O clima constitui um fator de incerteza e risco para os diferentes atores deste setor estratégico para a economia nacional. Agora, a imprevisibilidade pode ser mitigada graças aos resultados do Wine4Cast, assentes na tecnologia e inovação – enquanto promove a transformação rumo à sustentabilidade e resiliência.
O Wine4Cast, projeto que visa o desenvolvimento de um novo sistema de previsão da produtividade vitivinícola que considerasse a dimensão espácio temporal da produção e a usabilidade multi-ator, foi o vencedor do Prémio + Sustentabilidade, promovido pelo Instituto dos Vinhos Douro e Porto (IVDP). A distinção, destinada a projetos “que se destacam pela promoção da sustentabilidade ambiental, económica e social na Região Demarcada do Douro” é visto por Mário Cunha, investigador do INESC TEC, como um “reconhecimento importante” no âmbito do trabalho desenvolvido “em prol de uma vitivinicultura mais sustentável, inovadora e resiliente”.
Com três anos volvidos desde o início do projeto, o impacto dos resultados alcançados é claro e estende-se a diferentes planos. Num setor altamente suscetível ao clima – o que provoca fortes oscilações interanuais – o Wine4Cast contribuiu, por exemplo, para o desenvolvimento de ferramentas preditivas, capazes de reduzir a incerteza associada à produtividade. Desta forma, os produtores conseguem promover uma “gestão mais inteligente da vinha e da adega, mas, também, de outros recursos e fatores de produção” com impactos ambientais, entre outros.
Do ponto de vista económico, sistemas de previsão como os alcançados permitem às “pequenas e médias empresas instrumentos de apoio ao planeamento e à decisão (por exemplo, na gestão de stocks)”. A “previsibilidade do risco, resiliência e ganhos de competitividade” emergem como algumas das principais vantagens resultantes da adoção do sistema, sobretudo num setor marcado pela “atomização da oferta e concentração da procura”, aponta Mário Cunha. É também possível destacar impactos no plano social, com o investigador do INESC TEC a sublinhar “o reforço da cooperação entre produtores, empresas tecnológicas, entidades científicas e reguladoras, fomentando a partilha de conhecimento e a inovação colaborativa”.
Numa análise cumulativa, todo o trabalho desenvolvido, tendo em vista a previsão da produtividade, permite também garantir o cumprimento dos “limites máximos definidos para a denominação de origem e prevenir a perda desse direito caso sejam ultrapassados” – elementos importantes para as diferentes regiões que têm nestes “rótulos” uma certificação da excelência dos seus produtos e uma segurança económica incalculável.
No caso específico da Região Demarcada do Douro, Mario Cunha explica que o Wine4Cast “tem contribuído decisivamente para a resiliência e modernização tecnológica do setor, impulsionando a transição para uma vitivinicultura mais inteligente e alinhada com as metas regionais e europeias de sustentabilidade”. É precisamente nesta vertente que situa o reconhecimento vindo do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), um prémio que vem dar enfase à “relevância científica e social do projeto, validando a sua contribuição para o futuro sustentável da Região Demarcada do Douro e que fomentará a utilização futura dos resultados do projeto por todos os atores do setor”.
Com diversas publicações técnico-científicas, criação de datasets sobre fenotipagem da vinha, desenvolvimento de sensores óticos para análise de fertilidade gomos dormentes – para suportar ‘previsões ultraprecoces’ – e tecnologias que integram visão computacional e AI para monitorizar os componentes da produtividade da vinha – mesmo em situações de elevada oclusão, algumas destas tecnologias disruptivas foram objeto de registo de propriedade industrial – o Wine4Cast veio reforçar o poderoso papel da investigação e tecnologia quando aplicadas ao setor – como atesta o registo de propriedade industrial para algumas das tecnologias desenvolvidas –, assim como o impacto da transferência de conhecimento.
Para o investigador do INESC TEC, o projeto permitiu “elevar substancialmente o patamar tecnológico e metodológico da previsão da produtividade vitivinícola, posicionando Portugal como referência internacional” nesta área. O papel do INESC TEC no projeto, complementa Mário Cunha, está alinhado com a missão do instituto, de “integrar ciência, tecnologia e inovação, promovendo pontes entre academia, empresas e entidades públicas”. “A inovação neste domínio reforça a competitividade e a sustentabilidade do setor, impulsionando Portugal como líder em tecnologias digitais para a previsão da produtividade em viticultura.”
O futuro – que num plano climático se antecipa de agravamento das condições de instabilidade, sobretudo no Mediterrâneo – passará por “consolidar e escalar” as ferramentas desenvolvidas, “elevar o seu nível de maturidade tecnológica”, “alargar a aplicação a outras culturas agrícolas” e “definir modelos de negócio que viabilizem a sua exploração sustentável”. Existe ainda o objetivo de “expandir o impacto do projeto a nível internacional, reforçando a posição de liderança do INESC TEC na inovação em viticultura digital” através das suas diferentes estruturas de investigação e inovação a trabalhar diretamente com o setor.
O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).




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