A Noite Europeia dos Investigadores (NEI) celebra-se no dia 26 de setembro, mas nem só no dia decorrem as atividades. Há também uma série de pré-eventos espalhados por todo o país. E são várias as instituições responsáveis por organizar e coordenar todas estas atividades. O INESC TEC, mais uma vez, não faltou à chamada. No Porto associou-se ao i3S e organizou um pré-evento. Em Braga, juntou-se ao Centro Nacional de Computação Avançada (CNCA) e participou na celebração do dia 26, através da apresentação do supercomputador Deucalion.
“A sustentabilidade na robótica” – um pré-evento da NEI
O pré-evento organizado pelo INESC TEC na cidade do Porto decorreu no dia 18 de setembro e consistiu num café de ciência com o mote “a sustentabilidade na robótica”.
Num ambiente descontraído e interativo, investigadores do INESC TEC ligados à área da robótica e sistemas inteligentes, juntaram-se com os participantes numa das infraestruturas de investigação do INESC TEC, o seu laboratório de indústria e inovação (iiLab) e exploraram três aplicações inovadoras, desenvolvidas pelo Instituto, que mostram como a tecnologia pode ser uma aliada na proteção do planeta: agricultura de precisão, reciclagem têxtil com visão por computador e desmontagem inteligente de lixo eletrónico.
Para além das apresentações iniciais, os participantes tiveram ainda a oportunidade de assistir a demonstrações ao vivo das tecnologias, aproximando, assim, a ciência do dia a dia e mostrando o trabalho concreto desenvolvido no e pelo INESC TEC.
Qual a motivação para este tema e para estes projetos? Os investigadores do INESC TEC explicam! “No caso do lixo eletrónico, por exemplo, também conhecido como e-waste, representa atualmente o fluxo de resíduos que mais cresce no mundo. Dados de 2022 mostram que foram geradas 62 milhões de toneladas, um aumento de 82% face a 2010, e com menos de 25% a ser corretamente reciclado”, conta Manuel Silva, investigador do INESC TEC, onde coordena a área de robótica e sistemas inteligentes.
Também no decorrer da iniciativa, outros investigadores explicaram que, em média, cada pessoa substitui o seu smartphone a cada 3 ou 4 anos e o seu computador portátil a cada 3 anos. Para além de conterem metais valiosos como o outro, cobre e cobalto, estes dispositivos contêm também substância tóxicas como o chumbo ou o mercúrio, que contaminam o ar, a água e o solo se não forem tratados de forma adequada.
“Os métodos tradicionais de reciclagem, baseados em desmontagem manual ou trituração, já não são sustentáveis. A desmontagem manual é perigosa e lenta, e a trituração mistura materiais valiosos, dificultando a sua recuperação. Para enfrentar este desafio, têm surgido sistemas de desmontagem automático, com uso de robôs. Estes sistemas permitem separar de forma precisa componentes reutilizáveis e perigosos, recuperar materiais críticos e reduzir a exposição humana a riscos. Além disso, são escaláveis, consistentes e alinham-se com os princípios da Economia Circular e da Indústria 4.0”, esclarece Manuel Silva.
Sendo um dos cinco compromissos estratégicos do INESC TEC para 2030 “causar impacto nos desafios mais difíceis do nosso tempo na ciência, tecnologia e sociedade, através de criatividade ousada e ações transformadoras”, o Instituto não podia deixar de tentar resolver, entre outros, este grave problema.
O mesmo se aplica ao setor têxtil, um dos mais poluentes do mundo, que ainda apresenta poucas medidas eficazes de sustentabilidade e circularidade.
“Os europeus produzem, em média, mais de 15 kg de resíduos têxteis por ano, sendo que este valor poderá atingir os 20 kg até 2030Atualmente, menos de 1% dos resíduos pós-consumo é reciclado para recuperação ou reutilização de fibras em novas peças de vestuário. A transição para modelos mais responsáveis torna-se, assim, urgente, incorporando matérias-primas sustentáveis, prolongando a vida útil dos produtos e desenvolvendo sistemas de reutilização e reciclagem que favoreçam uma verdadeira economia circular”, contextualizam Tony Ferreira e Daniel Lopes.
Neste contexto, o INESC TEC tem procurado contribuir para o setor através do desenvolvimento de soluções na área da identificação de fibras e da remoção de acessórios e foi também sobre este trabalho que os investigadores falaram durante o evento.
Por último, a agricultura de precisão. “O aumento da população mundial, as alterações climáticas, a escassez de mão de obra especializada e a necessidade de produzir alimentos mais funcionais e nutritivos estão a impulsionar a agricultura e a floresta a adotarem novas formas de trabalhar, mais digitais, inteligentes e sustentáveis”, conta o investigador do INESC TEC Vítor Tinoco.
Hoje, a agricultura já não significa apenas tratores e enxadas. Está a transformar-se numa área de alta tecnologia, onde entram em cena robôs que ajudam na poda e na vindima, drones que monitorizam culturas a partir do ar, sensores que medem a saúde do solo em tempo real, e sistemas inteligentes que decidem a quantidade certa de água ou fertilizante a aplicar.
É um verdadeiro “laboratório ao ar livre”, como explicar Vítor Tinoco, “onde ciência, engenharia e natureza trabalham lado a lado”. Tecnologias como monitorização e vigilância, pulverização de precisão, controlo do coberto vegetal, fertilização inteligente do solo, e poda e colheita automatizada não só aumentam a rentabilidade e tornam o setor mais sustentável, como também abrem novas oportunidades para quem gosta de tecnologia, programação, eletrónica, mecânica, inteligência artificial ou simplesmente de estar em contacto com a natureza. Trabalhar na agricultura do futuro pode significar programar robôs, criar sensores inovadores, voar drones, ou desenhar aplicações que ajudem os agricultores a tomar melhores decisões e foi também esse um dos temas de conversa durante o Café de Ciência organizado pelos investigadores do INESC TEC.
Este ano, no pré-evento da NEI organizado pelo INESC TEC sobre sustentabilidade na robótica, participaram, do lado do Instituto, os investigadores Manuel Silva, Vítor Tinoco, Pedro Dias, Tony Ferreira, Carlos Costa e Daniel Lopes.
O supercomputador Deucalion na Noite Europeia dos Investigadores
Já em Braga, a noite de dia 26 contou com a apresentação do supercomputador Deucalion, através de um conjunto de atividades ligadas à área da supercomputação. O stand contou com iniciativas abertas ao público em geral, pensadas para diferentes faixas etárias, onde os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer o Deucalion, compreender o que é, como funciona, em que áreas pode fazer a diferença e de que forma poderá ajudar a responder aos desafios atuais e do futuro.
Através das atividades “O Supercomputador em Paralelo” e “A Batalha Paralela de Cores”, os públicos mais jovens tiveram a oportunidade de entender a diferença entre um computador comum e um supercomputador, bem como entender de que forma o Deucalion consegue acelerar a investigação e a inovação, produzindo resultados com maior rapidez e impacto.
Outra iniciativa, a “Simulação de Supercomputação”, possibilitou aos visitantes explorar o potencial do Deucalion através de ferramentas práticas: um chatbot interativo, que respondia a perguntas, gerava conteúdos e apoiava decisões; e um modelo de deep learning para previsão meteorológica global, capaz de estimar variáveis atmosféricas como vento, temperatura, pressão e humidade, e ainda prever catástrofes naturais. Com estas experiências, os participantes puderam comparar o desempenho das ferramentas em diferentes dispositivos — desde um Raspberry Pi, passando por um computador comercial, até ao próprio Deucalion.
“A participação neste evento foi uma oportunidade única para o CNCA, através do Deucalion, e para o INESC TEC partilharem com a comunidade o conhecimento que temos vindo a desenvolver na área da computação avançada”, afirma António Luís Sousa, diretor de operações do Deucalion.
“Para o INESC TEC, mostrar de que forma trabalhamos em estreita colaboração com o Deucalion permite evidenciar o potencial desta infraestrutura para acelerar a ciência, a inovação e potenciar a utilização de HPC pelo tecido empresarial. Esta proximidade com a indústria é essencial para abrir portas a novas sinergias, reforçando a ligação entre investigação e aplicação prática”, reforça António Luís Sousa.
Além disso, o stand contou com um vídeo sobre a construção do data center e informação geral sobre a máquina, assim como com uma tômbola com brindes oferecidos pelos parceiros que compõem o CNCA, tornando a experiência ainda mais dinâmica e envolvente.
Além de António Luís Sousa, o INESC TEC foi representado por Alícia Oliveira, Ângelo Fernandes, José Pedro Peixoto, Luís Ferreira, Miguel Peixoto e Paula Rodrigues, assim como por Andreia Gaudêncio, Diogo Pires, Francisco Ferraz, Guilherme Fernandes e Rui Silva, da equipa do Deucalion e do CNCA.
A Noite Europeia dos Investigadores e os seus respetivos eventos destinam-se a toda a sociedade, com um foco especial nos jovens estudantes com interesse pela ciência e que querem saber mais sobre as atividades de investigação em Portugal. Esta iniciativa é uma oportunidade de aproximar a ciência à sociedade.
Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC, ao ISEP e à UMinho.