O projeto AgWearCare usou wereables para captar e digitalizar dados que podem apoiar o trabalho agrícola e ajudar a prevenir lesões músculo-esqueléticas. Na sequência do projeto, os investigadores submeteram ainda uma patente.
Muito do trabalho agrícola ainda é fisicamente exigente. E apesar da tecnologia estar cada vez mais presente nas explorações agrícolas e a indústria apostar na digitalização, há trabalho que só pode ser feito manualmente por pessoas. Mas e se a tecnologia pudesse ajudar a proteger o agricultor de um trabalho altamente desgastante? O INESC TEC desenvolveu uma solução capaz de extrair métricas que permitem analisar a saúde e bem-estar dos trabalhadores através da monitorização das tarefas e intensidade do trabalho.
O projeto AgWearCare teve no “bem-estar” e na “produtividade” duas palavras-chave no processo de desenvolver um sistema de monitorização dos agricultores para apoiar na gestão da sua saúde ocupacional, assim como na gestão agrícola das culturas e recursos humanos Como? Recolhendo dados de sensores proprietários do INESC TEC. Os testes foram realizados em trabalhadores a operar três tipos de culturas: vinha, oliveiras e kiwis.
Os agricultores foram para o terreno com wereables (dispositivos vestíveis que recolhem dados) – e é partir da análise dos dados recolhidos que se pretende moldar decisões no terreno. “Com a medição de métricas geolocalizadas do trabalhador, é também possível perceber que zonas da cultura obrigam a um maior ou menor esforço, o que por si também pode indicar uma maior ou menor densidade na cultura em questão”, explica Duarte Dias, investigador do INESC TEC.
A ideia deste novo conceito, assim como os dados recolhidos, permitiram mesmo aos investigadores submeter uma patente para determinar o estado da cultura através da análise da atividade do agricultor. Mas essa análise pode ter consequências imediatas no terreno? A resposta é sim – e pode ter um impacto importante na jornada de trabalho.
“Um dos exemplos mais práticos é o número de cortes que um agricultor pode fazer durante uma atividade como poda ou apanha da fruta, por exemplo, que é indicativo do esforço do trabalhador, mas é também indicativo da quantidade de poda e apanha da fruta que foi feita em determinada zona da cultura”, refere o investigador.
Demonstração final do projeto aconteceu em junho, no INESC TEC.
A partir desta monitorização é possível criar estratégias para reduzir o risco de problemas musculares e possíveis lesões, assim como ter informação sobre o estado da cultura sem a introdução de tecnologia que necessite de uma operacionalização especializada (robots terrestres ou drones).
No INESC TEC, o projeto contou com a colaboração de dois centros: C-BER e LIAAD – e teve a contribuição dos investigadores Adriana Arrais, João Paulo Cunha, João Mendes Moreira, Nuno Costa e Aníbal Ferreira e Silva. Liderado pela empresa Wise Connect S.A, e com a colaboração do Instituto Superior de Agronomia e da APPITAD – Associazção dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro, o AgWearCare poderá ainda ajudar os gestores agrícolas a conhecer melhor o trabalho individual de cada um dos trabalhadores.
“A tecnologia levantou interesse da empresa líder do projeto – a Wise Connect S.A. –, que pretende continuar o desenvolvimento do sistema para que seja um add-on na plataforma comercial da empresa denominada WiseCrop”, refere Duarte Dias. No futuro, está prevista a realização de testes piloto em conjunto com o INESC TEC para validação da tecnologia no terreno.
O AgWearCare – Wearables para Monitorização das Condições de Trabalho no Agroflorestal foi financiado pelo programa nacional Portugal2020 num valor total de 289 mil euros. O projeto terminou em junho e o evento final aconteceu no INESC TEC.