamento social levaram-nos a refletir sobre a necessidade em priorizarmos a sua saúde mental e em encontrarmos mecanismos que permitem a manutenção do nosso bem-estar.

De facto, em Portugal, temos assistido a uma maior procura dos serviços de psicologia e de psiquiatria e conceitos como o de stress ocupacional e de burnout já são amplamente conhecidos da população. A saúde mental deixou de ser um tabu, havendo uma maior recetividade da sociedade e das pessoas para assumir e discutir problemas do foro psicológico.

Ao nível da relação das pessoas com o seu trabalho, embora já não existam os constrangimentos impostos pela COVID-19, são reconhecidas as vantagens de regimes de trabalho mais flexíveis, como o trabalho híbrido ou remoto. O equilíbrio vida pessoal-profissional deixou de ser considerado um luxo, mas sim uma prioridade, havendo uma maior valorização de contextos de trabalho que promovem a flexibilidade e adaptação às especificidades e necessidades de cada pessoa. Assistimos, atualmente, a uma redefinição de prioridades, existindo aspetos que deixaram de ser negociáveis na escolha de um local de trabalho.

Devem as empresas adotar novos modos de trabalho?

Também ao nível organizacional, a COVID-19 criou uma série de constrangimentos ao normal funcionamento das organizações. No decorrer da pandemia, o mercado laboral teve de se adaptar muito rapidamente a novas formas de trabalhar. Um elevado número de trabalhadores adotou o trabalho híbrido ou remoto, o que anteriormente era uma exceção para a maioria das profissões; o horário de trabalho tornou-se mais flexível, devido ao facto de, quando a trabalhar remotamente, os trabalhadores estarem a realizar as suas tarefas no mesmo espaço que o resto da família; as tecnologias de informação e de comunicação tornaram-se ferramentas essenciais de trabalho; e, por fim, houve uma desburocratização e uma digitalização dos processos e operações.

Face a estas mudanças, coloca-se a questão se as instituições devem adotar estas novas formas de trabalhar a título permanente, nos casos, em que a atividade profissional o permite, ou se é viável regressar ao modo de trabalho pré-COVID. Em concordância com o referido anteriormente, parece-nos que a primeira opção é a mais viável. Os indivíduos passaram a valorizar este novo modo de trabalhar, nomeadamente a possibilidade de trabalhar a partir de qualquer local e com uma maior flexibilidade de horário e acolher esta mudança pode ser bastante competitivo para as organizações. Se as instituições valorizarem efetivamente o bem-estar dos seus trabalhadores e quiserem retê-los, devem ir ao encontro das suas necessidades e especificidades, dando-lhes mais autonomia na definição do seu local de trabalho.

Referências

[1] WHO (2022). Mental health fact sheets. Available here: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mental-health-strengthening-our-response

[2] Eurofound (2022), The rise in telework: Impact on working conditions and regulations, Publications Office of the European Union, Luxembourg. Available here: https://www.eurofound.europa.eu/en/publications/2022/rise-telework-impact-working-conditions-and-regulations

Por Susana Rodrigues e Rita Cardoso

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