O Protótipo PASSiON Care – uma plataforma adaptável, centrada no paciente e clinicamente orientada para a reabilitação de pessoas com neuropatia periférica induzida por quimioterapia – foi recentemente premiada pela Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros. A solução foi desenvolvida por uma equipa multidisciplinar que junta o INESC TEC, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e a Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESS-IPVC).
A Neuropatia Periférica Induzida por Quimioterapia (NPIQ) é uma complicação neurológica frequente associada à quimioterapia neurotóxica (verifica-se em 30% a 40% dos casos e, nalguns esquemas de quimioterapia, pode chegar a 85%). Trata-se de um tipo de lesão que afeta os nervos das mãos e dos pés e que se manifesta através de um conjunto de sintomas sensório-motores, como dormência, formigueiro, dor, perda de propriocepção ou alterações na marcha. Além do impacto na qualidade de vida e na autonomia funcional dos doentes oncológicos, assim como o aumento do risco de queda, esta condição pode mesmo levar à redução ou suspensão do tratamento oncológico. Acresce que, para prevenir e gerir a NPIQ, as opções farmacológicas são limitadas e não existem ferramentas específicas.
Foi, neste contexto, e considerando que a resposta a esta condição pode passar pela adoção de estratégias não farmacológicas, nomeadamente exercício físico e treino sensório-motor, que surgiu a PASSiON Care (Physical Activity, Sensorimotor Support, and Interactive Oncology Care). Trata-se de uma aplicação móvel multiplataforma que tem como objetivo apoiar doentes oncológicos com NPIQ no seu processo de reabilitação e, simultaneamente, promover uma comunicação fluida e segura com a sua equipa de cuidados médicos. “Desenvolvemos um protótipo digital para apoiar a prevenção e a autogestão da NPIQ, integrando exercício físico, treino sensório-motor e monitorização de sintomas, baseado na evidência científica e nas necessidades dos utilizadores”, explica Marta Campos Ferreira, investigadora do INESC TEC.
A solução, composta por uma aplicação móvel integrada com um dispositivo wearable, oferece planos de treino diários personalizados e ajustados em função das avaliações clínicas e do feedback contínuo dos utentes, uma vez que a ideia é proporcionar uma experiência de reabilitação altamente personalizada e dinâmica. Além disso, integra mecanismos de segurança que identificam sintomas críticos e suspendem a atividade física quando necessário.
“A PASSiON Care inclui exercícios sensório-motores autodirigidos para trabalhar défices específicos, e regista detalhadamente métricas de saúde e desempenho, enriquecidas pela integração com dispositivos Fitbit. Dispõe ainda de um sistema de telemedicina totalmente integrado, que facilita a comunicação entre utentes e profissionais de saúde, suportado por uma infraestrutura técnica robusta baseada em Firebase, arquitetura modular e recursos de acessibilidade multilingue”, acrescenta Marta Campos Ferreira.
O protótipo foi testado com 12 pacientes oncológicos do Hospital de Gaia, tendo obtido “excelentes resultados” em termos de usabilidade e demonstrado capacidade para responder a necessidades reais na prática clínica. “A PASSiON Care representa um avanço significativo nas soluções de saúde digital para NPIQ, oferecendo uma plataforma adaptável, centrada no paciente e clinicamente orientada para a reabilitação”. E, de acordo com a investigadora, prepara-se agora para ser implementada num piloto de maior escala e duração no mesmo hospital.
A solução foi distinguida com o terceiro 3.º Prémio de Investigação, atribuído pela Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros, no V Encontro Científico – Investigação em Enfermagem: Interdisciplinaridade e Inovação, que decorreu no IPO do Porto. O desenvolvimento da PASSiON Care envolveu uma equipa multidisciplinar que articula engenharia e saúde, e que contou com Duarte Lopes, estudante do Mestrado em Engenharia Informática da FEUP e Anabela Amarelo, estudante do Programa Doutoral em Ciências da Enfermagem do ICBAS, com supervisão de Marta Campos Ferreira, que além de investigadora do INESC TEC é também docente na FEUP, e Carla Silvia Fernandes, docente na ESS-IPVC.
A investigadora mencionada na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

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