INESC TEC e FCUP em projeto de investigação para criar tecnologia capaz de detetar cancro da mama

Chama-se eSPRcancer e tem como objetivo criar uma tecnologia para a deteção de biomarcadores de cancro da mama – nomeadamente o CA (Cancer Antigen) 15-3, de forma mais rápida, precisa e sensível. O projeto junta INESC TEC e Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Vamos por partes. O que é um biomarcador? É uma substância ou característica biológica passível de ser medida no corpo – através, por exemplo de análises de sangue, urina, saliva ou outros tecidos – e que fornece informação sobre o estado de saúde de uma pessoa. Alterações nos níveis de um biomarcador podem indicar que algo está a acontecer no organismo – desde uma infeção, a uma inflamação, ou, em casos mais graves, a presença ou a evolução de uma doença, como o cancro. No projeto eSPRCancer o biomarcador em questão que os investigadores vão estudar é o CA 15-3, ou seja, uma proteína que se encontra em níveis mais elevados no sangue de algumas pessoas com cancro da mama (embora possa estar também ligeiramente aumentado em situações não cancerígenas).

Embora o objetivo principal do projeto esteja relacionado com o desenvolvimento de uma nova metodologia de deteção altamente sensível para o biomarcador CA 15-3, existe um potencial de extensão a outros biomarcadores, como o CEA. O CEA (do inglês Carcinoembryonic Antigen) é outro tipo de proteína que aparece em níveis mais altos no sangue de pessoas com outros tipos de cancro, nomeadamente cólon e reto, pâncreas, pulmão e também outras tipologias de cancro da mama.

Atualmente, os testes já existentes conseguem detetar estes biomarcadores, porém, nem sempre com a sensibilidade necessária para diagnósticos muito precoces. São, aliás, mais utilizados na monitorização da doença e não para diagnosticar o seu aparecimento. É também isto que o eSPRcancer quer mudar.

Para tal, o projeto vai combinar duas técnicas que até agora foram raramente usadas em conjunto: ótica (SPR – ressonância de plasmão de superfície), que analisa como a luz interage com uma superfície para identificar moléculas específicas e eletroquímica, que mede variações elétricas quando essas moléculas se ligam a um sensor.

“São estas duas abordagens que vão dar origem a uma plataforma bi-modal – ótica mais eletroquímica – capaz de detetar biomarcadores de cancro com maior precisão e em menos tempo, usando pequenas quantidades de amostra (menos de 1 mL)”, explica João Pedro Mendes, investigador do INESC TEC.

Cabe ao INESC TEC ser responsável pela parte tecnológica. “Vamos criar o protótipo do sistema eSPR, ou seja, a parte física do sensor, vamos desenvolver o software que vai controlar as medições e o funcionamento do dispositivo, fazer a impressão 3D e a integração eletrónica da plataforma e preparar o sistema para uma futura produção em escala, ou até, para a criação de uma spin off”, acrescenta.

São várias as inovações que o projeto trará. Desde logo, e como já referido, a capacidade de juntar duas técnicas – ótica e eletroquímica – num só equipamento, algo que é ainda pouco explorado. Depois, a utilização de recetores sintéticos (MIPs) que funcionam como uma espécie de “chaves feitas à medida” passíveis de reconhecer as moléculas associadas ao cancro. E, por último, mas nem por isso menos importante, o projeto vai ser capaz de criar um dispositivo modular, portátil e escalável, o que irá permitir a sua utilização em diversos locais, desde laboratórios, a clínicas, hospitais ou centros de saúde.

“Queremos com este projeto ter um impacto em várias áreas da sociedade. Desde logo na saúde ao permitir uma deteção mais precoce e fiável do cancro da mama – e possivelmente até de outros -, reduzindo falsos positivos e negativos. Mas, naturalmente, também na ciência e na tecnologia, ao criarmos um novo tipo de biossensor com potencial para aplicações na área da medicina personalizada”.

O eSPRcancer, financiando pelo programa P2030 em co promoção entre INESC TEC e FCUP, vai, assim, permitir diagnósticos mais rápidos e acessíveis, melhorando a qualidade de vida e a eficiência do sistema de saúde.

 

O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC.

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