A Inteligência Artificial (IA) está a mudar a forma como se faz investigação, trazendo oportunidades únicas em termos de novas descobertas e de inovação. O potencial transformador da IA e os desafios a ela associados foram alguns dos temas do nosso mais recente evento: “Leadership in Research and Innovation in the Age of AI”. Em seguida, apresento algumas das minhas principais conclusões sobre esse mesmo evento, e também algumas bases importantes para o desenvolvimento de um roteiro para a integração responsável da IA na investigação.
A integração da IA na investigação tem vindo a acelerar e a transformar a forma como realizamos experiências e analisamos dados, permitindo avanços em vários domínios, e contribuindo para a automatização da análise de dados complexos – de forma a gerar hipóteses mais rápidas ou a melhorar a disseminação de resultado. A análise e as recomendações do Mecanismo de Aconselhamento Científico da Comissão Europeia, ou do Relatório do Índice de Inteligência Artificial 2024 (Universidade de Stanford), destacam os rápidos avanços e a crescente relevância da IA em vários domínios científicos, bem como a necessidade de adoção responsável da IA.
Uma liderança mais eficaz na investigação com base em IA traduz-se no desenvolvimento de uma visão concreta, que deve ultrapassar as fronteiras individuais das nossas organizações. Este processo de visão deve abranger fatores externos, integrar capacidades científicas, e conduzir a uma transição: passar de uma abordagem defensiva, para uma abordagem mais ousada. A liderança deve, assim, dar prioridade às metas de transição, investir estrategicamente e acompanhar o progresso e os resultados, promovendo também a cooperação interna e externa, e adaptando-se rapidamente a um panorama de IA em rápida evolução.
A comunidade académica precisa de estar devidamente preparada para a integração da IA, e.g., formação avançada, especialmente no que diz respeito à liderança, e ao acesso a especialistas em IA. Abordar fatores não-técnicos, como a ética e a privacidade, e promover uma cultura de abertura e experimentação é vital; além disso, procurar equilibrar a adaptação de pessoas e tecnologias de IA será fundamental para um processo de implementação bem-sucedido.
O foco necessário para uma investigação mais aprofundada apresenta alguns desafios em termos de integração de IA. O potencial da IA poderá traduzir-se em benefícios para os grupos de investigação multidisciplinares, organizados em torno do poder computacional, levando a novos padrões de colaboração e de criatividade. A ligação entre disciplinas e clusters organizacionais também pode facilitar a agregação de dados diversos, para benefício das aplicações de IA.
Os alicerces da IA irão, também, fomentar novas ideias e formas de pensar, promovendo uma maior criatividade no desenrolar de atividades de investigação. Desenvolver plataformas e disponibilizá-las para encorajar essa mesma criatividade, baseada em IA, será um passo essencial, dado o seu potencial para a Ciência Cidadã. No que diz respeito às lideranças, promover a criatividade será um processo cada vez mais um importante num ecossistema de investigação em constante evolução.
Defender a reorganização das políticas, as infraestruturas e o financiamento é outra tarefa de grande relevância. Tornar públicos os dados e as plataformas de IA, promovendo a partilha de recursos e a capacidade de expansão são passos necessários para acompanhar os avanços do setor. Navegar na complexa dinâmica da indústria e das influências geopolíticas requer um equilíbrio entre várias categorias de impacto, e o envolvimento de diversos stakeholders.
A IA carrega em si a promessa de transformar a investigação científica, com uma integração que deve ser gerida de forma responsável. A colaboração entre investigadores, decisores políticos e a indústria será fundamental para garantir que os benefícios da IA são maximizados, e que os riscos a ela associados são eficazmente mitigados. O caminho a seguir requer abordar o potencial da IA, bem como os desafios éticos, sociais e técnicos relacionados.
Por João Claro, Presidente do Conselho de Administração e Presidente da Comissão Executiva do INESC TEC