João Claro, CEO do INESC TEC, foi orador num dos workshops da European Week of Regions and Cities, o maior evento anual, com sede em Bruxelas, dedicado à coesão política, organizado pela DG REGIO (a Direção Geral da Comissão Europeia para políticas regionais e urbanas) e o Comité das Regiões Europeu.
O CEO do INESC TEC integrou o painel de discussão do workshop “Capacitar regiões através da ciência: de que forma os centros de investigação e de inovação podem reter talento e impulsionar o crescimento” (na versão original: “Thriving regions through science: how innovative research centres can retain talent and drive growth”), organizado pelo European Research Council (ERC) no âmbito desta semana dedicada à coesão. No painel de discussão, que contou com a moderação da presidente do ERC, Maria Leptin, participaram ainda Maria da Graça Carvalho, membro do Parlamento Europeu, e David Uhlíř, diretor de estratégia do centro de inovação da Morávia do Sul (uma região localizada na Chéquia).
O objetivo da discussão centrou-se no modo como a ciência pode contribuir para o crescimento regional e a coesão social. Nesse sentido, foram apresentados dois exemplos de centros de investigação, o INESC TEC, em Portugal, e o CEITEC (Central European Institute of Technology), na Chéquia, duas instituições de I&D que já receberam financiamento do ERC em bolsas de investigação. No caso do INESC TEC, a atribuição foi feita em 2015, a Alexandra Silva, e em 2022, a Bruno Loff, quando os dois eram investigadores na instituição, cada uma das bolsas num valor de 1,5M€ para continuarem a desenvolver as suas atividades de I&D. Já o CEITEC tem, atualmente, cinco investigadores com bolsas ERC.
“Um dos pontos de partida da conversa foi explicar como é que centros de I&D no Norte de Portugal e na Morávia do Sul conseguem aproveitar, com sucesso, múltiplas fontes de financiamento da EU, desde fundos estruturais ao Horizonte Europa e às bolsas do ERC. Um dos exemplos que dei foi o trabalho que levou ao lançamento da nossa spin-off iLoF, em que fundos nacionais e estruturais apoiaram a investigação científica inicial, e um programa europeu, o EIT Health, apoiou a fase de comercialização. Este é um exemplo da capacidade de colmatar uma lacuna com iniciativas europeias, promovendo o crescimento económico e o desenvolvimento, a retenção e a atração de talentos a nível regional”, explica João Claro.
Um dos pontos fulcrais da discussão foi precisamente a forma como os centros de I&D podem reter talento em regiões europeias beneficiando, assim, a sociedade como um todo e como a construção de pontes, através dos diferentes programas de financiamento disponibilizados pela União Europeia (EU), podem fazer beneficiar o crescimento regional.
O CEO do INESC TEC deu ainda outros exemplos de como a combinação destes apoios conseguem sustentar, no longo prazo e de diferentes formas, um trabalho de I&D sólido e com grandes resultados, destacando o exemplo da área das smart grids e da integração de renováveis em que a instituição é uma referência a nível europeu. Nesta área salientou as complementaridades entre diferentes eixos de trabalho como a criação de infraestruturas nacionais de I&D, a forte participação em projetos europeu, com posições muitas vezes de liderança – por exemplo o caso do projeto InterConnect, o maior alguma vez liderado por uma instituição portuguesa, financiado em 38M€ pelo programa de financiamento H2020 -, e a consultoria avançada com alcance internacional, com geografias como os EUA ou o Brasil.
Foi ainda discutida a forma como a EU pode ajudar países com menos desempenho a recuperarem o seu atraso, no âmbito do programa Horizonte Europa. João Claro destacou alguns pontos, tais como “melhorar o apoio a iniciativas mais estratégicas, mais alargadas e de longo prazo, favorecendo a integração de investigação interdisciplinar, comercialização, formação, desenvolvimento de infraestruturas e avanços nas políticas públicas”.
Portugal e Chéquia foram os dois exemplos escolhidos, pelas semelhanças que apresentam no que diz respeito à posição que ocupam na União Europeia em termos de investigação e desenvolvimento. Veja-se o caso dos índices de intensidade de I&D no que diz respeito ao produto interno bruto, que são muito semelhantes (1.7% para Portugal e 1.8% para a Chéquia), ambos abaixo da média da Europa dos 27, 2,3%. Os dois países considerados “inovadores moderados”, com desempenhos acima da média europeia, têm número de investigadores também acima da média dos 27, mas com pedidos de submissão de patentes abaixo da média europeia. Já no que diz respeito a financiamento do ERC, entre 2007 e 2022, Portugal angariou um total de 253 milhões de euros com a concessão de 139 bolsas de investigação, enquanto a Chéquia angariou 109 milhões de euros, com 63 bolsas.
Também os dois institutos que integraram o painel de I&D têm dimensões semelhantes. Ambos têm cerca de 750 investigadores e mais de mil colaboradores e uma participação ativa e preponderante em financiamentos europeus, através dos vários programas disponibilizados pela Comissão Europeia.
A European Week of Regions and Cities reúne todos os anos diferentes perfis, que vão desde políticos, a decisores, a especialistas, setor empresarial, organizações da sociedade civil, universidades, instituições da EU e até meios de comunicação social, para juntos discutirem desafios comuns para as regiões e cidades europeias.
O investigador mencionado na notícia tem vínculo ao INESC TEC e à UP-FEUP.