Com uma forte aposta na componente digital, visando o planeamento e a logística, o projeto pretende distinguir-se dos demais no apoio aos produtores nas diferentes fases, como colheita, transporte e conservação da maçã.
A existência do projeto CIDERWISE é a prova de que a partilha de ideias, alimentadas por diferentes perspetivas, pode dar frutos – que, no âmbito deste projeto, seriam maçãs. Foi a propósito de uma apresentação em Arruada dos Vinhos, precisamente sobre o futuro da fileira da maçã, que Reinaldo Gomes, investigador do INESC TEC, teve oportunidade de ouvir vários produtores sobre o tópico. Presente estava também Catarina Marques Gomes, investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que “rapidamente identificou o enorme potencial da valorização da maçã descartada”, recorda o investigador.
Dada a fração significativa da produção nacional deste fruto que é atualmente desperdiçada ou subaproveitada, estava dado o mote para o CIDERWISE.
Com o objetivo de “encontrar soluções tecnológicas e organizacionais que transformem o desperdício de maçã num recurso com valor económico, ambiental e social”, o projeto pretende distinguir-se de outras abordagens por considerar a “integração com modelos digitais de planeamento e logística”. No que é que isto se traduz? Na otimização da “recolha, transporte e armazenamento da maçã descartada”, já que prevê articular a “valorização tecnológica com ferramentas de apoio à decisão que tornem a cadeia de aproveitamento mais eficiente e sustentável”.
No caso da maçã, contextualiza Reinaldo Gomes, “há cada vez mais estudos dedicados ao aproveitamento dos resíduos de sidras, vinagres, compostos bioativos e ingredientes funcionais”. No entanto, há uma lacuna comum: o foco na componente tecnológica e laboratorial.
Através de uma “abordagem multidisciplinar e sistémica”, o CIDERWISE – um projeto que conta também com o envolvimento da investigadora Alice Vilela, da UTAD – pretende fazer diferente. Por exemplo, através de processos que visam a valorização da maçã descartada – como a produção de cidras e outros produtos fermentados de valor acrescentado. Os modelos de planeamento logístico e digitalização de fluxos – que permitirão otimizar a recolha e transporte da maçã – serão, juntamente as ferramentas de apoio à decisão dinâmicas, preciosas ajudas para os produtores na hora de “planear melhor as operações e reduzir perdas”.
“O estado de decomposição da maçã descartada”, nota Reinaldo Gomes, “tem um impacto determinante na qualidade final do produto fermentado. Assim, o planeamento rigoroso da colheita, transporte e conservação é essencial para garantir a qualidade e segurança do processo.” É precisamente por propor o desenvolvimento de uma “ferramenta digital dinâmica”, capaz de apoiar as decisões dos produtores e melhorar a gestão de todo o fluxo da maçã descartada, que o projeto se distingue, por apresentar uma abordagem “desde o pomar até à transformação”.

De forma cumulativa, é esperado que o projeto tenha um impacto científico, económico e ambiental. No topo da lista de repercussões geradas pelo CIDERWISE está, naturalmente, a redução do desperdício desta fruta, motivada pela criação de “novos canais de valorização”. Estes canais serão apoiados por um “sistema de apoio à decisão” que aumenta a eficiência e transparência da cadeia de valor e transporte. Simultaneamente, a criação de produtos “inovadores e sustentáveis”, como cidras e vinagres de elevada qualidade representará mais uma alternativa viável para os produtores escoarem os seus produtos.
Mas o investigador do INESC TEC não pretende ficar por aqui. Se é verdade que o CIDERWISE lhe permite “aplicar o know-how” que tem vindo a desenvolver no setor florestal e da bioeconomia à fileira da maçã, outro dos objetivos que estabelece é “demonstrar a transferibilidade das soluções desenvolvidas para outros setores do agroalimentar com desafios semelhantes”. Apoiado por “conhecimento científico e tecnológico” – através da promoção de publicações, formações e novas colaborações entre a academia e a indústria –, o projeto pretende, sobretudo, “reforçar a competitividade da fileira e contribuir para uma economia mais circular e sustentável”.
Enquanto parceiro do projeto, o INESC TEC terá um “papel central” na componente digital e de planeamento, “sendo responsável pelo desenvolvimento do sistema de apoio à decisão que permitirá aos produtores monitorizar em tempo real os volumes de maçã descartada, planear a colheita e otimizar o transporte e a entrega nos diferentes destinos de valorização”. Concretamente, detalha Reinaldo Gomes, será realizado trabalho de “modelação e otimização logística”, “desenvolvimento de algoritmos e ferramentais digitais”, assim como de “integração dos modelos digitais”. Ferramentas de “planeamento e otimização inteligente” que, assegura o investigador, “podem ser escaladas e adaptadas a novos contextos produtivos”.
O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC.

Notícias, atualidade, curiosidades e muito mais sobre o INESC TEC e a sua comunidade!