Valores da Prática e a Prática dos Valores

Muito se debate sobre a pertinência e o impacto dos valores de e para uma organização. É indiscutível que os valores, ao tentarem descrever a cultura em permanente desenvolvimento, motivam e orientam o comportamento individual e coletivo. No entanto, muitas organizações acabam por recorrer ao mesmo conjunto de descritores, perdendo-se a tão desejada singularidade dos valores. Noutras, há um distanciamento entre a forma como a organização atua  e os valores declarados.

Não obstante os cinco valores do INESC TEC estarem associados ao seu motto distintivo de promover uma inteligência ubíqua, será que agimos por consciência deles? Ou será que eles decorrem do caminho percorrido ao longo de 35 anos? E será que são reconhecidos por todos?

A Liberdade de Investigação, devidamente balizada por princípios éticos e deontológicos, permite-nos desafiar paradigmas estabelecidos e a fronteira do conhecimento. Os resultados da investigação são permanentemente escrutinados, revistos e validados pela comunidade científica internacional. Mas teremos autonomia para escolher o que investigar? Onde e quando publicar? Não estará esta liberdade refém de inúmeras circunstâncias que condicionam a nossa atuação?

A obsessão por valorizar o conhecimento, maximizando a transferência de tecnologia e a conversão de novos avanços em impacto social e económico, resulta na procura da Excelência da Inovação, tão importante para a sustentabilidade do INESC TEC. Mas será que esta obsessão não nos tolda a objetividade na caracterização dos TRLs (Technology Readiness Level), associados à maturidade de cada tecnologia? Estaremos a conseguir alimentar cada estágio da cadeia de valor do conhecimento?

A Cooperação tende a materializar-se internamente, na associação de pessoas e grupos de diferentes áreas científicas para solucionar de uma forma holística e multidisciplinar desafios de complexidade elevada, e externamente, com parceiros que deverão alavancar a ambição da nossa intervenção. Mas será que potenciamos a fertilização cruzada do saber, dilatando o espaço de soluções? Poderão os nossos egos priorizar os interesses individuais em prol dos coletivos?

A Centralidade nas Pessoas toma uma importância ainda mais relevante numa instituição como o INESCTEC, não só pela coexistência de múltiplos perfis de colaboradores com expectativas muito diferenciadas, espalhados por 13 centros investigação em 6 pólos, mas também pelas duas centenas de profissionais altamente especializados que todos os anos transferimos para os nossos parceiros. Será que há um processo contínuo de alinhamento entre os interesses e competências do colaborador, e as oportunidades proporcionadas pelo INESC TEC? Será que o talento é gerido e desenvolvido ao longo do seu ciclo de vida na organização?

O quinto valor, a Responsabilidade Social, instancia-se no dia-a-dia na estreita relação entre as recomendações de políticas públicas que o INESC TEC formula e os problemas reais da sociedade, e na relevância social da investigação que desenvolve. Emerge da nossa atividade o espírito de serviço público. Será que, concomitantemente, promovemos um comportamento organizacional responsável, baseado em práticas éticas, participativas e ambientalmente sustentáveis?

Serão estes valores aspiracionais? Farão já parte do nosso ADN? Para que sejam incutidos, é imperativo que nos interroguemos sobre cada uma das suas práticas. Só assim poderão inspirar e guiar o nosso modus operandi, para benefício de todos os stakeholders: colaboradores, clientes, parceiros e associados!

 

Bernardo Almada Lobo, Administrador do INESC TEC

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