O Science Bits ou o admirável mundo das conversas entusiasmantes

Por Sofia Maciel, Técnica Especialista do Serviço de Comunicação (SCOM)

Quero, ao longo das próximas linhas, escrever-vos sobre o podcast do INESC TEC, o Science Bits, e contar-vos a minha experiência ao comando deste formato, desde o início de 2022. Tem sido um desafio, mas já vos digo porquê. Antes, gostava de vos deixar com alguns números. 424 milhões. Este é o número estimado de pessoas que, globalmente, ouve podcasts. Nos próximos tempos, prevê-se que a comunidade de ouvintes cresça até ultrapassar os 500 milhões, no final de 2024. 2,4 milhões. Este é o número de podcasts que se acredita existir a nível mundial. No seu conjunto, os podcasts deverão resultar em qualquer coisa como 66 milhões de episódios. Se olharmos para Portugal, um estudo do OberCom – Observatório da Comunicação, de abril do ano passado, diz-nos que cerca de quatro em cada 10 (41,5%) portugueses que utilizam a internet escutaram algum podcast no mês anterior – se ouviram um podcast em dezembro, fazem certamente parte deste grupo. A tendência? Que o ecossistema de podcasting continue a crescer e que se torne – ainda mais – parte das nossas vidas. 

Há vários aspetos que me parecem fazer do podcast um formato apetecível, seja para quem o produz, seja para quem o ouve e até para quem o vê, assumindo que muitos podcasts e respetivos episódios estão, hoje, também disponíveis em formato vídeo. Desde logo, a autenticidade, a proximidade e a facilidade. A autenticidade na forma como nos são apresentados os conteúdos, contadas as estórias e conduzidas as entrevistas. Não que não haja preparação, que a há, mas porque, de alguma forma, enquanto ouvintes somos levados para uma conversa, por exemplo, como se dela fizéssemos parte ainda que não consigamos interagir com os intervenientes. Isto leva-me à proximidade. Escolhemos os temas que nos interessam, as pessoas que queremos ouvir, o horário que nos é mais conveniente e deixamo-nos ficar com elas durante uma viagem de carro ou uma caminhada. Daí a facilidade. Podemos ouvir enquanto conduzimos, enquanto corremos, enquanto cozinhamos. Podemos interromper um episódio e retomar mais tarde. São poucos os limites que o formato nos impõe. Acho que é por isso que gostamos tanto dele. Esta é a minha perspetiva enquanto ouvinte. Agora, quero partilhar convosco a minha experiência enquanto profissional de comunicação que tem a seu cargo a produção de um podcast, no caso, o Science Bits. Mais: quero explica-vos porque é que é um formato tão interessante para comunicar ciência.  

Tenho em mãos o Science Bits desde 2022. Quando me foi passado o testemunho, senti, por um lado, a responsabilidade de dar seguimento a um projeto com dois anos, que vinha sendo feito com tremenda dedicação pelos meus colegas e, por outro, a felicidade de poder trabalhar um formato que nunca até aí havia trabalhado, mas que quase diariamente consumia. Passado um ano, posso dizer-vos com certeza que tem sido uma experiência desafiante, porque comunicar ciência e tecnologia é isso mesmo, um desafio. Mas tem sido, também, gratificante, sobretudo pela forma como os investigadores se disponibilizam, se entusiasmam e, sem grandes dúvidas, aceitam o desafio e embarcam em cada um dos episódios, conversando comigo e explicando, para tantos quantos os – nos – quiserem ouvir, sobre o trabalho que fazem. E eu entusiasmo-me com eles e sobretudo com a forma como falam sobre a sua investigação, os obstáculos que enfrentam, mas que não os demovem, as formas que encontram para avançar, os resultados que alcançam e a vontade que têm de fazer algo que impacte a vida das pessoas. Por isso é que acredito que este formato é tão interessante – e relevante – para comunicar ciência, porque é nada mais nada menos do que uma conversa. E, numa conversa, pode caber tudo o que quisermos, incluindo quem nos ouve. Há uma simplicidade, uma naturalidade – a tal autenticidade que referi acima – na conversa, que nos torna próximos e que nos permite partilhar. É certo que há um trabalho de preparação importante, antes da gravação, de pesquisa e de definição dos temas, dos projetos, das tecnologias ou soluções que vamos abordar. É da interação com os investigadores que surge um guião que orienta a conversa. Mas há algo que não vem da preparação: a felicidade com que falamos das coisas que nos entusiasmam e que é quase palpável – ou, neste caso, audível – na forma como nos expressamos. O Science Bits é isso mesmo, um espaço para conversas entusiasmantes e partilha de estórias sobre ciência e tecnologia. Este é o meu convite para que se deixem entusiasmar.

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