Combater crimes ambientais no transporte de resíduos: o INESC TEC tem a solução

O projeto EnSafe (Enhancing Environmental Protection: Anomaly Detection in Waste Transportation using Network Science) está a desenvolver soluções baseadas em Inteligência Artificial (IA) para reforçar o combate ao crime ambiental, com especial foco nas cadeias de transporte de resíduos. O EnSafe conta com a participação ativa do INESC TEC, que está a desenvolver tecnologias para detetar comportamentos anómalos e suspeitos numa das áreas mais vulneráveis à fraude e à corrupção ambiental.

O principal objetivo do EnSafe é identificar comportamentos anómalos ou suspeitos nos movimentos de resíduos. Estes padrões podem indiciar violações de regulamentações, ineficiências nos processos, riscos para a segurança ou até problemas na qualidade dos dados. A capacidade de detetar estas anomalias é essencial para proteger o ambiente e assegurar práticas sustentáveis e legais na gestão de resíduos. Mas como se identificam estes padrões?
“A abordagem do INESC TEC vai além dos modelos tradicionais, tratando os dados não como entradas isoladas, mas como uma rede interligada — quase como uma rede social do transporte de resíduos. Este modelo, que combina padrões de rede com técnicas comprovadas de aprendizagem automática, permite detetar comportamentos estranhos ou padrões de atuação que se destacam”, explica a investigadora do INESC TEC, Shazia Tabassum.

Adicionalmente, está a ser utilizada IA de última geração que aprende a partir da própria estrutura dos dados, identificando sinais subtis de atividade suspeita que muitas vezes escapam à perceção humana, resultando num sistema mais preciso e adaptável.

Nesta rede de transações, é possível identificar, por exemplo, atividades suspeitas de roubo de peças de automóveis – nomeadamente catalisadores – que fizeram manchete em 2022. Outro caso é o de tráfico de resíduos, como o comércio internacional ilegal e o seu despejo, onde materiais perigosos são deliberadamente classificados erroneamente como recicláveis ou não perigosos. “Estes crimes são particularmente preocupantes, pois são considerados de baixo risco para quem os comete – as investigações são raras e as penalizações são baixas – e altamente lucrativos. Estamos a trabalhar ativamente para detetar e prevenir tais violações”, afirma a investigadora.

Mas não é sempre fácil detetar atividades ilegais; as não conformidades tendem a estar bem escondidas e passar despercebidas. “Os próprios dados podem ser inconsistentes, incompletos ou mal estruturados, e não existe, na maioria das vezes, um conjunto de dados previamente identificado como ilegal para treinar os sistemas. O EnSafe aborda um problema muito complexo numa área ainda com poucas soluções eficazes”, acrescenta Shazia Tabassum.

Como parte do trabalho de ligação entre tecnologia e aplicação prática, a equipa do EnSafe realizou recentemente uma visita técnica à IGAMAOT – Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território –, entidade responsável pela fiscalização ambiental em Portugal. Esta visita teve como objetivo estreitar a colaboração com os reguladores e compreender melhor a realidade da deteção de crimes ambientais no terreno.

O sistema desenvolvido pelo INESC TEC foi pensado para ser escalável e adaptável, uma vez que utiliza dados agregados por ano, permitindo um processamento eficiente sem sobrecarregar o sistema com detalhes excessivos.

O EnSafe é financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e integra a estratégia nacional de combate ao crime ambiental.

 

A investigadora mencionada na notícia tem ligação ao INESC TEC.

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