Um oceano de oportunidades: Inovar para uma Economia Azul Sustentável

Os oceanos sempre desempenharam um papel importante na vida mundial, quer no que diz respeito à influência que têm no clima quer em relação à sua contribuição para as condições de vida na Terra, uma vez que albergam inúmeras espécies que contribuem diretamente para a sobrevivência humana, apoiando o comércio económico global, entre muitos outros. Recentemente, os oceanos têm sido vistos como uma oportunidade para apoiar os desafios futuros impulsionados pelo crescimento económico global e pelo aumento da procura de recursos. Este facto irá alterar o panorama dos setores marinho e marítimo nas próximas décadas, no que às empresas estabelecidas e emergentes diz respeito. 

O desafio de impulsionar as perspetivas de desenvolvimento a longo prazo dos setores emergentes dos oceanos e a sua contribuição para o crescimento económico e empregabilidade, enquanto se gere o oceano de uma forma responsável e sustentável, só pode ser alcançado através da gestão de diferentes frentes ortogonais (tal como é indicado no relatório da OCDE “The Ocean Economy 2030”, nomeadamente: 

– promover uma maior cooperação internacional no domínio das ciências e tecnologias marítimas como meio de estimular a inovação e reforçar o desenvolvimento sustentável da economia dos oceanos; 

– reforçar a gestão integrada dos oceanos.  

Os avanços científicos e tecnológicos desempenharão um papel fundamental no futuro dos oceanos, abordando simultaneamente os desafios ambientais e o desenvolvimento de atividades económicas, fazendo com o que, à partida parece incompatível, seja possível, conseguindo, assim, quer um mar protegido quer um mar produtivo.  

Com a crescente perceção do papel do oceano, estão a decorrer diversas iniciativas a nível mundial, tanto do ponto de vista económico e político como do ponto de vista tecnológico e científico. Uma das iniciativas mais importantes é a recente criação do Painel de Alto Nível para uma Economia Sustentável dos Oceanos (conhecido como Painel dos Oceanos). O Ocean Panel foi criado por 14 países que representam 40% da costa mundial (incluindo Portugal e Noruega), que se comprometeram a gerir de forma sustentável 100% da área oceânica sob jurisdição nacional até 2025, guiados por Planos Oceânicos Sustentáveis, enquanto dinamizam as suas economias. Além disso, nos últimos anos, têm aparecido diversas iniciativas (muitas ainda em fase de planeamento) para fomentar a criação de centros de excelência específicos destinados a aproveitar o potencial das sinergias entre as inovações tecnológicas nas indústrias marítimas, muitas vezes também em ligação com clusters marítimos. Iniciativas semelhantes incluem, por exemplo, o Ocean Space Centre (Noruega) e a Ocean Technology Alliance (Canada).  

O Mar é um tema estratégico no roteiro económico português, claramente evidenciado na Estratégia para o Mar 2021-2030, mas também através das Estratégias de Especialização Inteligente (RIS3) de Portugal e da região Norte e pela importância que lhe é dada no PRR com a atribuição de uma das componentes estratégicas (C10 – Mar). Portugal é um país oceânico, com uma linha de costa de cerca de 2.500 km, com uma das maiores zonas económicas exclusivas (ZEE) do mundo, que se estende por mais de 1,7 milhões de km2, incluindo uma grande diversidade de ecossistemas e recursos. O triângulo marítimo português (continente, Madeira e Açores) constitui 48% de todas as águas marinhas, adjacentes ao continente europeu, sob a jurisdição dos Estados-Membros da UE. À área da ZEE junta-se a plataforma continental portuguesa, que se estende para além das 200 milhas náuticas. O processo de delimitação está em curso junto das Nações Unidas e tem o potencial de aumentar a área abrangida pelos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional para 4.100.000 km2, alargando assim os direitos de soberania, para além da ZEE, para efeitos de conservação, gestão e exploração dos recursos naturais localizados no solo e subsolo marinhos.   

A sua localização geográfica faz de Portugal um dos países-chave para desenvolver e operar sistemas de energia renovável offshore no Atlântico Norte, em benefício da UE e à escala global. Portugal é, de facto, a porta da Europa para o Oceano Atlântico, e o crescimento das atividades económicas para o mar é o desenvolvimento espectável de um país com uma vasta linha de costa e com uma cultura marítima ancestral.  

A criação de um centro de Excelência em Engenharia Oceânica – INESCTEC.OCEAN – emerge exatamente desta conjetura e do potencial de exploração do mar. O INESC TEC possui comprovadamente diversas competências chave para o desenvolvimento de tecnologia para o mar, desde sensorização, comunicações, robótica subaquática, energia ou ciência de dados. Essas competências têm sido – até à data – desenvolvidas em diferentes áreas de aplicação consoante a angariação de financiamento e não exclusivamente dedicadas ao mar. A criação do INESCTEC.OCEAN irá permitir esse desenvolvimento focado no mar para que se consiga alavancar as competências nesta área de aplicação que traz desafios acrescidos devido às condições adversas e ambiente hostil de operação.  

O INESCTEC.OCEAN terá também outras dimensões para além do desenvolvimento de competências científicas e tecnológicas. Fomentará uma relação estreita com a Academia, viabilizando a formação avançada em áreas relacionadas com a engenharia oceânica e estabelecendo cooperações estratégicas com o ecossistema empresarial nacional e internacional. Assim, o projeto irá promover a inter-relação entre academia/instituições I&D e indústria, criando competências únicas que colmatarão os deficits do mercado na área do mar.  

O INESCTEC.OCEAN será um instrumento estratégico fundamental no ecossistema regional e nacional de I&D+I, promovendo uma nova perspetiva científica e tecnológica e abordagens de inovação sustentável baseadas no conhecimento para garantir uma exploração sustentável dos oceanos. É objetivo do INESCTEC.OCEAN estabelecer parcerias estratégicas com infraestruturas e iniciativas já existentes, como a bacia oceânica do Hub Azul de Leixões, o centro de testes offshore na Aguçadoura e a infraestrutura TEC4SEA, esta última com diversos equipamentos e sistemas móveis de teste e operação de mar profundo, assim como uma embarcação de investigação.  

O INESCTEC.OCEAN prevê o reajuste e adaptação de infraestruturas existentes e a criação de novos espaços de experimentação. O desenvolvimento de competências e a formação avançada de recursos humanos será sinérgica e complementar às ações de infraestruturas atuais, promovendo a criação de uma rede de infraestruturas tecnológicas onshore e offshore para desenvolver e testar tecnologia, estimulando a inovação de base científica.  

O financiamento agora alcançado para a criação do INESCTEC.OCEAN representa um passo fundamental para alavancar o vasto potencial marítimo do país e para impulsionar a inovação, a sustentabilidade e o crescimento económico. Ao centrar-se no desenvolvimento tecnológico avançado, em colaborações estratégicas e na promoção de uma nova geração de profissionais qualificados, esta iniciativa alinha-se com as prioridades nacionais e globais para uma economia azul sustentável. Através da integração do conhecimento, da tecnologia e de um compromisso com a gestão responsável dos oceanos, o INESCTEC.OCEAN tem como meta posicionar Portugal na liderança da exploração e inovação sustentável dos oceanos, assegurando que os mares permanecem um recurso protegido e produtivo para as gerações vindouras. 

Por Diana Viegas (INESC TEC) e Eduardo Silva (INESC TEC e IPP-ISEP)

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