A investigadora do INESC TEC, Marta Campos Ferreira, participou no desenvolvimento de um protótipo que quer melhorar as experiências de pessoas com mobilidade reduzida nas cidades – e torná-las mais inclusivas. A nova solução foi apresentada numa conferência internacional e o trabalho foi distinguido. Agora, o objetivo é que a solução chegue a todos através de uma aplicação.
Passeios barrados, rampas íngremes – ou ausentes –, carros que teimam em não se cingirem aos lugares de estacionamento. A cidade ainda não é para todos e quem precisa, por exemplo, de cadeira de rodas para se movimentar sabe que há áreas acessíveis para a maioria, mas hostis para quem tem mobilidade reduzida. Mas é possível levantar algumas destas barreiras através da tecnologia e criar ambientes urbanos mais inclusivos e acessíveis: o protótipo de aplicação móvel BarrierBeGone quer ser uma solução e ajudar pessoas a navegar nas cidades com informações de acessibilidade em tempo real a partir de informação disponibilizada e atualizada pelos próprios utilizadores.
Os resultados foram apresentados por Marta Campos Ferreira, investigadora no INESC TEC e Professora do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP, na ICT4AWE24 – International Conference on Information and Communication Technologies for Ageing Well and e-Health e recebeu o prémio de Best Poster Award. Agora, esta solução quer fazer o caminho para os smartphones que levamos no bolso sempre que saímos de casa e chegar a mais gente. O protótipo, testado durante uma semana, incentiva a participação dos utilizadores através de um sistema de pontuação e de recompensas, incluindo uma tabela de classificação que gamifica a experiência.
Vamos a um exemplo prático. Uma pessoa que usa cadeira de rodas encontra um passeio invadido por carros numa rua do Porto e vê-se impedida de continuar o seu percurso: ao sinalizar na BarrierBeGone não só ajuda outras pessoas a planear rotas adequadas – e, no processo, alerta decisores e mesmo negócios vizinhos para a necessidade de intervenção –, como também recebe feedback da comunidade.
“As pessoas com limitações de mobilidade apreciaram o facto de poderem contribuir e aceder, em tempo real, a informações valiosas sobre a existência de barreiras à mobilidade ao seu redor, permitindo-lhes planear de forma mais eficaz os seus percursos e evitar obstáculos que possam dificultar a sua acessibilidade, bem como navegar no ambiente urbano com mais confiança e conveniência”, indica a Marta Campos Ferreira.
Simples, rápida e consistente
Os resultados da avaliação são positivos: a solução foi testada com nove pessoas (quatro usam cadeira de rodas), que destacaram a “simplicidade, rapidez e consistência” da solução: “Enfatizou-se a importância da ferramenta para a comunidade como forma de melhorar a acessibilidade e promover a inclusão social nas cidades”.
A investigadora prossegue: “O tipo de informação disponibilizada – obstáculos à mobilidade identificados em tempo real – é essencial para promover a acessibilidade e inclusão social dos cidadãos, mas também pode complementar outras fontes de informação estática já disponibilizadas por municípios, autoridades e até pelo Google Maps”,
Já existem algumas soluções tecnológicas que querem tornar os meios urbanos – cada vez mais ligados digitalmente e guiados por dados – menos hostis para quem tem mobilidade reduzida. Marta Campos Ferreira aponta para dois exemplos: a Wheelmap – que permite encontrar serviços, como restaurantes, cafés, lojas, cinemas acessíveis a pessoas em cadeira de rodas e funciona com base em ratings; e a Ability App, que cartografa locais acessíveis para todas as pessoas.
Mas a BarrierBeGone é diferente graças ao seu carácter “colaborativo”. Marta Campos Ferreira explica: “A aplicação funciona para espaços públicos urbanos em que, de forma colaborativa, os utilizadores podem identificar obstáculos à mobilidade e georreferenciá-los. Os obstáculos identificados são depois validados por outros utilizadores, sendo que um utilizador ganha pontos à medida que obtém avaliações positivas”.
Assim, através de um simples jogo e uma tabela que mede as contribuições positivas, é possível incentivar a participação “e fomentar um espírito de competição saudável e reconhecimento entre os utilizadores”.
O trabalho de investigação de Marta Campos Ferreira tem-se focado no desenho e desenvolvimento de serviços de base tecnológica para cidades inteligentes, seguras, sustentáveis e inclusivas, como o BarriersBeGone. O objetivo passa por continuar com o projeto e melhorar a aplicação para que chegue à comunidade através das lojas de aplicações.
O artigo Improving Accessibility with Gamification Strategies: Development of a Prototype App apresentado na conferência ICT4AWE24 juntou a investigadora do INESC TEC a Tiago André Araújo, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e Joana Campos e Carla Fernandes da Escola Superior de Enfermagem do Porto.