De que forma é possível reconhecer gestos Humanos, especialmente com mãos? A resposta automática seria recolher fotos ou vídeos de mãos e processar, posteriormente, esses dados para reconhecer os gestos, já que é essa a forma mais convencional. A verdade é que o trabalho desenvolvido pelos investigadores do INESC TEC nesta área está longe de ser convencional e a inovação, neste caso, prende-se com a utilização de dados derivados de radiofrequência (RF), em vez de usar imagens ou vídeos. O trabalho conquistou o primeiro prémio ANACOM-URSI Portugal – União Radiocientífica Internacional, destacando-se como a melhor investigação na área da radioeletricidade.
Nuno Paulino e Mariana Oliveira, investigadores do INESC TEC, pretendem acautelar uma questão de extrema importância: a privacidade. O que se pretende, explica Nuno Paulino, é “não depender de dados de imagem e vídeo que revelam identidade ou outra informação para classificação de atividade humana”, sobretudo quando os “dados de radiofrequência existem quase ubiquamente, e, portanto, dão a possibilidade de provar que é possível extrair e utilizar o máximo de informação para esta e potencialmente outras aplicações”. A solução garante, ainda, implementações de custo menor, já que as alternativas exigiriam equipamentos ou dispositivos adicionais para sensorização. Para além disso, as superfícies inteligentes reconfiguráveis (RIS) destacam-se como uma tecnologia essencial para os sistemas de comunicações do futuro, prometendo revolucionar a forma como as redes sem fios são otimizadas e utilizadas.
Mas, concretamente, o que foi realizado? O investigador explica que foram desenvolvidos dispositivos RF próprios para a recolha de dados. Especificamente “uma superfície inteligente reconfigurável, que pode ser descrita como uma antena configurável que permite a manipulação do meio eletromagnético. Esta superfície opera numa gama de frequências centrada em 6.5GHz, que faz parte da gama alocada para a recente especificação de WiFi6, e através dos dados RF recolhidos nesta frequência conseguimos classificar três gestos diferentes de um alvo numa zona de interesse”.
A utilização de dados RF em casos como este demonstra a viabilidade do uso destes dados para uma aplicação que se encaixa no termo mais abrangente de “sensorização RF” – RF sensing – que é uma das capacidades esperadas das novas gerações de comunicação sem fios.
A novidade e relevância do trabalho, assim como a sua extensão e resultados obtidos levaram à conquista do primeiro lugar do prémio ANACOM-URSI Portugal – União Radiocientífica Internacional. Nuno Paulino destaca o empenho de uma equipa substancial e colaborativa e sublinha: “A distinção coloca-nos como investigadores de referência numa área que se espera vir a ter relevância elevada nos próximos anos”.
Para além de Nuno Paulino e Mariana Oliveira, o trabalho junta ainda os investigadores Francisco Ribeiro, Luís Outeiro, Pedro A. Lopes, Francisco Vilarinho, Sofia Inácio e Luís Pessoa. Pode ser consultado aqui.
Os investigadores mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC.