A VIDA – Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento Africano – é uma organização não governamental portuguesa que ajuda as pessoas a desenvolverem as suas capacidades e o potencial da terra onde vivem, com vista a um desenvolvimento humano sustentável e justo.
Estivemos à conversa com a equipa da VIDA sobre a recente colaboração com o INESC TEC.
Recentemente, o INESC TEC colaborou com a VIDA no âmbito do projeto “Linha de Saúde 24h”. Quais são os principais objetivos do projeto?
O principal objetivo deste projeto é disponibilizar à população da Guiné-Bissau um centro de contacto telefónico 24 horas/7 dias por semana que abrange todo o território, realizando a triagem, o aconselhamento e o encaminhamento de situações de saúde não urgentes e urgentes. É um serviço totalmente gratuito que contribui para garantir um acesso mais equitativo aos serviços de saúde, sobretudo em áreas geográficas de difícil acesso e de grande isolamento – existem zonas em que se chega apenas de barco e outras que, na época das chuvas, ficam em isolamento total. Para se ter uma ideia, a distância de uma aldeia à estrutura de saúde mais próxima pode variar entre 3 a 25 km, muitas vezes percorridos a pé. No entanto, a maioria das pessoas já têm atualmente acesso a um dispositivo e rede móvel – o que permite de forma simples contactar e receber o apoio necessário junto de um técnico de saúde.
A Linha de Saúde 24h surge no seguimento de uma experiência de trabalho anterior com o centro de atendimento telefónico para a COVID-19, coordenado pela VIDA entre 2020 e 2022, e que se demonstrou particularmente importante pela aproximação à população, assegurando o acesso a serviços de saúde especializados em plena pandemia. Esta experiência deu-nos uma clara ideia do caminho que poderíamos seguir para manter a proximidade da população ao acesso à saúde, intervindo de forma complementar ao serviço nacional de saúde.
Quais são os resultados alcançados até ao momento?
Apesar da data inicial do projeto ser 1 de novembro de 2023, a Linha de Saúde 24h ficou operacional a partir do dia 8 de julho de 2024, após o processo de criação e de instalação do programa informático de suporte à Linha de Saúde – desenhado em parceria com o INESC TEC – e do recrutamento e formação integral a toda a equipa técnica de saúde e de apoio ao projeto.
Nos primeiros 4 meses de funcionamento da Linha de Saúde 24h, foram realizadas 3 120 chamadas de todas as regiões do país, 73% das quais ligadas a questões de saúde, 7% de denúncias de atos ilícitos em serviços do Estado e 3% relativas a eventos de proteção civil (acidentes, violência, incêndios, entre outros). 74% das chamadas recebidas foram relativas a utentes entre os 15 e os 34 anos de idade, o que corresponde à maior franja da população na Guiné-Bissau. Dado o contexto e a novidade deste tipo de serviço, podemos dizer que a avaliação dos primeiros meses é positiva, com um número considerável de chamadas. Acreditamos que tenderá a aumentar à medida que as pessoas vão ganhando confiança neste serviço, que sintam que a sua experiência foi bem-sucedida, e que a equipa da Linha de Saúde 24h ajudou, de facto, a aconselhar, a resolver ou a encaminhar a sua situação. Para além do plano de comunicação planeado, julgamos que será valiosa a passagem da palavra de boca em boca que dará maior conhecimento e credibilidade a este serviço.
Como avaliam a experiência junto do INESC TEC?
A parceria com o INESC TEC foi fundamental para desenvolver, com qualidade, o sistema informático de suporte ao serviço telefónico, tendo em conta todas as características do contexto do país, os desafios técnicos e as necessidades sentidas.
Os dois elementos da equipa INESC TEC com quem trabalhámos – João Marco Silva e Pedro Moreira – incansáveis, estiveram, em Bissau com a equipa da Linha de Saúde 24h, onde realizaram a instalação do sistema informático e a respetiva formação para a sua utilização. Ao longo de todo o processo, a equipa do INESC TEC mostrou-se totalmente empenhada e disponível para esta “missão”. Foi uma aprendizagem muito profícua e colaborativa, quer para a equipa na sede em Portugal, quer para a equipa do projeto em Bissau.
A parceria VIDA e INESC TEC apostou na modernização tecnológica dos cuidados de saúde, porém, sempre adaptada ao contexto e tendo em conta as condicionantes e particularidades do território da Guiné-Bissau – fator também crucial para o sucesso do funcionamento da Linha de Saúde 24h.
De que forma poderá esta colaboração contribuir para avanços nos serviços básicos na Guiné-Bissau?
A disponibilização da Linha de Saúde 24h à população permite, em primeiro lugar, uma resposta imediata e profissionalizada no setor da Saúde, num país com áreas geográficas distintas, de difícil acesso e, muitas vezes, isoladas. Em segundo lugar, é uma solução concreta e viável que ajudará a fazer face a algumas das fragilidades do sistema de saúde na Guiné-Bissau, como a cobertura universal de saúde, a inexistência de um sistema de referenciação em saúde e a dificuldade na resposta integrada a emergências. Este serviço obriga a uma maior articulação de diferentes entidades e ministérios ligados à saúde e proteção civil para providenciar mais e melhores respostas aos seus cidadãos.
Por último, o facto de o sistema informático desenvolvido especificamente para a Linha de Saúde 24h, ser de fácil utilização pela equipa e permitir, não só as tarefas de triagem, aconselhamento e encaminhamento, mas também a produção de relatórios sobre os diferentes atendimentos prestados à população, ajudar a obter dados atualizados e fiáveis que apoiarão os respetivos ministérios e entidades do estado, assim como parceiros internacionais, nas suas tomadas de decisões e definição de políticas.
O que podemos esperar da VIDA nos próximos anos?
A VIDA, enquanto organização não governamental para o desenvolvimento (ONGD), continuará empenhada no seu trabalho de presença contínua e compromisso na Guiné-Bissau e em Moçambique, os dois PALOP onde se encontra a trabalhar há mais de 30 anos. É fundamental assegurarmos, não só a colaboração com diferentes atores e parceiros nacionais e internacionais nas diferentes áreas de intervenção como saúde e população; recursos naturais, alimentação e clima; geração de rendimentos e promoção da resiliência, e educação para o desenvolvimento e cidadania global, mas também a capacitação contínua dos recursos humanos locais, por forma a permanecerem e fortalecerem as suas sociedades e economias. Se já considerávamos o Desenvolvimento integrado a palavra chave na nossa estratégia de intervenção, ao olharmos para o contexto mundial atual, acreditamos que não é possível intervir de outra maneira nestes países.
Esperamos que se possam abrir janelas de oportunidade para futuras colaborações com o INESC TEC, permitindo aliar a ciência e a tecnologia a um desenvolvimento mais justo e solidário e à melhoria de vida das pessoas em qualquer parte do mundo.