O projeto OpenInnoTrain aproxima Europa e Austrália e quer fomentar uma cooperação mais próxima entre academia e indústria. Mais de 20 parceiros formam uma rede de livre-trânsito para investigadores (e não só) irem em busca de conhecimento com impacto social. O INESC TEC é ponto de partida (e chegada) e organizou recentemente um workshop com investigadores e empresas.
Bianca Banica encontrou na cidade costeira finlandesa de Vaasa um porto seguro para criar “ligações, colaborações e amizades”. Ao abrigo do programa OpenInnoTrain, a investigadora do INESC TEC continuou o seu trabalho de investigação na cidade banhada pelo Golfo de Bótnia. A experiência foi, recorda, “encantadora”.
A passagem da investigadora pelo norte da Europa junta-se a dezenas de outras, de investigadores, estudantes de doutoramento e técnicos, em várias latitudes. O “passaporte” para ir em busca de conhecimento é carimbado pelo programa OpenInnoTrain. Este projeto europeu quer criar uma rede global de parceiros industriais e instituições académicas e promove uma série de iniciativas de mobilidade entre investigadores das suas entidades parceiras através de intercâmbios (designados “secondments”).
Esta partilha de conhecimentos e ideias entre a universidade e a indústria é um dos eixos de ação do programa. O objetivo? Perceber como a investigação científica pode ter impacto no mundo real e converter novos conceitos em soluções que podem ajudar as pessoas no seu dia a dia. A possibilidade de intercâmbio é um dos meios para atingir esse fim e está aberta a todos os membros do consórcio composto por 13 parceiros académicos e nove provenientes da indústria – Portugal faz-se representar com o INESC TEC e UPTEC. Todos os “secondments” são apoiados financeiramente e podem durar entre um mês e um ano.
Foi assim que Bianca Banica aportou em Vaasa, para uma temporada no centro de investigação Merinova, que está envolvido em “vários projetos europeus relacionados com energia”. “Fiquei a conhecer os progressos do projeto RIPEET, que se centra nos Laboratórios de Transição. Isto foi particularmente útil para o meu trabalho de doutoramento sobre o envolvimento dos cidadãos na transição para a sustentabilidade”, explica.
“Na Universidade de Vaasa, com a ajuda de Mona Enell-Nilsson, do programa OpenInnoTrain, conheci também vários investigadores cujo trabalho está relacionado com o meu e tive conversas sobre os projetos em que estão envolvidos e os cursos que estão a lecionar (como desenvolvimento urbano sustentável ou gamificação para o envolvimento dos cidadãos)”, acrescenta Bianca.
A cidade que a investigadora descreve como “pitoresca, muito próxima da natureza e perfeita para caminhadas e andar de bicicleta” foi também casa para outro investigador INESC TEC. Morteza Ghavidel partiu com “passaporte” OpenInnoTrain com destino à Finlândia e ao mesmo instituto de investigação. Morteza recorda o “ambiente amigável” – e “muito parecido ao INESC TEC”, acrescenta.
O iraniano conseguiu estudar de perto vários projetos europeus relacionados com a transição energética e tomar conhecimento de recomendações de políticas para comunidades de energia na Finlândia. “Para os potenciais futuros bolseiros, recomendo vivamente que visitem o Merinova. Trata-se de um centro de I&D semelhante ao INESC e proporciona uma plataforma para abordar questões relacionadas com a indústria nos países nórdicos”, refere.
A Austrália mais perto
Mas nem só de Europa se faz o OpenInnoTrain. Com um parceiro na Austrália, o projeto galga fronteiras e estende uma ponte entre o continente europeu e Oceânia. Foi lá que Cristina Barbosa fez o seu “secondment”. Na Royal Melbourne Institute of Technology (RMIT), a investigadora do INESC TEC conheceu investigadores e profissionais das áreas do Empreendedorismo e da Gestão da Inovação e participou ativamente em eventos locais e internacionais.
“Foi uma aventura maravilhosa e inesquecível. Estou muito grata ao INESC TEC e à RMIT Austrália pelas oportunidades desta mobilidade, foi um ambiente de aprendizagem transformador e valioso: por todas as pessoas que conheci e pelas experiências proporcionadas”, sublinha Cristina Barbosa.
No INESC TEC, um workshop para estreitar ligações
Mas nem só de intercâmbios se faz o OpenInnoTrain. No trilho para levar conhecimento produzido na investigação para o mundo das empresas, o INESC TEC voltou a ser local de passagem do projeto. No início de outubro, investigadores, estudantes e gestores juntaram-se para resolver problemas de inovação no campo de negócios.
“Enquanto entidade parceira do projeto, [o INESC TEC] acolheu e disseminou o evento”, indica Cristina Barbosa, investigadora do Centro para a Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo (CITE) e da Entreprise Europe Network (EEN), uma rede que ajuda pequenas e médias empresas a crescer no mercado internacional. “Eu estive a apoiar a organização do evento durante a minha mobilidade no RMIT Australia”, sublinha. A sessão juntou empresas apoiadas pelo EEN, para trabalhar a área de inovação. Esta “interligação”, foi, para a investigadora, “uma mais-valia”.
Esta sessão STREM (estudantes, investigadores e gestores) decorreu no Porto, no INESC TEC, contou com a presença das empresas ZØR Thermal e Invisible Cloud e foi dinamizado por Anne-Laure Mention, professora na Universidade RMIT de Melbourne e pelos investigadores do INESC TEC Cristina Machado Guimarães, Alípio Torre e Manuel Matos
“Como mentor, foi gratificante interagir com mentes novas e dar apoio às valiosas perspetivas que elas nos davam. Essas perspetivas podem ser utilizadas para questionar as nossas suposições sobre os problemas, para definir novas direções ou para dar orientações com vista a abordar os desafios de uma forma diferente”, explica Alípio Torre.
O INESC TEC acolheu a escola de verão internacional no ano passado. Entre junho e julho, estudantes e investigadores debruçaram-se sobre a importância do impacto da investigação feita nas universidades e nas empresas.
Financiado pelo programa europeu Horizonte 2020, o OpenInnoTrain é coordenado pelo hub europeu da RMIT University em Barcelona (RMIT Europe), sendo a primeira iniciativa a juntar Europa e Austrália em benefício de uma rede global de parceiros industriais e instituições académicas. O projeto reúne um consórcio de 22 membros de 12 países, estando o INESC TEC no grupo de 12 instituições ligadas à investigação e ao desenvolvimento.
Aprender num ambiente “solidário e de apoio”
Perguntámos a alguns dos protagonistas da sessão – participantes e mentores – as lições mais valiosas que surgiram no decorrer da iniciativa: o ambiente “solidário e de apoio”, beneficiou todos os que se encontraram no INESC TEC para, em conjunto, partilhar perspetivas e aproximar a academia dos “desafios reais da indústria”.
Cristina Machado Guimarães – Investigadora do INESC TEC | Mentora de Equipa: “O co-desenvolvimento de soluções não só serve as necessidades das empresas/start-ups e do mercado, como ultrapassa as conceções prévias do que seriam os objetivos finais, trazendo novos caminhos e soluções a serem testadas. A riqueza das equipas reside não só nos diferentes backgrounds mas também nas diferentes idades, trazendo frescura de perspetivas, equilibrando energia com serenidade e foco com detalhes”.
Manuel Victor Matos – Investigador do INESC TEC | Mentora de Equipa: “Considero que as dimensões empresariais exploradas de forma ampla e exaustiva contribuíram para que os investigadores e gestores envolvidos identificassem os elementos chave para avaliar o contexto de mercado e propor soluções empresariais. Como mentor, considero que a principal competência desenvolvida foi o co-working e a co-designing de estratégias. Os investigadores e as empresas ganharam aprendizagem e experiência com a oportunidade de enfrentar os desafios técnicos e financeiros de casos de negócios e inovação com o apoio e orientação adequados.”
Marcella Mendes – STREM | Participante: “O OpenInnoTrain STREM foi uma experiência incrivelmente enriquecedora. Foi inspirador testemunhar a colaboração entre estudantes, investigadores e gestores que trabalham em conjunto para encontrar soluções inovadoras para desafios do mundo real. Além disso, as diferentes origens dos participantes ajudaram-me a ver as coisas de outro ponto de vista, aprendendo mais do que o habitual. Esta oportunidade não só nos permitiu aplicar os nossos conhecimentos académicos na prática, como também nos incentivou a pensar fora da caixa e a melhorar as nossas capacidades de resolução de problemas. Esta sessão foi verdadeiramente inspiradora e motivadora, reforçando a importância da inovação aberta no mundo académico e empresarial.”
Bozidar Vlacic (Universidade Católica Portuguesa) | Mentor de Equipa: “Foi um evento muito agradável, do qual gostei muito. Na minha opinião, os participantes tiveram uma oportunidade valiosa de enfrentar desafios reais da indústria num ambiente de apoio e capacitação, permitindo-lhes avaliar a validade e a qualidade das suas abordagens e soluções”
Luís Silva – Invisible Cloud (empresa apoiada pelo INESC TEC no projeto EEN): “Estou muito satisfeito com o facto de o desafio da Invisible Cloud ter suscitado discussões perspicazes e a resolução criativa dos problemas propostos. O que mais me impressionou foi a abordagem colaborativa entre os participantes, representando diversos domínios de especialização. Esta diversidade de perspetivas permitiu-nos examinar o problema de vários ângulos e desencadeou ideias de inovações. Este evento foi inegavelmente proveitoso para promover contactos e gerar novas ideias”.
Joana Fonseca – ZØR Thermal – Cold Chain Logistics (empresa apoiada pelo INESC TEC no projeto EEN): “Como representante da ZOR-THERMAL, foi muito gratificante participar no evento. Os grupos de trabalho apresentaram soluções muito inovadoras e refrescantes para o desafio proposto”