Indústria de Alto Valor Acrescentado

É amplamente reconhecido que a indústria, nomeadamente a indústria transformadora, é crucial para a Europa, uma vez que proporciona emprego direto e indireto a dezenas de milhões de pessoas, gerando, em geral, um elevado valor acrescentado nos bens produzidos, obtendo uma grande parte do investimento em investigação, desenvolvimento e inovação e originando mais de 80% das exportações da UE (MANUFUTURE Vision 2030). 

A Europa atravessou um longo período de desindustrialização, com início por volta do ano 2000, que levou à redução da contribuição da indústria transformadora para o PIB europeu e a elevadas perdas de emprego. 

No entanto, nos últimos anos, verificou-se uma inversão do declínio da indústria transformadora da UE, com taxas de crescimento significativas em termos da percentagem da indústria no valor acrescentado total, no emprego e na produtividade do trabalho. 

É vital manter a recuperação da indústria transformadora na Europa. É geralmente aceite que a economia europeia perderá competitividade e não gerará novos empregos sem uma base industrial sólida e moderna, apoiada por novos conhecimentos e tecnologias e pela criação de “start-ups” e de novas PME, de acordo com uma nova abordagem da política pública de inovação. 

Em Portugal, as questões associadas à indústria transformadora assumem maior importância do que no resto da UE, dada a profunda desindustrialização que se verificou no país à medida que a globalização avançava e ao facto de o país estar menos preparado para proceder a uma recuperação da sua indústria. Esta situação resulta da insuficiente/inadequada qualificação dos recursos humanos, do baixo valor acrescentado da maior parte da sua produção e do escasso investimento realizado (em particular no domínio da investigação e inovação), todos eles afetando negativamente o valor da produtividade. 

Assim, é fundamental repor o nível de industrialização do país para valores semelhantes, pelo menos, à média dos países da UE, apostando numa indústria de elevado valor acrescentado, resiliente e sustentável, em linha com as políticas públicas que têm vindo a ser desenvolvidas pela UE. 

Desde a sua criação, o INESC TEC encara a indústria transformadora como uma das principais áreas de atividade de investigação, desenvolvimento e inovação, tendo realizado centenas de projetos de I&D e de transferência tecnológica, a grande maioria com parceiros-chave nacionais e internacionais, institucionais ou empresariais. Vários destes projetos resultaram em importantes contributos para a prossecução de políticas públicas que visam o progresso da indústria. 

O INESC TEC está muito empenhado em participar no esforço de reindustrialização de Portugal, nomeadamente contribuindo para um aumento significativo do valor acrescentado do que é produzido em Portugal, bem como para a qualificação adequada dos recursos humanos necessários a esta complexa e difícil tarefa. 

Neste sentido, o INESC TEC pretende demonstrar como pode contribuir para a implementação de políticas públicas já definidas, ou para a conceção de novas, na área da indústria de elevado valor acrescentado. Para concretizar esta intenção, foi publicado, no segundo trimestre de 2021, o número 2 da “Revista Ciência & Sociedade INESC TEC”, dedicado à indústria de alto valor acrescentado. Esta edição da “Revista Ciência & Sociedade” apresentou um conjunto de artigos dedicados às competências do INESC TEC neste domínio, mostrando alguns dos contributos que o INESC TEC pode dar para o esforço de reindustrialização nacional. 

Um dos objetivos do INESC TEC é divulgar a ciência junto da sociedade. Comunicar ciência de uma forma simples e clara, tentando combater a desinformação e contribuindo assim para uma sociedade mais informada e preparada. Assim, para além da “Revista Ciência & Sociedade”, o INESC TEC decidiu produzir e divulgar o podcast e videocast “INESC TEC Ciência e Sociedade”, que nasceu diretamente daquela revista.  

Os episódios do podcast/videocast estão organizados em temporadas de quatro ou cinco episódios, cada temporada ligada a um número da revista. Cada episódio conta com a participação de especialistas da área científica em causa, alguns deles investigadores do INESC TEC, muitos deles de outras instituições/empresas parceiras. Este trabalho, realizado pelo Serviço de Comunicação do INESC TEC, é liderado por Joana Desport Coelho e coordenado por Artur Pimenta Alves. 

A segunda temporada do podcast/videocast é dedicada à indústria de alto valor acrescentado, uma vez que a transformação da indústria é um tema importante que continua a estar na agenda do país. Qual o caminho? Cooperação homem-máquina? Tecnologias imersivas? Fábricas inteligentes? Digitalização da indústria? E como é que as políticas públicas devem encarar esta temática? Estas e outras questões são exploradas nos cinco episódios da segunda temporada do podcast/videocast “Ciência e Sociedade”, coordenado por José Carlos Marques Santos. 

Esta temporada terá cinco episódios, com a duração aproximada de uma hora cada, cujos temas estão de alguma forma relacionados com os artigos publicados no número da revista “INESC TEC Ciência e Sociedade” dedicado à indústria de alto valor acrescentado. Cada episódio conta com dois entrevistadores (Joana Desport Coelho e uma pessoa convidada) e três entrevistados (um dos quais, pelo menos, externo ao INESC TEC). 

O primeiro dos cinco episódios desta temporada aborda a questão da indústria de alto valor acrescentado, da ciência, da tecnologia e as políticas públicas. Nele se destaca a necessidade premente de a indústria portuguesa evoluir na cadeia de valor, discute-se a importância de investir na inovação e no desenvolvimento de produtos novos e inovadores e aponta-se o papel que as empresas e as instituições do sistema científico e tecnológico devem desempenhar nesse sentido. Sublinha-se ainda que a articulação entre as políticas públicas e as estratégias empresariais nos domínios da investigação, inovação e formação assumirá uma importância crítica para a indústria portuguesa, que enfrenta hoje novos e disruptivos desafios. 

O segundo episódio aborda o papel da economia circular numa indústria de elevado valor acrescentado, discutindo o conceito de economia circular, os princípios básicos e as implicações para os sistemas de fabrico e para a investigação, terminando por defender a sua adoção como um novo paradigma. 

O terceiro episódio aborda o papel das fábricas de aprendizagem na qualificação dos recursos humanos e na digitalização das indústrias de elevado valor acrescentado. É apresentado o conceito de fábricas de aprendizagem e o seu papel na qualificação dos recursos humanos e no processo de digitalização das empresas industriais, destacando a sua importância vital ao permitir a experienciação e a aprendizagem num ambiente quase real. Como exemplo de uma fábrica de aprendizagem é apresentado o “iiLab” do INESC TEC, realçando-se o equipamento com que está apetrechado, bem como os serviços que pode prestar. 

O quarto episódio analisa o papel da robótica colaborativa, das tecnologias imersivas e da inteligência artificial na criação de empresas inteligentes. Aborda o papel da robótica colaborativa na criação de um ambiente de trabalho com interação harmoniosa entre humanos e máquinas e discute como as tecnologias imersivas podem ajudar as pessoas a melhorar a sua capacidade de atuar em ambientes industriais, de forma mais eficaz e com menor sobrecarga cognitiva, prevendo-se assim o aparecimento de humanos aumentados, integrando-se em sistemas industriais, mais inteligentes e mais autónomos. É também explorado o papel da inteligência artificial na melhoria da qualidade da tomada de decisão a todos os níveis e no desenvolvimento de modelos analíticos mais adequados, conduzindo à implementação de sistemas de fabrico inteligentes e, consequentemente, à evolução até à empresa inteligente, ou seja, empresas que aplicam tecnologias avançadas e melhores práticas em processos de negócio ágeis e integrados, tornando-se mais resilientes, rentáveis e sustentáveis. 

Por último, o quinto episódio aborda a Servitisation: como construir uma estratégia de resiliência baseada nos serviços para as empresas industriais. O episódio apresenta a servitisation como um grupo de serviços e produtos que permite a uma empresa industrial diferenciar a sua oferta, reforçando a relação com os clientes e criando novas fontes de rendimento, mais estáveis e resistentes aos ciclos económicos. 

Estamos convictos de que esta segunda temporada do podcast/videocast do INESC TEC, dedicada à “Indústria de Elevado Valor Acrescentado”, irá esclarecer todos os públicos interessados sobre os conceitos envolvidos, o papel a desempenhar pelos vários atores no processo de subida da indústria portuguesa na cadeia de valor, as políticas públicas que terão de ser desenvolvidas para acelerar este processo e o contributo que o INESC TEC poderá dar para que este processo se concretize com sucesso. 

Um forte agradecimento é devido ao Serviço de Comunicação do INESC TEC, na pessoa da Joana Desport Coelho e da equipa técnica que a acompanhou, pela conceção, organização, preparação, gravação e edição desta temporada do podcast/videocast, e ao Artur Pimenta Alves pela coordenação dos trabalhos que tornaram possível esta temporada. 

José Marques dos Santos – Presidente da CGCI do INESC TEC

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