E se pudéssemos substituir os métodos químicos de esterilização de cateteres? O INESC TEC faz parte de uma equipa multidisciplinar que desenvolveu uma tecnologia médica que promete revolucionar a forma como os cateteres são esterilizados, usando uma solução baseada em radiação infravermelha guiada por fibra ótica.
A ideia surgiu de uma colaboração com o i3S e, embora existam estudos prévios sobre o uso de luz para efeitos antimicrobianos, a tecnologia GoCap representa uma evolução significativa no campo da fotónica aplicada à saúde. De acordo com Orlando Frazão, investigador do INESC TEC, o sistema utiliza uma fonte de luz infravermelha acoplada a um guia de onda que direciona a radiação de forma precisa ao longo do cateter, permitindo a eliminação de agentes patogénicos de forma eficaz e localizada. “O carácter inovador da GoCap reside na integração do óxido de grafeno – um material com propriedades fotónicas e antimicrobianas únicas – no guia de onda, proporcionando uma alternativa não química, reutilizável e segura pouco explorada para a desinfeção de dispositivos médicos invasivos”, acrescenta.
O INESC TEC teve um papel fundamental na conceção e implementação do sistema eletrónico de controlo da fonte de luz e na otimização da propagação da luz através do guia de onda. “Foram realizados testes laboratoriais, como ensaios térmicos, para garantir, por exemplo, que a temperatura atinge níveis seguros e eficazes para desinfeção”, explica Orlando Frazão.
Apesar do sucesso tecnológico, o caminho não foi isento de desafios. A primeira grande dificuldade foi identificar uma fonte de luz suficientemente potente para garantir o efeito térmico desejado. Inicialmente, considerou-se a utilização de LEDs, pela sua eficiência energética e custo reduzido, mas percebeu-se que estes não tinham capacidade para gerar efeito térmico necessário à desinfeção. A solução passou pela adoção de díodos laser infravermelhos, que oferecem maior potência e controlo.
Outro desafio crítico foi a miniaturização do sistema, sobretudo devido ao consumo energético elevado. “O uso de dois díodos laser exige uma fonte de alimentação robusta, tornando a redução do volume e peso da bateria um desafio importante, já que é necessário assegurar autonomia, portabilidade e segurança térmica num formato compacto”, clarifica o investigador.
A tecnologia já foi validada em condições clinicamente relevantes, nomeadamente em cateteres de hemodiálise comercialmente disponíveis e utilizando isolados clínicos obtidos de cateteres de hemodiálise infetados
O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC.