O projeto be@t está a dar novo fio ao setor têxtil – com o INESC TEC a tecer soluções inovadoras  

Evento no âmbito do projeto be@t visou a apresentação da Unidade Piloto de Triagem de Têxteis, uma infraestrutura que conta com soluções desenvolvidas pelo INESC TEC capaz de processar cerca de 50 toneladas de resíduos por ano. 

“Como se cose a circularidade dos têxteis?” A pergunta é ousada e serviu de mote para um seminário, promovido pela LIPOR, em colaboração com o CITEVE e parceiros do projeto be@t – entre os quais, o INESC TEC. Fomentar a colaboração próxima entre os diferentes atores, através da partilha de experiências e boas práticas, promover a transição para modelos circulares e de bioeconomia no setor têxtil e vestuário foram dois dos objetivos do evento, que destacou a Unidade Piloto de Triagem de Têxteis da LIPOR.  

Trata-se de uma “infraestrutura pioneira a nível nacional”, com um importante cunho do INESC TEC: um “sistema de visão computacional complementar capaz de classificar fibras, contribuindo para uma maior precisão do processo de triagem”, descreve Luís Rocha, investigador na instituição e um dos oradores do seminário. Mas, afinal, o que torna esta infraestrutura tão inovadora?  

Dedicada à triagem de resíduos têxteis pós consumo, tendo por base a composição das fibras, a unidade permite o “aproveitamento e valorização dos têxteis”. É também capaz de processar cerca de 50 toneladas de resíduos por ano, fazendo uso de tecnologia de ponta para separar materiais por composição e cor, possibilitando, por isso, uma gestão mais eficiente e sustentável dos resíduos. 

Um setor a precisar de fechar o ciclo  

De acordo com dados do Parlamento Europeu, o consumo médio de têxteis por pessoa fixou-se em 19kg em 2022, ao mesmo tempo que cada indivíduo é responsável por 12 kg de roupa deitada ao lixo. A circularidade têxtil está, por isso, no centro do debate quando em discussão estão políticas climáticas e de sustentabilidade. Para Luís Rocha, há desafios em três âmbitos principais: técnicos, económicos e regulatórios.  

No primeiro caso, a “heterogeneidade dos resíduos têxteis e o seu grande volume” representam um entrave à triagem precisa, sobretudo quando as “fibras estão misturadas”. “A tecnologia de triagem automática, embora em desenvolvimento, ainda enfrenta dificuldades na garantia de escala e na qualidade do produto reciclado, particularmente quando se trata de fibras complexas”, descreve o investigador.  

Já no plano económico, o “alto custo das tecnologias de reciclagem” e a “falta de incentivos de mercado” deixaram os produtos reciclados numa posição de desvantagem face aos produtos convencionais. Finalmente, a “ausência de normas harmonizadas a nível europeu” sobre “conteúdo reciclado, rastreabilidade e responsabilidade alargada do produtor limita a escala das soluções de reciclagem”.    

De olhos postos na “adoção célere de cadeias de valor sustentáveis”, o projeto be@t está estruturado em quatro pilares principais que visam também dar resposta aos desafios existentes. No que diz respeito aos Biomateriais, o objetivo passa por implementar e incentivar a utilização de “novos processos de artigos têxteis funcionais e a partir de matérias-primas de base biológica, com origem no setor florestal e no setor agroalimentar”. 

A Circularidade também está presente, com foco na reutilização de fibras pós-consumo – as quais são reintroduzidas no processo produtivo através de meios otimizados de reciclagem. Este pilar do projeto pretende, também, “impulsionar a utilização de resíduos de outros setores, como é o caso de ingredientes ou matérias-primas para o desenvolvimento de novos processos de funcionalização têxtil”. Comum a todo o projeto, a questão da Sustentabilidade está presente nos esforços que visam capacitar e impulsionar o setor para a linha da frente em questões como o zero desperdício, a descarbonização, economia circular e transparência – todas premissas basilares de uma bioeconomia sustentável. 

Finalmente, Comunicar e Sensibilizar os consumidores e stakeholders do setor – como forma de estimular atividades de reparação, reutilização e valorização da marca “Responsible Textiles From Portugal” no mercado internacional.  

Entrelaçar a tecnologia e a sustentabilidade 

Enquanto parceiro do projeto, o INESC TEC já deixou o seu selo em várias soluções tecnológicas – sobretudo na área da reciclagem de resíduos têxteis – com o objetivo de promover a circularidade.   

O sistema de classificação de fibras com recurso a uma câmara hiperespectral FX17 da Specim combinada com redes neuronais, é um dos melhores exemplos deste envolvimento. A tecnologia, explica o investigador, “permite a classificação dos resíduos têxteis com base na sua composição de fibras, superando as limitações dos sistemas tradicionais de triagem ótica, que frequentemente não conseguem distinguir corretamente entre fibras celulósicas – como a viscose e o liocel – e as fibras sintéticas”. A solução desenvolvida pelo INESC TEC, e incorporada na Unidade Piloto de Triagem de Têxteis da LIPOR, “não só permite uma identificação detalhada de fibras naturais, sintéticas e celulósicas, como também evolui para lidar com amostras compostas, o que torna o sistema mais robusto e eficiente”. 

Outra novidade, tem a ver com um sistema automático de remoção de acessórios, que conjuga robótica, máquina de corte planar e visão computacional. A capacidade, que a solução apresenta, de preservar a integridade do material têxtil, mesmo após a eliminação de elementos como botões, fechos de correr ou etiquetas é o que distingue das demais soluções presentes no mercado, “assentes em processos térmicos de alta temperatura, e /ou processos de trituração, que comprometem a qualidade do material reciclado e/ou limita a sua reutilização”.  

“Estas inovações tecnológicas representam uma grande diferenciação face às soluções existentes no mercado, especialmente pela sua capacidade de preservar a integridade do material têxtil e permitir processos de upcycling”, explica Luís Rocha. Com um envolvimento significativo no projeto e no desenho e aplicação das soluções, o INESC TEC desempenha um “papel estratégico e tecnológico fundamental” no projeto be@t, ao mesmo tempo que explora “tecnologias core e disruptivas como a robótica e a Inteligência Artificial”. 

A participação do INESC TEC no projeto aconteceu também ao nível do desenvolvimento técnico e conceptual da plataforma be@t, com a definição de uma arquitetura e desenho de uma solução para a recolha e interoperabilidade de dados ao longo da cadeia de valor. “O contributo centrou-se na conceção de uma arquitetura que assegure a soberania e rastreabilidade dos dados partilhados entre as diferentes entidades da cadeia de valor, promovendo a confiança e transparência no fluxo de informação”, explica Ana Carolina Chaves, também investigadora da instituição. A arquitetura, aprofunda a investigadora, contém múltiplos componentes digitais, incluindo ERPs, conectores e tecnologias Blockchain, a fim de garantir a interoperabilidade entre sistemas heterogêneos.  

Com estes contributos, o INESC TEC reforça o seu papel ativo na procura de respostas para desafios ambientais complexos e globais significativos. Neste âmbito, as soluções apresentadas estão em linha com a necessidade de “recolha seletiva de têxteis e a proibição de envio de resíduos têxteis para aterros ou incineração” – em linha com a legislação europeia. 

Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC. 

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