Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt – foram estes os galardoados com o prémio Nobel da Economia em 2025. A Real Academia das Ciências da Suécia explicou que os cientistas foram reconhecidos pelo desenvolvimento da teoria do “crescimento sustentado através da destruição criadora”, numa distinção que coloca a inovação e o progresso tecnológico no centro do debate sobre o crescimento económico.
O prémio Nobel da Economia, instituído em 1968 pelo banco central sueco, é considerado a mais prestigiada distinção na área, e premeia anualmente contribuições com um impacto significativo na investigação nesta área e na formulação de políticas públicas.
Com base num artigo conjunto publicado em 1992, os três mostraram como novas empresas e tecnologias substituem as antigas, gerando ciclos contínuos de inovação e transformação tecnológica, como se pode ler no artigo publicado no Financial Times depois da entrega do galardão. Aghion e Howitt desenvolveram, aliás, um modelo matemático que explica como o investimento em investigação e desenvolvimento (I&D) impulsiona o progresso, mas também pode gerar desigualdades. O modelo tornou-se muito útil na área das políticas públicas, nomeadamente no que diz respeito à definição de verbas para I&D ou mesmo na criação de mecanismos de proteção social para trabalhadores afetados por mudanças tecnológicas.
O significado do Nobel da Economia
De acordo com João Claro, presidente do INESC TEC, o “Prémio Nobel da Economia de 2025 destaca o reconhecimento de que o progresso económico não acontece por acaso. É o resultado de instituições que criam as condições para que o conhecimento científico se transforme em inovação, e para que essa inovação se traduza em crescimento sustentado e em bem-estar social. O trabalho de Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt mostra que a ciência e a economia estão ligadas pela nossa capacidade de compreender, aplicar e renovar o que aprendemos”.
Com os seus contributos científicos, os laureados mostraram que o crescimento económico não nasce de uma mão invisível, mas sim da inovação e do progresso tecnológico e “que a inovação não é um processo neutro”, como acrescenta o presidente do INESC TEC. “Cada avanço transforma setores, redistribui recursos e obriga a repensar equilíbrios. É aqui que a governança ganha extrema importância, procurando orientar a mudança, evitar desigualdades e assegurar que o conhecimento permanece um bem público”, acrescenta João Claro.
Sobre os laureados
Joel Mokyr é um historiador neerlandês na área das ciências económicas e docente na Universidade Northwestern, nos Estados Unidos da América (EUA), Philippe Aghion é um economista francês que leciona no INSEAD em Paris e na London School of Economics and Political Science, no Reino Unido, e Peter Howitt, um economista canadiano, professor na Universidade de Brown, em Providence, nos EUA.
De acordo com Joana Almodovar, responsável pelo Gabinete de Políticas Públicas do INESC TEC, “o reconhecimento do trabalho de Joel Mokyr salienta o enfoque na investigação e no conhecimento científico como base da inovação, nas competências e na capacidade de traduzir esse conhecimento em valor acrescentado para o mercado, na governação desses fenómenos de inovação e na importância de promover Sociedades abertas à Ciência e à mudança. Nesse sentido, o investimento público em Ciência, Tecnologia e Inovação e a promoção de políticas que apoiem a educação e a formação, bem como a divulgação de Ciência são essenciais ao progresso económico e social”.
Ricardo Miguéis, responsável pelo INESC Brussels HUB, a representação do ecossistema INESC em Bruxelas, destaca um dos livros mais marcantes de Joel Mokyr, denominado “The Gifts of Athena”, onde o historiador refere: “Simplificando, tecnologia é conhecimento, mesmo que nem todo o conhecimento seja tecnológico”. De acordo com Ricardo Miguéis, “esta ideia simples e poderosa resume a essência dos processos de inovação, de crescimento, de relação entre a estratégia e o pensamento político, social, económico e tecnológico. Diz-nos que o que distingue o crescimento moderno de surtos anteriores de inovação é a institucionalização da aprendizagem e da aplicação do conhecimento. A inovação sustentada surge quando as sociedades constroem pontes entre o que sabemos, o que fazemos e por que mudamos. É também este o mantra que guia o trabalho com que servimos o INESC TEC e o avanço civilizacional”.
Já em relação aos trabalhos dos economistas Philippe Aghion e Peter Howitt, Joana Almodovar esclarece que remetem “para a natureza de destruição criadora da inovação, antes explorada por Joseph Schumpeter, apontando para o impacto estrutural que a inovação pode ter tanto nos mercados onde as empresas operam, como na forma como se posicionam (mercados) e organizam (recursos humanos, financeiros e infraestruturais)”.
Ricardo Miguéis reforça a ideia também destacada por João Claro de que a inovação não é neutra, “exige políticas públicas que saibam equilibrar disrupção com coesão, competitividade com inclusão”. “Numa altura em que discutimos aprofundadamente sobre o papel da investigação e da inovação na resposta a desafios sociais, económicos e políticos, este Nobel mostra-nos que a inovação sem abertura pode dar lugar à estagnação, à concentração de poder e à exclusão. Mokyr avisou-nos disso há décadas, mostrando como as sociedades que bloqueiam a mudança, por interesses instalados, estruturas rígidas ou sistemas fechados, não falham por falta de talento, mas por não permitirem que o conhecimento circule e se transforme em progresso. Temos responsabilidade”, acrescenta.
O Nobel e o impacto no sistema científico e tecnológico
Nessas alterações estruturais, que criam valor e proporcionam novos paradigmas de desenvolvimento tecnológico e económico, os economistas salientam que há também movimentos de destruição das estruturas de funcionamento dos mercados – de bens e serviços, de trabalho – que impactam na concorrência e na criação de valor para a Sociedade. Tudo isto faz com que sejam “necessários investimentos em recursos (financeiros, humanos e infraestruturais) muito significativos, num conjunto de áreas científicas e tecnológicas cada vez mais interligado e num contexto de aceleração da mudança, as empresas e entidades do Sistema Científico e Tecnológico, com capacidade de investimento e tendencialmente de maior dimensão, podem tender a proteger o acesso a esse conhecimento e tecnologia”, esclarece Joana Almodovar.
“Os benefícios inequívocos da Investigação e da Inovação, através da produção de conhecimento, do desenvolvimento tecnológico e da produção de novos bens e serviços, têm de ser equilibrados com as eventuais limitações decorrentes da utilização restrita desse conhecimento pelas empresas como base de vantagem competitiva, que limite a concorrência no mercado e confira uma posição de domínio, com impacto, por exemplo, nos preços praticados aos consumidores”, acrescenta ainda a responsável pelo Gabinete de Políticas Públicas do INESC TEC, que reforça que “as políticas públicas – seja de promoção de apoios à ciência, à tecnologia e à inovação de todos os operadores económicos, seja na promoção de concorrência nos mercados – são essenciais para a sustentabilidade do crescimento económico e para o impacto positivo da inovação no bem-estar das Sociedades”.
O papel de instituições como o INESC TEC
Como já referido anteriormente, os trabalhos de Mokyr, Aghion e Howitt mostram que ciência e economia estão ligadas e é precisamente nesta ligação que atua o INESC TEC, “no cruzamento entre ciência, tecnologia e sociedade, procurando fazer da investigação um instrumento de transformação, através do conhecimento, das competências tecnológicas e da cooperação”, como refere João Claro.
De acordo com o presidente do Instituto, o “que nos distingue é precisamente o compromisso de unir rigor científico e ambição prática, criando pontes entre as instituições de ensino superior, as empresas e as políticas públicas. Este é o principal motor da inovação sustentada”.
Ricardo Miguéis acrescenta que no INESC TEC “procuramos transformar investigação em transformação, não apenas desenvolvendo tecnologia de ponta, mas construindo as condições institucionais e humanas para que a inovação seja responsável e crie estruturas de governação do progresso que nos levem a um futuro melhor” e fala ainda da visão europeia, representada pelo Instituto a vários níveis, um dos quais o INESC Brussels HUB. “Através do INESC Brussels HUB, o INESC TEC atua no coração da política europeia de ciência, tecnologia e inovação, contribuindo para alinhar os sistemas de investigação com os grandes objetivos estratégicos da União Europeia. Acreditamos que o futuro da inovação exige articulação multinível, transnacional, abertura à colaboração e políticas que valorizem o conhecimento como bem público europeu, um bem público que nos traga autonomia estratégica e competitividade mobilizando a enorme capacidade que temos para oferecer. Athena keeps on giving”, acrescenta.
João Claro termina dizendo que “há um desafio vital no equilíbrio entre disrupção e coesão, competitividade e partilha, eficiência e propósito. A construção desse equilíbrio é também central à missão do INESC TEC, como instituição onde a ciência ganha forma social e a inovação se torna um instrumento de progresso coletivo”.
O Prémio Nobel 2025 recorda-nos, assim, que o progresso não é espontâneo, não é neutro, é, sim, construído. No INESC TEC, essa construção começa na ciência e ganha forma na inovação que serve a sociedade.