7 oradores, o 1.º lugar de um prémio e um poster – assim foi o Encontro Ciência 2025 para o INESC TEC

De 9 a 11 de julho, a comunidade científica portuguesa esteve em peso em Carcavelos, mais concretamente na Nova SBE, para o Encontro Ciência 2025. O INESC TEC, como habitual, marcou presença e contou com um total de sete oradores que representaram o Instituto em diferentes sessões, o 1º lugar do prémio Arquivo.pt e a apresentação de um poster científico.

Foram mais de 2 mil participantes que assistiram a mais de 50 sessões paralelas e cinco plenárias e que tiveram ainda a oportunidade de visitar a mostra de ciência e tecnologia do evento, tudo isto ao longo de três dias.

Vamos à cronologia dos acontecimentos?

9 de julho – moldar o futuro através da ciência com impacto: as parcerias internacionais e uma nomeação

“Parcerias da FCT com Universidades Americanas: Moldar o Futuro através da Ciência com Impacto” foi assim o nome da sessão paralela que contou com a presença e organização das três parcerias internacionais existentes entre a FCT e universidades norte-americanas. O INESC TEC, que acolhe em Portugal o programa UT Austin Portugal, marcou presença nesta sessão que contou com Fernando Alexandre, Ministro da Educação, Ciência e Inovação.

O momento foi uma oportunidade para apresentação da próxima fase das parcerias internacionais, aproveitando para promover uma reflexão sobre o legado que construíram no país e no mundo ao longo das últimas quase duas décadas.

Para além do Ministro Fernando Alexandre e de José Manuel Mendonça, intervieram ainda nesta sessão: João Magalhães, Codiretor nacional de CMU Portugal, a quem coube a abertura e primeira intervenção, e John Hansman, Codiretor norte-americano para o MIT Portugal, que moderou um painel de discussão composto por Paulo Dimas (CMU Portugal), Hélder Silva (MIT Portugal) e John Ekerdt (UT Austin Portugal).

10 de julho – um jantar debate e uma apresentação do Presidente do INESC TEC

Quatro apresentações num jantar de trabalho restrito que reuniu, entre outros, elementos do MECI, Comissão Europeia, FCT, CCDR’s. Antes do jantar, houve espaço para intervenções do Ministro Fernando Alexandre e do Diretor-Geral da Direção-Geral da Investigação e Inovação (DG RTD) da Comissão Europeia, Marc Lemaître, que abriram o evento, e quatro pitches – dois de instituições de I&D e dois de empresas. O INESC TEC, representado por João Claro, presidente do Instituto, foi, a par do Instituto de Biologia Molecular da Gulbenkian, um dos oradores que representou o sistema científico português.

11 de julho – três sessões de manhã e cinco oradores do INESC TEC

A manhã do dia 11 de julho foi bem preenchida para os investigadores do INESC TEC que marcaram presença no Encontro Ciência 2025. Foram três as sessões paralelas que contaram com a presença de cinco oradores. Vamos por partes.

“Saúde de precisão: o papel da tecnologia na medicina personalizada” – esta sessão, organizada pelo INESC TEC, encheu o anfiteatro Fundação Amélia de Mello.

“A saúde de precisão representa uma mudança de paradigma na medicina moderna, centrando-se na previsão, prevenção e cuidados personalizados adaptados à variabilidade individual dos genes, do ambiente e do estilo de vida. No centro desta transformação está o rápido avanço da tecnologia, que permite a recolha, integração e análise de vastos conjuntos de dados para informar a tomada de decisões clínicas”, explica Artur Rocha, investigador do INESC TEC onde coordena a área de Computação Centrada no Humano e Ciência da Informação, que moderou este debate.

Debate esse que contou com Hugo Paredes, também ele investigador do INESC TEC e coordenador da área de Computação Centrada no Humano e Ciência da Informação, Miguel Coimbra, investigador do INESC TEC na área de Engenharia Biomédica, Henrique Barros, presidente do ISPUP e Professor Catedrático na FMUP e Ivone Silva, médica e diretora de serviço na ULS de Santo António e Professora Catedrática convidada do ICBAS.

Durante uma hora e meia discutiu-se o potencial de tecnologias emergentes, o acesso a determinados tratamentos, eficiência e eficácia dos sistemas de saúde, deram-se exemplos de reais progressos que estão a ser feitos a nível nacional e internacional e, acima de tudo, cumpriu-se o objetivo de estimular o diálogo entre os investigadores e os profissionais de saúde, promovendo literacia científica e aproximando a ciência da sociedade.

Miguel Coimbra destacou o facto de continuarem a surgir muitos desafios tecnológicos, mas de existir muita tecnologia que já está madura e em funcionamento em determinados hospitais, destacando exemplos como o IPO-Porto ou a Unidade Local de Saúde Gaia/Espinho. Ivone Silva reforçou a importância de o foco da tecnologia na saúde ter de responder as três grandes premissas – prevenção, predição e personalização. Henrique Barros explicou que a segmentação de públicos por doença tem ajudado a evoluir muitas áreas e que, por exemplo, no cancro ainda estamos como há 100 anos estávamos nas doenças infeto contagiosas. “Os que daqui a 30 anos ouvirem falar em cancro já vão ouvir terminologias diferentes. O foco tem de ser aumentar a nossa qualidade de vida e conseguirmos pagá-la”, reforçou o presidente do ISPUP.

Para Hugo Paredes é fundamental que as tecnologias sejam ensinadas logo nas universidades, de modo a aumentar as capacidades dos profissionais e não com vista a substituí-los. Sobre essa hipotética substituição questionada pela audiência, Ivone Silva foi perentória “os robôs não vão substituir os médicos, mas nós médicos vamos ter mais tempo para sermos humanos”.

Sobre as prioridades para os próximos cinco anos, houve muita concordância entre os oradores em relação ao que deve ser feito. A médica da ULS de Santo António destacou a necessidade de existirem estruturas nacionais interoperáveis e comuns de acesso à saúde, que, neste momento, existem apenas na rede pública, mas que devem ser extensíveis ao privado. Hugo Paredes voltou a reforçar que a educação “é investimento no futuro e na capacitação das pessoas. Tudo o resto pode nascer a partir daí, mas é importante termos as pessoas a trabalhar todas para o mesmo, o que só é possível se não virem as tecnologias como uma ameaça”. Miguel Coimbra destacou a necessidade de certificação de tecnologias para que a competição não seja feita apenas entre quem tem ou não capacidade económica.

A sessão fechou com Artur Rocha a destacar palavras como “interdisciplinaridade, ética, literacia” como fatores fundamentais para atingirmos uma saúde de precisão”.

Na sala em frente, discursava Filipe Neves dos Santos, investigador do INESC TEC na área da robótica para agricultura, onde lidera uma das infraestruturas do INESC TEC, o Laboratório de Robótica e IoT para Agricultura e Floresta de Precisão Inteligente (TRIBE Lab) do Instituto. O tema era “IA como agente transformador do setor agroalimentar” e, para além do INESC TEC, também o INESC ID, a UTAD, a Sumol+Compal e a MC/Sonae participaram como oradores.

Filipe Neves dos Santos explicou a evolução que o INESC TEC tem tido na área da robótica aplicada à agricultura, referindo, por isso, uma série de projetos passados e em curso, mas reforçou, sobretudo, a importância de tornar a tecnologia acessível aos agricultores. Um exemplo concreto foi quando o investigador do Instituto explicou que muitos agricultores têm um iPhone e não sistemas operativos Android, o que “obrigou” a que houvesse uma adaptação da tecnologia que estava a ser feita que era, sobretudo, para Android. Falou deste exemplo a propósito de um projeto que desenvolveram para o tipo de vindima que não pode ser feita mecanicamente. “Não podíamos usar robôs nestes casos, então desenvolvemos um conceito que, ligando um smartphone a uma tesoura e a um balde, o agricultor consegue continuar a garantir uma vindima manual, mas de forma mais eficaz e eficiente, até porque tem acesso a mapas de produtividade da vinha”, contou Filipe à audiência.

Para o futuro, Filipe Neves dos Santos explicou que, os investigadores do INESC TEC que trabalham nesta área, querem, entre outros, desenvolver robôs e outro tipo de tecnologias, como as ligadas à IoT, que se adaptem à natureza.

Uns metros mais ao fundo do corredor, era o presidente do INESC TEC, João Claro, quem ocupava o palanque na sessão “Laboratórios Associados e o futuro do conhecimento: impacto, liberdade e responsabilidade”. Duas questões principais foram colocadas pelo moderador do debate: “qual o papel distintivo dos LA’s e quais as implicações?” e “no contexto político atual de desinformação e politização da ciência, qual o papel dos laboratórios associados?”.

João Claro destacou, na primeira, os contributos para as políticas públicas como elemento distintivo da prática do INESC TEC, dando como exemplo a atividade do Gabinete de Prospetiva e Políticas Públicas; e, na segunda, os princípios que norteiam a atividade do Instituto desde sempre, nomeadamente, o compromisso com a comunicação, a postura de integridade e independência, que ilustrou com o trabalho que se desenvolveu após o recente apagão de 28 de abril de 2025.

11 de julho – uma tarde com mais uma sessão, mas também com o primeiro lugar de um prémio

Para o INESC TEC, a intervenção em sessões terminou na tarde de 11 de julho, mesmo antes do encerramento do evento. “O papel da investigação na resiliência, autonomia estratégica e defesa na EU”, foi o nome da sessão organizada pelo INESC-ID e que reuniu os vários atores do ecossistema INESC – INESC Coimbra, INESC ID, INESC INOV, INESC MN e INESC TEC.

João Claro, presidente do INESC TEC, abriu esta sessão destacando as conclusões da Summer Meeting que reuniu todo o ecossistema INESC em Bruxelas durante o mês de julho. O presidente do INESC TEC avançou, aliás, em primeira mão durante esta sessão, a notícia de que o relatório com as principais conclusões do evento tinha acabado de ficar disponível.  Seis eixos temáticos estruturaram o debate: alinhamento dos programas tecnológicos de defesa europeus; papel das organizações de I&D na inovação de dupla utilização; antecipação estratégica através da prospetiva; capacitação da resiliência europeia via tecnologias de dupla utilização; e os fundamentos estratégicos do 10º Programa-Quadro. Foram destacados avanços já consolidados, prioridades emergentes – como a prontidão organizacional, processos integrados de dupla utilização e mecanismos de financiamento mais flexíveis – e desafios persistentes, como a fragmentação regulatória e dos mercados, e a necessidade de orquestração estratégica. As conclusões apontam para a importância de uma ação coletiva sustentada, de maior coerência política e de parcerias intersetoriais para reforçar a soberania tecnológica da Europa.

Na mesma sessão, mas a fechar, foi a vez da intervenção de Nuno Cruz, investigador do INESC TEC onde coordena a área de robótica e sistemas autónomos. Subordinado ao tema principal “da investigação à autonomia estratégica da EU”, Nuno Cruz, focou-se na área da robótica marinha, destacando os novos desafios que a questão do dual use acarreta, a estratégia e capacidades do INESC TEC nesta área – desde as infraestruturas de que dispõe, ao portfólio de competências e tecnologia -, passando depois por exemplos concretos de projetos que respondem a estes desafios, como o SEAGUARD ou o NAUTILUS.

De acordo com o investigador do INESC TEC, a área da robótica tem um papel de liderança na autonomia estratégica da europa. “A Europa tem as ferramentas, as competências e as pessoas. Agora, precisamos de coerência e de um compromisso ousado para escalar as tecnologias estratégicas”, rematou Nuno Cruz.

Terminadas as sessões deste Encontro Ciência 2025, foi a vez da sessão de encerramento, que começou logo com a atribuição dos Prémios Arquivo.pt, que galardoaram o INESC TEC com o 1º lugar. Rúben Almeida, investigador do INESC TEC, que foi orientado pelos investigadores Sérgio Nunes e Ricardo Campos, que trabalham nas áreas de Computação Centrada no Humano e Ciência da Informação e Inteligência Artificial e Apoio à Decisão, respetivamente, criaram a plataforma “A Minha Região – O teu portal autárquico” e com este trabalho venceram o primeiro lugar do Prémio. Esta ferramenta de cidadania digital permite aos cidadãos acederem a dados eleitorais autárquicos desde 1976 até à atualidade. Os três investigadores foram chamados ao palco principal do Encontro Ciência 2025, onde receberam o prémio pelas mãos do Ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, e da Presidente do Conselho Diretivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Madalena Alves.

A mostra de Ciência e Tecnologia do Evento

Embora este ano o INESC TEC não tenha participado com um stand físico, não deixou de estar representado na Mostra de Ciência e Tecnologia do Encontro Ciência 2025. Desta vez, com um poster digital, da autoria do investigador do INESC TEC Carlos Rodrigues, denominado “Digital Twin e Validação da Modelação e Simulação Musculoesquelética com Medição In-Vivo das Cargas Internas Articulares por Implantes Instrumentados”. Os resultados obtidos com este trabalho, e apresentados neste poster, apontam para a importância das ferramentas digital twin demodelação e simulação musculoesquelética com aplicação na precisão do planeamento, intervenção e reabilitação pós-operatória da artroplastia total da anca e do joelho e para a necessidade de personalização dos modelos com base na informação dos sujeitos específicos a intervir, bem como do maior desenvolvimento modelos markerless para maior comodidade sem perda de precisão. Por último, os resultados das medições diretas in-vivo das cargas articulares comprovam-se como um método de elevado valor acrescentado na validação dos modelos MSK-MS bem como na melhoria da reabilitação pós-operatória na artroplastia da anca e joelho.

 

Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC, à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Universidade da Beira Interior (UBI) e Universidade Aberta.

 

 

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