Começar desde cedo
Há momentos especiais que acontecem quando uma criança observa pela primeira vez um arco-íris formado por um prisma, faz um pequeno robô mover-se, experimenta produzir energia, programa o seu primeiro algoritmo ou descobre como funcionam sensores e comunicações que usamos no dia a dia. São instantes em que a ciência deixa de ser algo abstrato e se torna real, palpável e, acima de tudo, fascinante. Levar a ciência às escolas e às mãos dos mais novos é mais do que uma missão, é uma paixão que cresce a cada interação e a cada olhar curioso.
O contacto precoce com a ciência tem um valor profundamente transformador. Não se trata apenas de estimular vocações futuras, mas de formar cidadãos mais críticos, confiantes e preparados, para enfrentar um mundo em constante mudança. Num tempo cada vez mais mediado pela tecnologia, pelas competências digitais e por quantidades avassaladoras de dados, a literacia científica torna-se uma competência ainda mais fundamental para a cidadania. Acreditamos que compreender os princípios da ciência, reconhecer evidências e tomar decisões informadas não é apenas importante, é mesmo indispensável para construir uma sociedade mais crítica, mais segura e mais resiliente.
A ciência, enquanto bem público, deve estar ao alcance de todos como ferramenta de compreensão do mundo. No entanto, continuam a existir barreiras culturais, institucionais e comunicacionais que limitam a aproximação entre ciência e sociedade. Por isso, a ligação à ciência deve começar bem cedo, aproveitando o potencial que a infância tem de encantamento, curiosidade e descoberta. Criar oportunidades reais para que crianças e jovens possam experimentar, questionar e tocar na ciência é abrir caminho a uma geração mais preparada, mais consciente e mais capaz.
O nosso papel como embaixadores da ciência
Cabe-nos a nós, enquanto comunidade científica, construir pontes sólidas entre o conhecimento e a sociedade. Muitos dos nossos investigadores assumem esse papel com entusiasmo e generosidade, levando a ciência aos mais novos, muito para além do que lhes é exigido nas suas funções formais. Fazem-no por convicção, dedicando tempo, energia e criatividade, mesmo quando as agendas estão cheias e os recursos são limitados.
Não faltam exemplos de iniciativas dirigidas ao público mais jovem, com o objetivo de despertar o interesse pela ciência e promover a literacia científica desde cedo. Seja através de workshops, semanas de ocupação científica, visitas aos nossos laboratórios ou demonstrações em contexto escolar, estas atividades proporcionam experiências práticas e um contacto direto com a investigação. São momentos cuidadosamente preparados pelos nossos investigadores, que adaptam conteúdos exigentes, criam experiências envolventes e se entregam com genuíno empenho à missão de inspirar as gerações futuras. Dão um rosto humano à ciência, tornando-a mais próxima, mais acessível e acima de tudo, mais inspiradora.
Estas experiências têm mostrado que é possível fazer essa ligação de forma lúdica, inclusiva e, acima de tudo, com impacto. Quando falamos com crianças sobre luz, sobre cores ou sobre lasers, quando desafiamos os mais jovens a programar robôs, construir circuitos elétricos, ou até explorar tecnologias agrícolas em estufas inteligentes, estamos a criar ambientes onde a curiosidade é valorizada, onde errar não é um problema, e onde fazer perguntas é sinal de inteligência. Nessas experiências práticas, os estudantes não só descobrem o fascínio da ciência e da tecnologia, como desenvolvem competências essenciais para o futuro: escuta ativa, resiliência, colaboração e pensamento crítico.
É tempo de consolidar este esforço genuíno através de uma abordagem mais estruturada e estratégica por parte da instituição no seu envolvimento com a sociedade, com um foco especial nos mais jovens e nas suas famílias. Recentemente desafiadas a integrar um grupo de trabalho dedicado a pensar e organizar melhor esta dimensão, acreditamos que juntos podemos ir mais longe: fazer mais e melhor, de forma contínua, articulada e com uma visão de futuro que transforme este esforço num verdadeiro compromisso duradouro.
Uma missão que é de todos
No fundo, a ciência é apenas o ponto de partida. Mostramos aos jovens, mesmo aos mais pequeninos, que podem experimentar, errar, tentar de novo — e que aprender pode ser uma aventura. Damos o exemplo de que a ciência é feita por pessoas, para pessoas, e que qualquer um pode ser cientista, se assim o desejar.
Se conseguirmos acender essa faísca, talvez estejamos já a transformar o futuro, semeando sonhos, um sorriso de cada vez. Esta é uma missão coletiva, uma missão de todos nós, e parte de um propósito maior: inspirar as gerações futuras e contribuir para uma sociedade mais crítica, mais consciente e mais capaz de construir o seu próprio futuro.
Por Diana Guimarães e Sara Brandão