A IAMOT 2024 foi uma conferência incrível, repleta de contribuições valiosas e momentos inesquecíveis. Como co-chair da conferência e investigadora nesta área, é um prazer poder partilhar as principais conclusões e o que podemos esperar para o futuro da gestão da tecnologia, tanto do ponto de vista da investigação quanto da indústria.
A comunidade IAMOT (International Association for the Management of Technology) é muito grande e com representantes em todo o mundo. Por isso, as conferências IAMOT recebem pessoas de quase todos os continentes. Este ano, e pela primeira vez, realizou-se em Portugal. No Porto estiveram 230 participantes de praticamente todos os continentes – ficou a faltar a Oceânia – representando mais de 30 nacionalidades diferentes.
A equipa de organização da IAMOT 2024 tinha como missão que esta conferência fosse recordada pelos participantes como a melhor conferência em que tinham participado, ou, pelo menos, que estivesse no top das melhores. Com este desígnio em mãos começamos a trabalhar muito cedo no seu planeamento, com mais de um ano de antecedência. Começamos por tratar dos aspetos operacionais e logísticos que têm de ser assegurados com muita antecedência, como por exemplo o local. O edifício da Alfândega do Porto foi o eleito, com a sua arquitetura histórica e localização deslumbrante junto ao rio Douro, é um dos locais mais emblemáticos da cidade do Porto, tornando-se o cenário perfeito para acolher a IAMOT 2024.
Convidei para a equipa da organização o Ricardo Zimmermann, para me apoiar nas atividades científicas, e o Gustavo Dalmarco, para a área de comunicação. Cada um de nós formou a sua “mini” equipa e, assim, para além de nós os três, integraram a equipa de organização mais sete elementos: Grasiela Almeida, Marta Oliveira, Ana Silva, Sthefan Berwanger, Henrique Silva, Pedro Senna e José Pedro Rodrigues, cada um deles com áreas específicas.
Para garantir que a IAMOT 2024 cobria amplamente o tema “Human-Centred Technology Management for a Sustainable Future”, selecionamos cuidadosamente os keynote speakers garantindo que eram os melhores nas suas áreas, mas que também reuniam competências de excelentes comunicadores. No fundo, que apresentassem contribuições valiosas, que realmente fizessem a diferença com as suas intervenções. João Claro, co-chair da IAMOT e atualmente presidente do INESC TEC, teve uma contribuição muito importante na ajuda da identificação destes keynote speakers.
Jeremy Hall, Professor e Diretor da SPRU – Science Policy Research Unit -, da University of Sussex Business School (Reino Unido), abordou o papel da gestão das operações e da cadeia de abastecimentos na crise climática. Destacou três abordagens: adaptação, mitigação e tecnologias de emissões negativas (NETs). A necessidade de políticas de suporte robustas para promover essas inovações foi um ponto crucial, especialmente em setores impulsionados por mandatos sociais, mas sem incentivos comerciais claros.
Katja Tschimmel, Managing Consultant da Mindshake e professora convidada da Universidade do Porto e da Porto Business School, enfatizou a importância da criatividade e do design na sustentabilidade. Através de projetos de design participativos, Katja mostrou como o pensamento criativo e centrado no planeta pode gerar práticas ecológicas e produtos ambientalmente conscientes.
Finalmente, António Murta, Sócio-Gerente da Pathena SGPS S.A., explorou o potencial transformador da Inteligência Artificial (IA) médica nos cuidados primários e hospitalares. Destacou como a IA está a revolucionar a prestação de cuidados de saúde, automatizando diagnósticos, otimizando planos de tratamento e melhorando os resultados dos pacientes.
Para as mesas redondas, escolhemos temas que cobrissem o tópico da conferência, “Human-Centred Technology Management for a Sustainable Future”. Selecionámos moderadores muito experientes e participantes relevantes nas respetivas áreas, garantindo discussões ricas e aprofundadas que realmente acrescentaram valor e promoveram um debate significativo sobre os desafios e oportunidades nesta área.
A mesa-redonda “Sustainability Practices in Industry”, moderada por Américo Azevedo, discutiu como as indústrias podem adotar práticas sustentáveis, utilizando tecnologia para criar cadeias de valor circulares, reduzir emissões de CO2 e melhorar a transparência da cadeia de suprimentos. Os participantes partilharam iniciativas chave, desafios enfrentados e o papel da inovação tecnológica nas suas empresas.
Estas discussões destacaram a importância de as empresas integrarem práticas sustentáveis e tecnologias inovadoras nas operações diárias. As empresas devem adotar uma abordagem proativa, investindo em tecnologias que não só melhorem o desempenho financeiro, mas que também reduzam o impacto ambiental e promovam a responsabilidade social. A colaboração entre setores, governo e academia será fundamental para criar soluções que atendam às necessidades complexas e interconectadas da sociedade atual.
Já António Lucas Soares moderou a mesa “With the Machine: Exploring Human-Centricity in Industry 5.0”, onde se explorou a evolução do conceito de centralidade no ser humano, especialmente com a integração da IA. Foram debatidos os desafios de alinhar os avanços tecnológicos com os valores e a ética humana, e a importância de desenvolver tecnologias que promovam o bem-estar e a inclusão das pessoas.
Na mesa “In Search of Rigour and Relevance: What Drives the Impact of MOT”, moderada por Gita Surie, editores de revistas de topo discutiram como preparar artigos de gestão da tecnologia (MOT) impactantes, equilibrar rigor de pesquisa com relevância e envolver efetivamente o público-alvo. O equilíbrio entre rigor e relevância prática na investigação foi um ponto central, com os editores a partilhar estratégias para abordar esses desafios.
A gestão da tecnologia está em constante evolução, e a investigação nesta área deve continuar a focar em inovações que não só melhorem a eficiência e a produtividade, mas que também promovam a sustentabilidade e a inclusão social. Devemos explorar mais profundamente as interseções entre tecnologia e as pessoas, assegurando que os avanços tecnológicos respeitem e promovam valores humanos essenciais. Como investigadora, acredito que a colaboração interdisciplinar e o pensamento criativo serão cruciais para enfrentar os desafios futuros e aproveitar as oportunidades emergentes.
Por Ana Simões, Investigadora Sénior