O INESC TEC está a dinamizar uma série de workshops para partilhar experiências de utilização de ferramentas para lidar com um cenário em constante evolução. As sessões vão decorrer até fevereiro de 2026.
Investigadores de todas as áreas têm vindo a usar ferramentas de IA generativa (IAGen) para aumentar a eficácia e eficiência do processo de pesquisa. Mas os comportamentos são muito variados, indo desde o uso intensivo, em (quase) todas as etapas do processo de investigação, até uso mínimo, por receio de pôr em causa a integridade académica ou de não aceitação pelos pares. Este era o cenário desenhado em 2023, altura em que os grandes modelos de linguagem (LLMs) já começavam a ser usados no processo de investigação, mudando rotinas e levando a discussões nos corredores de institutos de investigação.
Os indicadores são de um inquérito a mais de 700 investigadores realizado pelas plataformas ResearchGate e Academia.edu, que sentiu o pulso a uma área em que a integridade e a transparência são valores fundacionais. Por isso, e como o impacto da “IAGen na investigação e nos processos científicos exige reflexão e ponderação”, o INESC TEC tem vindo a lançar um conjunto de iniciativas de literacia e formação em IA.
Numa primeira fase, o foco foi o desenvolvimento de linhas de orientação para a utilização responsável destas ferramentas na investigação. Em seguida, dinamizadas por investigadores do domínio da Inteligência Artificial, começaram as Tertúlias de IA, com uma temática aberta, tendo já ocorrido uma sessão muito participada, “que deixou elevadas expetativas para as próximas”, explica Gabriel David, membro do Conselho de Administração do INESC TEC.
Entretanto, o Grupo de Trabalho para a Transformação Digital, depois de clarificar o que se entende atualmente por uma utilização responsável com as Linhas de Orientação, promoveu um ciclo de workshops que exploram as potencialidades das múltiplas ferramentas de IAGen, discutindo de que forma podem apoiar e alavancar as diferentes fases do processo de investigação, num contexto em rápida evolução.
“Na ciência, o panorama está a evoluir rapidamente. As revistas científicas e as conferências estão a elevar os padrões de aceitação, valorizando uma maior transparência, abertura e rigor metodológico. A IA generativa representa uma oportunidade crucial não só para acompanhar essa evolução, mas também para nos mantermos na linha da frente ao nível da investigação”, indica Yassine Baghoussi, investigador na área de Inteligência Artificial do INESC TEC e um dos dinamizadores da série de workshops Using AI as Your Research Assistant.
O contexto atual da ciência aberta e da IAGen marcaram a primeira de quatro sessões, que se vão estender até fevereiro de 2026. Com a utilização responsável, a partilha e a colaboração como esteio, esta sessão trabalhou a utilização de IAGen como alavanca na fase inicial de geração de ideias de investigação, e no suporte à pesquisa e revisão de literatura.
Uma ideia central foi a de que a IA não deve ser vista como um substituto do investigador, mas antes como um instrumento para aumentar a sua produtividade, pelo que se reforçou o papel fundamental da verificação de tudo o que é gerado. Uma boa prática: reservar 30 ou 40% do tempo ganho com a IA para confirmação. Isto porque se uma “alucinação” – respostas coerentes e até gramaticalmente acertadas, mas factualmente incorretas – resvala para um artigo, pode deitar por terra anos de capital de confiança na comunidade científica.
“A grande participação na primeira sessão veio confirmar a atualidade e o interesse desta iniciativa, a par com outras semelhantes de que temos conhecimento por toda a Europa. Esperamos que nas próximas sessões haja ainda mais oportunidades de os participantes contarem as suas experiências e dessa forma enriquecerem o debate, essencial numa fase de tantas e tão diversificadas ofertas.”, afirmaram Lia Patrício e Gabriel David, do grupo que está a dinamizar a transformação digital no INESC TEC.
Esta série vem complementar as linhas de orientação para a utilização responsável de IAGen, apresentadas em abril de 2025. Com as orientações da European Research Area como base, a Administração aprovou um conjunto de linhas orientadoras “gerais e dinâmicas”, para que os investigadores tenham uma referência sobre as formas de tirar partido da IAGen, assumindo que são sempre os responsáveis pela sua investigação e que devem usar a IAGen “com sentido crítico e transparência, respeitando a privacidade, a confidencialidade e a propriedade intelectual.”
“As ferramentas de IAGen estão em constante evolução, com novas formas de utilização a serem desenvolvidas. Os investigadores devem manter-se atualizados em termos de aprendizagem e boas práticas, partilhando o seu conhecimento com terceiros ou stakeholders relevantes”, pode ler-se.
O texto salienta que os investigadores devem manter uma abordagem crítica relativamente à utilização de resultados produzidos por IAGen e detalhar quais as ferramentas de IAGen que foram utilizadas ao longo das atividades de investigação. Exemplo: “Interpretar análises de dados, realizar revisões de literatura, identificar lacunas na investigação, formular objetivos de investigação, desenvolver hipóteses, etc., podem ter um impacto substancial e, por isso, devem ser explicitamente relatados”.
Questões de privacidade não são de somenos e o texto aponta ainda para o dever de proteger trabalhos não publicados ou confidenciais e de evitar introduzi-los em sistemas de IA online, já que podem ser utilizados para outros fins. Os próximos workshops (o segundo é já dia 11 de dezembro) irão focar-se nas etapas seguintes do processo de investigação.

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