No contexto europeu, marcado pela urgência da transição energética e pela necessidade de garantir a segurança, resiliência e eficiência do sistema elétrico, o INESC TEC continua a reforçar o seu compromisso em apoiar a definição de políticas públicas para o uso da Inteligência Artificial (IA) neste domínio, contribuindo com conhecimento técnico e experiência em investigação aplicada. Foi, nesse sentido, que João Claro, presidente do INESC TEC, marcou presença, como orador, num evento de alto nível sobre IA e energia, organizado pela Comissão Europeia no passado dia 19 de novembro, em Bruxelas, que teve como objetivo principal a preparação do roadmap estratégico para a digitalização e IA no sistema energético.
Como é que a IA poderá prever e evitar falhas na rede elétrica? Tornará o sistema europeu mais eficiente e resiliente? Como garantir que há energia suficiente para alimentar, de forma sustentável, modelos de IA cada vez mais exigentes? E como garantir que os próprios sistemas energéticos evoluem para apoiar, de forma sustentável, o rápido crescimento das aplicações de IA? Estas foram algumas das perguntas que dominaram este encontro que juntou decisores políticos, empresas tecnológicas e de energia. O INESC TEC foi a única organização de investigação presente neste encontro para discutir quer o papel da IA na transição digital e energética da Europa – AI for Energy – quer as condições que permitem que a sociedade disponha de sistemas de IA mais sustentáveis – Energy for AI.
A abertura do “High-level event on Artificial Intelligence and Energy” foi feita por Henna Virkkunnen, vice-presidente executiva, responsável pela Soberania Tecnológica, Segurança e Democracia e por Dan Jørgensen, comissário para a Energia e Habitação. Ainda antes do painel de discussão, que contou com João Claro como participante, houve uma keynote presentation por parte de Laura Cozzi, da IEA – agência internacional de energia.
O debate AI for Energy and Energy for AI centrou-se em dois grandes eixos que exploraram, por um lado, como a IA pode tornar o sistema energético mais inteligente, previsível e eficiente, e, por outro, como o setor energético se deve adaptar para responder ao aumento significativo das necessidades energéticas associadas à própria IA e à expansão de data centers e infraestruturas digitais.
Este painel, moderado por Mechthild Wörsdörfer, Diretora-Geral Adjunta da DG ENER, e Roberto Viola da DG Connect, contou, para além do INESC TEC, com o Elia Group, Data4, Engie Bélgica, Schneider Electric e 1KOMMA5º.
Durante a sua intervenção, João Claro destacou que a questão central já não é saber se a Inteligência Artificial vai tornar o setor energético europeu mais inteligente e previsível, mas sim como a Europa pode orientar essa transformação de forma alinhada com as suas ambições climáticas, industriais e digitais. “Compreender esta dupla dinâmica da IA ao serviço do setor energético e do setor energético ao serviço da IA, é fundamental para garantir uma transição equilibrada, sustentável e alinhada com as prioridades europeias”, referiu. Se esta dinâmica for gerida com estratégia e visão, a expansão dos data centres e dos chamados AI workloads – ou seja, conjuntos de processos computacionais individuais, aplicações e recursos computacionais, em tempo real, que são usados para concluir tarefas específica de IA –, não deverá ser vista como uma ameaça à rede, mas como uma oportunidade para reforçar a integração de renováveis e aumentar a eficiência do sistema. Ao contrário do consumo industrial tradicional, estes workloads de IA podem ser deslocados no tempo e no espaço e ajustados à disponibilidade de renováveis e modulados para aliviar o sistema em momentos críticos. Foi nesse sentido que o presidente do INESC TEC destacou o trabalho que o Instituto tem vindo a desenvolver no supercomputador português Deucalion, onde estão a ser implementadas soluções de produção local, armazenamento, arrefecimento avançado, computação mais eficiente, e a integração inteligente entre necessidades computacionais e recursos energéticos como exemplos práticos desta abordagem.
“No INESC TEC estamos a operacionalizar esta visão através do desenvolvimento de soluções e metodologias que promovem uma utilização energeticamente mais eficiente dos sistemas de IA, tanto nas fases de treino como de inferência. Persistem, contudo, desafios estruturais, nomeadamente a necessidade de dados de elevada qualidade, diversidade e rastreabilidade, essenciais para o desenvolvimento de modelos fundacionais robustos para o setor da energia. Mecanismos colaborativos que evitam a partilha direta de dados, como os que desenvolvemos com o Elia Group, e o recurso a digital twins podem desbloquear este caminho. Assim, a colaboração poderá evoluir da partilha de dados para a partilha de modelos, acelerando a inovação com segurança e responsabilidade”, esclarece o presidente do INESC TEC.
“A Inteligência Artificial não só está a tornar-se uma peça essencial para a modernização do sistema energético europeu, como também representa uma nova categoria relevante de procura de eletricidade. Compreender esta dupla dinâmica, da IA ao serviço do setor energético e do setor energético ao serviço da IA, é fundamental para garantir uma transição equilibrada, sustentável e alinhada com as prioridades europeias.”
A transição energética mais inteligente, segura e inclusiva na Europa já não é tema do futuro; os dados estão lançados, e o INESC TEC faz parte do ecossistema que está a trabalhar este roadmap europeu.

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