Rita Lopes
“Gostaria de nomear a Ana Rita Lopes pelos seguintes motivos: dada a sua participação no TTO Circle e qualidade do trabalho realizado, foi convidada para oradora na Pan European Conference da LESI-YMC a 7 de novembro (Lisboa), um evento mais dedicado às jovens promessas na área da transferência de tecnologia e que junta gestores e advogados na área da transferência de tecnologia. Além disso, a Rita tem vindo a assumir um papel importante na gestão do open source no INESC TEC, sendo um workshop que está a organizar com um perito internacional (13/11) apenas uma das várias iniciativas que tem vindo a levar a cabo. O seu papel na valorização do software PrediCo (em parceria com o CPES), assim como a energia que tem entregado ao INESCTEC.Ocean, são merecedores de grande reconhecimento por parte do SAL e do INESC TEC”.
– Daniel Vasconcelos, responsável pelo Serviço de Apoio ao Licenciamento (SAL)
A Rita participou, como oradora, na Pan European Conference da LESI-YMC, um evento dedicado à transferência de tecnologia; poderia falar-nos um pouco mais sobre essa experiência? Que aspetos positivos retira da sua participação, a nível profissional e pessoal?
A participação na Pan European Conference da LESI-YMC foi extremamente enriquecedora, tanto a nível profissional como pessoal. A LESI – Licensing Executives Society International é uma comunidade global de grande relevância no domínio da propriedade intelectual e da transferência de tecnologia, reunindo especialistas de múltiplos setores que trabalham diariamente com transações de PI, valorização e monetização de ativos, proteção da inovação, comercialização tecnológica, gestão de PI, licenciamento e litígios.
Foi um grande prazer integrar este evento, onde estiveram presentes representantes de organizações públicas e privadas, centros de investigação e empresas tecnológicas multinacionais. Tive também a oportunidade de ser a única representante portuguesa de um organismo de investigação (RTO), o que reforçou a importância de levar a perspetiva do INESC TEC. Estar integrada nesta rede e participar ativamente no debate contribuiu para fortalecer relações, ampliar contactos e promover a troca de experiências que são essenciais ao ecossistema de inovação.
A conferência abordou temas particularmente relevantes e atuais. Destacaram-se, por exemplo, os desafios que a inteligência artificial coloca aos direitos de propriedade intelectual:
- Quem é o titular dos direitos quando a criação envolve IA?
- Como se remunera ou protege um output gerado de forma autónoma?
- Qual é o limiar entre autoria humana e contributo algorítmico?
- O que acontecerá num futuro moldado pelo quantum computing?
Discutiram-se também questões críticas sobre a proteção, gestão e valorização de dados, incluindo a complementaridade entre o GDPR e o Data Act, estratégias para catalogar e proteger trade secrets, clarificar titularidades, definir governança de dados desde o início dos projetos, e compreender como as grandes instituições e empresas estão a navegar estes desafios – que são claramente transversais a todos os setores.
Foi igualmente relevante conhecer as diferenças entre países no que toca à gestão das invenções de colaboradores (employee inventions) e refletir sobre perguntas chave, tais como:
- Como equilibrar a necessidade de atrair investidores (que muitas vezes exigem termos específicos de titularidade) com a posição das universidades e entidades públicas relativamente aos direitos de PI nas spin-offs?
- Como proteger a PI sem comprometer a liberdade académica de publicar, e vice-versa?
- Como lidar com PI resultante de investigação financiada por fundos públicos, garantindo ao mesmo tempo proteção e acesso?
Entre as principais take-home messages, destaco:
- A necessidade de due diligence rigorosa para compreender compromissos prévios associados à PI usada em múltiplos projetos;
- O facto de decisões relacionadas com open source deverem ser estratégicas e não meramente procedimentais, escolhendo a licença e o modelo de disseminação que maximizem impacto e protejam a instituição;
Participar nesta conferência permitiu-me não só aprofundar conhecimentos técnicos e acompanhar tendências internacionais, mas também refletir sobre o papel que as instituições como o INESC TEC devem desempenhar num ecossistema onde as soluções são necessariamente colaborativas, envolvendo múltiplos intervenientes e exigindo abordagens interinstitucionais. Do ponto de vista pessoal, foi igualmente motivador sentir a relevância do nosso trabalho reconhecida numa comunidade internacional tão qualificada e dinâmica.
É também referido o seu envolvimento na gestão do open source do INESC TEC; que atividades tem vindo a desempenhar nesse âmbito? E, para além do workshop, que ações estão previstas para o futuro?
Sim, tenho estado envolvida na iniciativa de disseminação, gestão e valorização do software open source do INESC TEC, contribuindo para a definição de diretrizes institucionais (guidelines) que permitam uma decisão informada e estratégica sobre quando e como disponibilizar código em open source; esta iniciativa é um trabalho de uma equipa multidisciplinar que envolve a direção do INESC TEC, o SAL, o SAAS, e o CPES. O objetivo é maximizar a disseminação científica e tecnológica, assegurando simultaneamente a proteção dos ativos institucionais.
Acredito que o investimento público em investigação deve retornar à sociedade não apenas sob a forma de publicações, mas também através de impacto económico, social e tecnológico. Neste contexto, é igualmente importante dar visibilidade ao software open source produzido pelo INESC TEC, promovendo-o como parte integrante da sua oferta científica e tecnológica. A médio prazo, queremos tornar o open source uma montra das capacidades da instituição, acelerando a transferência de conhecimento para a indústria e para a comunidade.
Por isso, são fundamentais ações de capacitação interna. O open source envolve várias dimensões – jurídicas, técnicas e estratégicas – e o empoderamento dos nossos investigadores depende de uma compreensão sólida destas camadas. O workshop Unlocking Research Value: Valorizing Intellectual Property Rights, from patents to open source, in Software Transfer, com o contributo do especialista Malcolm Bain, é um passo nesse caminho. Nele abordámos desde aspetos jurídicos e estratégicos até à análise de casos práticos de projetos open source do INESC TEC, nas áreas da saúde (Moodbuster), energia (Predico) e robótica (RobotAir), apresentados pelos respetivos investigadores – nomeadamente, Artur Rocha, Ricardo Andrade e Rafael Arrais.
Para o futuro, estão previstas ações ao nível dos centros de investigação, promovendo sessões de esclarecimento, explicação das guidelines e levantamento de necessidades específicas. O objetivo é construir uma abordagem institucional coerente e de impacto ao open source, combinando formação, apoio especializado e orientação estratégica.
Uma gestão eficaz do open source exige decisões informadas, diretrizes institucionais claras e competências especializadas, assegurando uma estratégia sólida e racional orientada para o impacto.
A Rita dedica, também, algum tempo a outras iniciativas, em parceria com outras estruturas do INESC TEC (como o CPES ou o INESCTEC.Ocean); como consegue encontrar o equilíbrio nesta “multiplicação” de papéis, e que desafios tem encontrado?
Encontrar equilíbrio entre diferentes iniciativas e equipas tem sido, naturalmente, um desafio (talvez o maior), mas também uma oportunidade, única, de crescimento. O principal desafio é, garantir o foco: perceber o que é prioritário em cada momento e em cada contexto, sem perder a visão estratégica do que está a ser construído. É um exercício constante de gestão de prioridades, de saber quando “estar no detalhe” e quando é essencial “elevar a perspetiva” para antecipar necessidades futuras e compreender de que forma as decisões de hoje influenciam o caminho de amanhã.
Trabalhar em várias equipas exige sobretudo boa comunicação. Quanto maior a multiplicidade de papéis, maior a necessidade de garantir alinhamento, presença e transparência: perceber claramente aquilo a que consigo dar resposta, reconhecer o que não consigo fazer sozinha e, sobretudo, identificar colegas-chave com quem posso estabelecer pontes para ultrapassar esses limites. Este trabalho colaborativo é essencial para que as equipas evoluam de forma coesa e eficiente.
Do que mais gosta no seu trabalho?
O que mais gosto no meu trabalho é a possibilidade de valorizar o conhecimento de formas muito diversas. Mesmo partindo de uma base comum, cada tecnologia, cada contexto e cada equipa trazem novas perspetivas – nada é automático. Há uma forte componente de interação e comunicação, tanto com investigadores como com parceiros externos, e é nesse diálogo que vamos descobrindo a melhor estratégia de proteção, gestão e valorização para cada ativo de PI.
Gosto particularmente de contar a história de uma tecnologia, desde a sua criação até à sua integração ou implementação no mundo real. Ser, de certa forma, uma das “guardiãs” destes ativos é uma responsabilidade que valorizo muito.
Motiva-me pensar no “porquê” e no “como” de cada desenvolvimento: onde encaixa, que problema resolve, quem pode ajudar a completar o puzzle, quem devemos contactar para avançar. E também apreciar a parte dinâmica do processo – reajustar, reprogramar e redirecionar a estratégia à medida que adquirimos novo conhecimento e percebemos novas oportunidades.
No fundo, é um trabalho que vive da colaboração, da descoberta e da construção de pontes, e é isso que mais me entusiasma todos os dias.
Como comenta esta nomeação?
Em primeiro lugar agradeço esta nomeação, que encaro como um reconhecimento do trabalho que tenho vindo a desenvolver, sobretudo em áreas novas para a instituição, onde ainda estamos a construir modelos e práticas de referência. Esta nomeação, tem um peso um pouco maior, quando estamos a trabalhar na génese de novas valências, porque confirma que estamos a avançar na direção certa.
Este ano envolvi-me em várias frentes – desde ações de formação, à iniciativa para maximizar o impacto do software open source do INESC TEC, até ao trabalho no INESC TEC OCEAN, focado na definição de um framework de gestão de propriedade intelectual. Ver este esforço reconhecido reforça a motivação para continuar a contribuir para o desenvolvimento estratégico da instituição.

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