Spinoff INESC TEC no top 11 mundial da Revista Nature

O prémio anual da prestigiada revista Nature, atribuído a spinoffs de base científica – cuja investigação seja original e inovadora e com potencial comercial -, selecionou onze empresas a nível mundial.  Nascida no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), há uma portuguesa na lista – a Seedsight. A empresa portuguesa tornou possível, pela primeira vez no mundo, a análise de sementes e grãos em menos de um minuto, maximizando, assim, a disponibilidade de alimentos.

A Seedsight, spinoff do INESC TEC, que criou as condições de base para o nascimento da empresa, numa estratégia assente no apoio ao empreendedorismo deep tech, está também incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U. Porto. A spinoff concluiu ainda recentemente um dos mais prestigiantes programas de aceleração do mundo, de acordo com a revista Forbes, – o Techstarts – e tem vencido uma série de prémios, a nível mundial.

“As spinoff são uma força motriz para a prosperidade da região e do país. Perseguem desafio societais globais e são trabalhadas para alavancarem o talento e o conhecimento gerado em organizações como o INESC TEC. A condição periférica de Portugal e a falta de tecido industrial pronto para adoção de tecnologias de ponta, deixa muito claro que a via das spinoffs, apesar de arriscada e demorada, é a via certa para ajudar a preparar o futuro e valorizar o conhecimento gerado”, explica Daniel Vasconcelos, responsável pelo serviço de apoio ao licenciamento do INESC TEC.

O papel da Seedsight

A sobrevivência dos sistemas alimentares, nomeadamente a qualidade, disponibilidade e acessibilidade de alimentos essenciais como os cereais e as sementes, é um dos grandes desafios atuais. O tempo e o elevado custo dos processos de avaliação da qualidade dos grãos fazem com que grandes quantidades de matérias sejam descartadas por degradação ou por baixa qualidade. Mas Portugal está na linha da frente na resolução desse problema, com uma plataforma que cataloga diretamente sementes e grãos e que tem, ao mesmo tempo, capacidade de validar a sua qualidade, assim como prever a sua produtividade (ex: quantas toneladas de farinha poderá originar) através de análises biomoleculares e biofísicas de baixo custo, em menos de um minuto.

O objetivo da Seedsight, com o desenvolvimento desta tecnologia, é o de dotar a cadeia agroalimentar com o conhecimento necessário para melhorar o processo de decisão na aquisição de matérias-primas de produtos alimentares. Isto vai permitir lutar contra o desperdício alimentar e a fraude, enquanto asseguram a sustentabilidade ao longo da cadeia de valor.

“Atualmente tem-se registado um aumento de 18-20% nos custos associados com matérias-primas alimentares como o trigo, milho, arroz, aveia, e quinoa, apenas devido a perdas de produtividade em fases precoces na cadeia de valor pela ineficiência dos processos de seleção dos grãos – os quais são demorados e de alto custo”, explica Joana Paiva, CEO da Seedsight  e investigadora do INESC TEC.

Acresce a este facto o problema da contaminação de cereais, e outras mercadorias, por micotoxinas, pesticidas metais pesados, alergénios, micro e nanoplásticos, bactérias, vírus, entre outros agentes patogéneos, e os grãos escolhidos e adquiridos por indústrias transformadoras – que podem, por vezes, ser de pouco valor (qualidade inferior) e necessitar de ser misturados com matéria-prima adicional (cereais melhoradores), mais cara, em fases posteriores/tardias da sua conversão em produto alimentar.

“Através de tecnologias blockchain, deep learning, inteligência artificial e sensores óticos, a nossa plataforma tecnológica otimiza a identificação das melhores sementes, espécies, origens e fornecedores de cereais, aos preços mais competitivos; ao mesmo tempo que nos dá outras métricas relacionadas com valores-chave na nossa cadeia alimentar, como a rastreabilidade e a segurança”, explica Joana Paiva.

Com a plataforma Seedsight os intervenientes no comércio agrícola – traders, brokers, agregadores de pequenos agricultores, intervenientes na indústria moageira, agricultores, etc. – conseguem fazer escolhas mais inteligentes na definição e controlo de grãos adaptados à sua realidade através de práticas que contribuem para o aumento da sustentabilidade.

Através de um processo de triagem aplicado a lotes completos de grãos, a plataforma prevê otimizar a eficiência de verificação de qualidade, reduzindo significativamente os custos de aquisição e aumentando a produtividade.

“De acordo com o estudo de mercado realizado, modelos apontam para que a nossa plataforma consiga uma redução de 8% nos custos relacionados com a triagem do melhor cereal, até 89% na redução do tempo de aquisição dos melhores grãos e 20% de aumento da produtividade na transformação do cereal em produtos finais, aumentando a rastreabilidade e transparência, abordando eficazmente os desafios da indústria”, refere Joana Paiva.

As distinções

Entre as várias distinções que já foram feitas, de destacar que a Seedsight já foi nomeada uma das 100 startups europeias do momento, pela Techstars Deep Tech Berlim, recebeu o “2023 Women in AG Award” na maior feira europeia de tecnologia agroalimentar – a AGRITECHNICA -, que decorreu na Alemanha, e ficou no Top 17 dos finalistas do ParticleX Urbantech Global Challenge 2024, uma iniciativa focada no mercado asiático. Atualmente a Seedsight também se encontra a realizar alguns estudos pilotos com parceiros em África para a deteção de micotoxinas no âmbito do programa Validate.Global promovido pelos Impact Hubs Vienna, Kigali e Accra. A spin-off também se encontra integrada no projeto europeu EPICENTRE, tendo sido finalista do último cohort do Global Entrepeurnership Center em Dusseldorf, na Alemanha.

“A tecnologia fotónica desenvolvida pela Seedsight tem como objetivo aumentar a qualidade das sementes e dos grãos, alcançando uma melhoria até 10 vezes superior. Para além de ser um importante passo para a negociação de commodities, este processo é vital para a segurança alimentar a nível mundial, traduzindo-se numa proposta de valor decisiva para os clientes e para os investidores”, destaca Martin Schilling, Diretor Executivo da Techstars Berlin e Membro da Administração da Associação Alemã de Start-ups.

 

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