Estima-se que as casas, no espaço europeu, sejam responsáveis por aproximadamente 40% do consumo de energia da União Europeia e por 36% das emissões de gases com efeito de estufa. O DECODIT, um projeto europeu que conta com a participação do INESC TEC, vai apoiar a transição energética das habitações, através do desenvolvimento de serviços digitais para apoiar os cidadãos no processo de tomada de decisão de renovação e gestão da energia das suas casas. O objetivo é que estes serviços possam ajudar a escolher as soluções que melhor se adaptam às necessidades e contexto de cada pessoa.
Do DECODIT não vai resultar apenas mais um conjunto de serviços digitais para apoio à tomada de decisão. É que o projeto vai envolver diretamente os cidadãos no processo de conceção desses serviços, para garantir que as soluções desenvolvidas vão ao encontro das necessidades das pessoas. Através de um processo de cocriação – e considerando também a jornada do consumidor – o consórcio deste projeto europeu vai capacitar os cidadãos, para que possam fazer parte do processo de modernização e melhoria da eficiência energética dos edifícios.
A ideia é que as ferramentas do DECODIT possam fornecer orientações claras, personalizadas e comparáveis, considerando os diferentes níveis de literacia digital e energética das pessoas, para que possam perceber e escolher, de maneira informada, as melhores opções de poupança de energia para as suas casas. Alguns exemplos destas ferramentas incluem a análise de fornecedores de energia, a exploração de soluções de energia renovável e de armazenamento, a avaliação de cenários de renovação residencial e a avaliação de oportunidades de eletrificação para aquecimento, refrigeração e mobilidade.
Mas como é que estes serviços vão ser cocriados e testados? Através de quatro pilotos residenciais a terem lugar em quatro países – Letónia, Espanha, Grécia, Suíça – que são muito diferentes em termos de características de construção, enquadramentos culturais e regulatórios, condições climáticas, capacidades económicas, entre outros fatores. “A nossa contribuição para o projeto centra-se no apoio à criação dos quatro living labs do projeto, e no desenvolvimento e apoio à aplicação de uma abordagem de service design para o desenvolvimento de ferramentas digitais para a transição energética”, conta Lia Patrício, administradora do INESC TEC.
As atividades piloto serão realizadas com os diferentes intervenientes da cadeia de valor do setor da energia, nomeadamente, fornecedores, as empresas que prestam serviços (ESCO), os distribuidores (DSO) e as comunidades de energia. Já as ferramentas terão por base serviços federados e baseados em dados de múltiplos e diversos prestadores de serviços.
No final, o projeto vai disponibilizar uma plataforma que vai oferecer aos cidadãos um espaço seguro para que possam gerir a informação sobre as suas casas, e um assistente orientado por inteligência artificial que, de forma interativa e simples, vai oferecer recomendações personalizadas sobre eficiência energética, sugerindo soluções mais económicas. O sistema vai igualmente incluir os fornecedores e profissionais da área de energia, contemplando uma toolbox para analisar o desempenho energético dos edifícios e planear renovações de forma eficaz. Essa toolbox também vai apoiar a decisão do ponto de vista financeiro, por exemplo ajudando na avaliação da elegibilidade de empréstimos para melhorias residenciais – tirando partido das informações baseadas em dados sobre o desempenho do edifício e os planos de renovação.
Para facilitar a adoção generalizada destes serviços para a transição energética, o DECODIT também vai propor alterações nas políticas, regulamentos e modelos de negócio. Além disso, pretende reduzir as barreiras ao financiamento, para estimular o investimento em soluções de eficiência energética.
O DECODIT é financiado pelo Programa Horizonte Europa da União Europeia e reúne um consórcio de 18 parceiros, provenientes de 11 países. No final do mês de janeiro, a equipa do INESC TEC envolvida no projeto, que conta também com a participação das investigadoras Giulianna Reyes e Francisca Lucas Dias, acolheu um workshop que teve como objetivo desenvolver várias atividades de cocriação com os parceiros, para testar e evoluir a metodologia do DECODIT.
A investigadora mencionada na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.