As rotas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do INESC TEC têm-se cruzado com frequência e o resultado desse diálogo foi demonstrado, em profundidade, durante uma visita de Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (CNA-PRR).
A visita preencheu uma manhã: do enquadramento institucional à incursão pelo universo multidisciplinar do INESC TEC – desde demonstrações em laboratórios à visita a uma bacia oceânica em construção –, Pedro Dominguinhos, que veio recolher experiência no terreno, ficou a conhecer o leque de áreas de conhecimento do Instituto, os ecossistemas de inovação que integra e a sua dimensão europeia.
O caderno de encargos era ambicioso: resumir a atividade e o pulsar de uma instituição de referência empenhada em conjugar ciência e impacto há 40 anos. Por isso, antes do contacto direto com os investigadores e laboratórios, em jeito de prólogo, a CNA-PRR recebeu enquadramento institucional.
O INESC TEC tem uma participação alargada na componente de inovação Empresarial do PRR, participando atualmente num total de 30 Projetos e que incluem mais de 20 agendas mobilizadoras. Tudo junto, traduz-se em cerca de 59 milhões de euros de financiamento. “Contribuímos para a especialização da economia portuguesa, através das nossas atividades de investigação e desenvolvimento (I&D), que contribuem para o desenvolvimento e teste de novos produtos, processo e serviços de valor acrescentado. Com um maior foco na inovação, o PRR contribuiu para a valorização dos nossos resultados e transferência de tecnologia, assim como o reforço das nossas infraestruturas e serviços às empresas”, explicou Clara Gouveia, membro do Conselho de Administração do INESC TEC.
Quando a CNA-PRR começou o contacto direto com os investigadores nos laboratórios, já sabia o que ia encontrar: exemplos de transferência de tecnologia e vislumbres – ao todo, a visita passou por dezenas de demonstrações – de como das infraestruturas laboratoriais de ponta saem soluções que contribuem para o desenvolvimento científico nacional e, consequentemente, para a especialização da economia.
A visita à casa da ciência, tecnologia e inovação começou no laboratório de comunicações, onde a comitiva teve oportunidade de conhecer as novas capacidades de medição de antenas até 170 GHz no âmbito da agenda A-MoVer, que são fundamentais para o desenvolvimento de soluções avançadas de comunicações e sensing embarcado nos veículos inteligentes do futuro. Foi também apresentada uma Célula Móvel 5G, solução desenvolvida no âmbito da agenda NEXUS para assegurar conetividade sem fios em áreas onde as infraestruturas fixas de comunicações são limitadas ou inexistentes. Esta solução permitirá reforçar a cobertura de rede 5G e expandir as capacidades de monitorização no Porto de Sines. As capacidades apresentadas refletem o investimento do INESC TEC em plataformas tecnológicas avançadas para mobilidade inteligente e comunicações críticas.
Com o espaço preenchido com projetos e demonstradores, o INESC TEC mostrou também como está a desenvolver um ecossistema tecnológico para a saúde no âmbito da agenda HfPT do PRR, com projetos que vão desde dispositivos têxteis inteligentes para reabilitação neuromuscular até uma plataforma hospitalar com Inteligência Artificial (IA) para gestão e anonimização de dados.
Não podia haver melhor transição e a comitiva avançou de seguida para o BRAIN – Laboratório Avançado de Neuroengenharia e Deteção Humana. Lá, a conversa incidiu na área da Neuro Engenharia e Saúde Ocupacional quantificada. O destaque foi para a investigação do INESC TEC em wearables de EEG, f-NIRS, ECG, de movimento para analisar o trabalhador durante a sua prática laboral, nomeadamente a nível de stress, fadiga e posturas. Esta área está relacionada com dois projetos financiados pelo PRR: o Crops and Care (FCT) e o S2IO (P2030).
Pedro Dominguinhos seguiu com a comitiva do INESC TEC rumo ao laboratório X-Energy, casa onde são testadas e validadas soluções inovadoras para a descarbonização da economia, com ênfase na sua integração com as redes elétricas de energia, e foco nos domínios das redes elétricas inteligentes, mobilidade elétrica e gestão ativa do consumo.
A Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência ficou a saber mais sobre o Predico, uma plataforma de previsão colaborativa que reúne produtores de dados e fornecedores de modelos num ecossistema digital onde todos podem partilhar informação e melhorar a qualidade das previsões.
O instituto mostrou também como, no âmbito da Aliança para a Transição Energética (ATE), está a testar uma Plataforma Digital de IA para Energia, que combina uma Feature Store com algoritmos AutoML e que está a ser validada com vários casos de uso reais, incluindo previsões de consumo residencial e produção fotovoltaica. A solução pretende apoiar empresas e operadores na automatização e melhoria contínua de processos baseados em dados.
Outra ferramenta em utilização crescente por empresas do setor é o CEVESA, um simulador de mercado de eletricidade que permite testar diferentes cenários de operação e regulação. A partir de modelos horários detalhados, o sistema é usado por várias entidades para apoiar análise e tomada de decisão. No campo do armazenamento, e no âmbito da Agenda NGS, o INESC TEC desenvolveu o MOMENTO, um software para gestão inteligente de sistemas de armazenamento, integrando capacidades de previsão, monitorização e otimização.
O instituto reforçou ainda a sua infraestrutura de simulação em tempo real, baseada em OPAL-RT e unidades PMU, que permite testar estratégias de controlo e proteção em ambiente virtualizado. Esta infraestrutura, desenvolvida com suporte do PRR, tem sido utilizada para apoiar a validação de soluções de automação avançada de rede, com empresas nacionais e internacionais.
Finalmente, o Smart DER Gateway surge como solução de edge computing capaz de integrar múltiplos recursos distribuídos — desde bombas de calor e carregadores de veículos elétricos a sistemas fotovoltaicos e baterias — oferecendo previsão de curto prazo, deteção de anomalias e controlo local inteligente.
Já no domínio da fotónica, Pedro Dominguinhos ficou a conhecer quatro protótipos totalmente desenvolvidos pelo INESC TEC no âmbito da ATE, combinando técnicas avançadas de espectroscopia e optoelectrónica dedicada com nanotecnologia específica. Sob a bandeira da agenda HfPT foram apresentados dispositivos de optofluídica fabricados por escrita direta e maquinação 3D com laser a laser femtossegundo. Um deles consegue controlar, de forma dinâmica, a forma como os fluxos circulam no interior do dispositivo, ajustando os diferentes fluxos de entrada — um princípio conhecido como hydrodynamic flow focusing. No âmbito do projeto Agenda Transform CircularWood – Práticas de EC na transformação da madeira, lançado em outubro de 2022, uma das principais atividades envolveu um esforço conjunto entre o INESC TEC e a Sonae Arauco para desenvolver uma solução de monitorização de contaminantes em madeira recorrendo a tecnologias baseadas em espectroscopia.
A última estação deste trecho da viagem estava estacionada à porta do laboratório, com os robôs agrícolas do INESC TEC à espera da visita de Pedro Dominguinhos. A comitiva seguiu depois para uma infraestrutura em construção, longe dos laboratórios. Na Plataforma Logística II do Porto de Leixões, o INESC TEC mostrou o investimento numa das grandes apostas na Economia Azul na forma de um equipamento imprescindível às atividades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação do INESCTEC.OCEAN, o novo Centro de Excelência em Investigação e Engenharia Oceânica, liderado pelo INESC TEC.
Falamos de uma bacia oceânica que inclui um centro de mergulho científico, com 10 metros de diâmetro e uma profundidade de 30 metros, possibilitando testes de equipamento, estudos de biodiversidades e de impacto ambiental e ainda formação inicial e treino avançado de mergulho.
O circuito ficaria completo com mais uma infraestrutura descentralizada. A visita ao iilab – Laboratório de Indústria e Inovação do INESC TEC, situado no PORTIC, onde o Instituto apoia a inovação de base tecnológica nas organizações públicas e privadas, e adoção e implementação de tecnologias avançadas de produção.
Aqui, por entre as demonstrações de conceitos e tecnologias avançadas em robótica, a comitiva ficou a conhecer mais de uma dezena de projetos alavancados pelo PRR. Sob o signo da agenda PRODUTECH R3, o INESC TEC avançou um manipulador móvel para tarefas de descontentorização de contentores marítimos que permite a realização da tarefa de retiradas das caixas de dentro dos contentores sem a necessidade de mão de obra humana. Junta-se ainda, sob a mesma agenda, a conceção, desenho e POC (prova de conceito) de ferramentas de Planeamento e Escalonamento de Operações de MRO (manutenção, reparo e operações) de Ativos Complexos, como motores de aeronaves.
No âmbito da agenda BE@t, os investigadores do INESC TEC estão a desenvolver uma célula automática para identificação de fibras têxteis em peças de roupa para reciclagem, recorrendo a câmaras hiperespectrais e ainda uma célula robotizada para deteção de inserts em peças de roupa e sua posterior remoção para possibilitar a posterior reciclagem das fibras têxteis.
Com o projeto DRIVOLUTION, o INESC TEC mostrou como está a desenvolver um veículo autónomo aéreo para operações logísticas em armazéns industriais. E como, inserido no projeto NEXUS, desenvolveu um sistema autónomo de inspeção de painéis fotovoltaicos, composto por um UAV e uma docking station.
A solução identifica automaticamente painéis e respetivas patologias através de visão computacional.
Mas não podiam faltar soluções de biotecnologia azul. Com o projeto Vertical Fish, no âmbito do Pacto da Bioeconomia Azul, o INESC TEC está a atestar novos métodos de rastreabilidade e deteção de peixe parasitado.
A missão da CNA-PRR é assegurar a supervisão da execução do PRR, sem funções executivas, através de uma abordagem multidisciplinar e com base nos princípios da integridade, equidade, imparcialidade, rigor técnico e de boas práticas na aplicação de recursos.
A visita da CNA-PRR ao INESC TEC acabou por evidenciar “um ecossistema que trabalha com maturidade, com ciência e investigação aplicada de excelência, proximidade à indústria e capacidade de concretizar soluções tecnológicas em setores que estão no centro das grandes transições em curso”, indica João Claro, presidente do Conselho de Administração do INESC TEC.
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