As disrupções nas cadeias de abastecimento são um problema para as PME. O INESC TEC tem um modelo para as ajudar

Uma cadeia de abastecimento resiliente deve ser capaz de inovar e adaptar-se a novas realidades. O projeto RISE-SME conta com o INESC TEC para dotar os intervenientes das cadeias com mais soluções para detetar e antecipar disrupções. Em Portugal, 99,9% do tecido empresarial é composto por estas empresas.

Nem sempre a mercadoria (ou componente) chega ao sítio aonde a esperam. Em 2021, no recobro da pandemia de covid-19, um cargueiro que fazia o trajeto entre a Malásia e os Países Baixos bloqueava uma das principais portas de entrada de mercadorias na Europa: nada passou pelo Canal de Suez durante seis dias. É um dos exemplos mais práticos de como, num ápice, a cadeia de abastecimento – que liga fornecedores, fabricantes, distribuidores, grossistas e consumidores – fica comprometida.

Num mundo interligado, acompanhado por conflitos geopolíticos e crises ambientais, identificar ruturas críticas – atuais e futuras – e abrir caminho rumo a cadeias mais resilientes é cada vez mais premente. E é isso que o INESC TEC quer fazer no âmbito do RISE-SME, um projeto que quer ajudar pequenas e médias empresas (PME) da indústria transformadora europeia a “adotar modelos e tecnologias avançadas para alcançarem independência operacional”.

O INESC TEC participa no desenvolvimento de um modelo quantitativo inovador para análise e gestão dos riscos associados às cadeias logísticas de quatro importantes ecossistemas no contexto europeu: têxtil, agroalimentar, mobilidade e digital. Chama-se Supply Chain Resilience Fit Model.

“O modelo inclui algumas das principais variáveis de contexto dos ecossistemas e identifica as três principais variáveis de intervenção no que diz respeito à sua resiliência: capacidades de resiliência, estratégias de gestão das cadeias de abastecimento e desenho das cadeias de abastecimento”, explica Ricardo Zimmermann, investigador do INESC TEC.

O modelo desenvolvido pelos investigadores do INESC TEC, em parceria com investigadores de instituições parceiras da Itália, Espanha e Alemanha, servirá de base para a continuidade do projeto que se estende até ao final de 2026.

“A nossa preocupação foi desenvolver modelos suficientemente abrangentes que pudessem ser aplicados em diferentes contextos. Por exemplo, no ecossistema têxtil, na fabricação de roupas e sapatos. Nas etapas que se seguem, este modelo será testado em contextos mais específicos. Um dos parceiros do projeto é o CITEVE, que nos apoiará nesta etapa de aplicação em Portugal”, acrescenta o investigador.

A solução parte do princípio de que a resiliência não consiste apenas em regressar ao estado inicial (pré disrupção), mas também em inovar e adaptar-se a novas realidades. Quer ser uma ferramenta para as PME compreenderem como as diferentes ações estratégicas – atividades, estratégias, áreas de negócio – aplicadas pelos intervenientes na cadeia de distribuição estão alinhadas com as caraterísticas do seu ecossistema. O objetivo é que o modelo melhore a performance da cadeia e, consequentemente, das empresas.

“Importância enorme” para as PME

O RISE-SME vai procurar ainda criar alianças entre PME tradicionais e tecnológicas em ecossistemas industriais e impulsionar a adoção de tecnologias avançadas nestas empresas. E isso pode ter uma “importância enorme”, indica Ricardo Zimmermann.

É que de acordo com a Comissão Europeia (CE), em 2022, existiam cerca de 24,3 milhões de PME ativas na União Europeia. São 99,8% de todas as empresas do sector empresarial não financeiro e empregam 84,9 milhões de pessoas. Portugal é paradigmático: por cá, no mesmo ano analisado pela CE, o número de PME ronda os 1,4 milhões, que representam 99,9% do tecido empresarial.

“As PME têm uma importância enorme no contexto da competitividade da Europa – e ainda maior quando olhamos especificamente para Portugal. Ao mesmo tempo, estas empresas são particularmente frágeis no que diz respeito ao impacto das diferentes crises, cada vez mais frequentes e abrangentes, que têm caracterizado a sociedade nos últimos anos”, ressalva o investigador.

O projeto teve início em janeiro de 2024, junta dez parceiros de cinco países e estará ativo até ao final de 2026, com um orçamento global de mais de dois milhões de euros.

O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC.

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