Há um grupo de investigadores do INESC TEC, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) que está a trabalhar para que a acessibilidade inclusiva seja uma realidade nos transportes públicos. O projeto AllAboard já arrancou e quer aumentar a atratividade dos serviços de transporte público, apoiando o setor na eliminação das barreiras que impactam a experiência de quem recorre a estas opções de mobilidade.
E as barreiras podem ser muitas. Além das físicas, existem outros tipos de barreiras que podem surgir desde o momento em que os passageiros chegam à estação, como por exemplo a forma como a informação é apresentada, nomeadamente a sinalização, os serviços disponíveis ou as tarifas; as interações ou os pontos de contacto do serviço com assistentes, máquinas de venda de bilhetes ou passagem em torniquetes; e a própria configuração da infraestrutura, desde logo as longas distâncias de transbordo ou a localização de elevadores. Tudo conta, quando falamos da facilidade de acesso a locais ou espaços – ou, por outras palavras, de acessibilidade.
“Estas barreiras podem não ser evidentes, pois variam de pessoa para pessoa, mas representam um fator de exclusão que impede certos grupos sociais de utilizarem o transporte público”, refere Marta Campos Ferreira, acrescentando que o objetivo do projeto AllAboard é aumentar a atratividade do transporte público através do conceito de acessibilidade inclusiva. “Por isso, olhamos para a acessibilidade para além do acesso físico à infraestrutura e analisamos a facilidade de acesso ao próprio serviço de transporte público”, explica a investigadora do INESC TEC.
Uma vez que os operadores de serviço cumprem os regulamentos de acessibilidade, nem sempre identificam outras limitações. Por outro lado, os passageiros têm uma “acessibilidade percecionada” que pode distar dos padrões de acessibilidade definidos pela legislação. Ou seja, avaliam a atratividade do serviço em função daquilo que percecionam e, diante das barreiras físicas e não físicas que encontram, acabam por ter uma determinada experiência.
Neste contexto, a equipa de investigadores vai começar por identificar os grupos populacionais com necessidades especiais de mobilidade. De seguida, vai identificar as barreiras físicas e não físicas com impacto na acessibilidade desses grupos e mapear – e hierarquizar – os requisitos para mitigar ou eliminar os impactos negativos das barreiras, maximizando as consequências positivas das soluções.
Com base neste estudo, serão desenvolvidas ferramentas e criados protocolos de simulação para apoiar a prototipagem de serviços, e uma estrutura, composta por uma ferramenta de avaliação de acessibilidade, e diretrizes para auxiliar os operadores a melhorar a acessibilidade dos serviços e a experiência geral em centros de transporte.
“Vamos desenvolver ferramentas de simulação, incluindo a construção de digital twins de centros de transporte, em ambientes de realidade virtual imersivos, e colocar sensores em objetos associados às necessidades especiais de mobilidade de determinados grupos, como por exemplo cadeiras de rodas ou carrinhos de bebé”, avança Marta Campos Ferreira.
O projeto prevê ainda a realização de experiências simuladas com utilizadores reais, que irão avaliar os cenários e as barreiras existentes e apoiar a prototipagem de serviços para testar soluções – que serão desenhadas em cocriação.
“Depois dos testes, os requisitos de acessibilidade serão revistos e ajustados, e os resultados do projeto serão reunidos numa ferramenta de avaliação e num conjunto de linhas orientadoras para apoiar os operadores de transporte público na avaliação e melhoria da experiência dos passageiros, promovendo uma acessibilidade mais inclusiva”, conclui a investigadora.
O AllAboard é financiado pelo COMPETE2030, tem um orçamento de quase 250 mil euros e deverá estar concluído em 2028. Junta investigadores do CITTA – Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente da FEUP e da FCTUC, da FEUP e do INESC TEC.
A investigadora mencionada na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

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