Uma equipa internacional de investigadores, onde se inclui o investigador do Laboratório de Software Confiável (HASLab) do INESC TEC, Carlos Baquero, está a estimar o número de casos reais com sintomas de COVID-19 e a sua evolução em onze países, tendo por base uma sondagem aberta online partilhada nas redes sociais.
Qualquer pessoa pode aceder ao inquérito, que está disponível online aqui, e só tem de responder a duas questões: quantas pessoas conhece na sua área geográfica e quantas destas apresentam sintomas compatíveis com COVID-19 (ou foram diagnosticadas com esta doença)? A resposta é anónima e, ao contrário de outros inquéritos, não é perguntada à pessoa qual a sua situação em relação à doença.
Os dados são depois tratados e processados para eliminar respostas com valores discrepantes, usando técnicas estatísticas. Finalmente, são comparados com outras estimativas, que inferem o número de casos a partir da evolução da mortalidade que é reportada nos dados oficiais e da sua relação com a mortalidade dos casos reportados em Wuhan (cerca de 1.4%), para validar a sua precisão. Para Carlos Baquero, que faz parte do grupo de investigadores do estudo designado “Medir o Iceberg”, a vantagem deste método é a sua simplicidade, proximidade com os casos reais e anonimato.
“Ao contrário da simples observação do número de casos confirmados e reportados nos dados oficiais, e que têm sempre alguma dependência dos números de testes efetuados a cada dia, a nossa análise baseia-se num questionário à população. Embora as nossas estimativas não sejam totalmente precisas, espera-se que estejam na mesma ordem de magnitude do valor real, dando-nos uma perspetiva mais próxima do potencial de casos existentes que não foram identificados para testes. O que temos observado é que as estimativas são muito semelhantes a outros métodos indiretos utilizados”, afirma o investigador do INESC TEC e professor na Universidade do Minho.
O que dizem os dados
Os resultados são atualizados diariamente e podem ser vistos aqui. O estudo não fornece apenas um número diário total de infetados sintomáticos, mas também permite observar a evolução da doença. Em Espanha, país onde o estudo começou e é liderado, os dados do dia 6 de abril apontavam para cerca de três milhões de casos, número muito superior ao oficial do governo estimado naquele dia em 130 mil, mas mesmo assim inferior a um estudo do Imperial College que apontava 15% da população infetada, das quais uma parte serão casos com sintomas.
Em Portugal, os dados do dia 6 de abril sugerem 84 mil casos (margem de erro na ordem de 30 mil). “Nós não pretendemos criar alarmismos. O nosso objetivo é aperfeiçoar este tipo de instrumento, validar a sua utilização e aplicá-lo no futuro em outras situações. Havendo regiões do mundo com menos capacidade de teste laboratorial, mas onde os meios digitais já oferecem uma boa abrangência, este tipo de abordagem poderá revelar-se um complemento útil para o acompanhamento rápido da evolução de pandemias.”, reforça Carlos Baquero.
A investigação começou em Espanha no início de março e foi sendo alargada progressivamente a outros países. O estudo está agora a ser feito em Portugal, Argentina, Chile, Chipre, França, Alemanha, Grécia, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, estando em expansão a mais países. A equipa é liderada pelo investigador Antonio Fernandez Anta do IMDEA Networks, um instituto espanhol que faz investigação em redes de dados. Em Portugal, além de Carlos Baquero, participa no estudo Raquel Menezes, docente da UMinho.
Mais informações sobre o estudo em: https://coronasurveys.com/
O investigador do INESC TEC mencionado na notícia tem vínculo à UMinho.