Há dez anos que o INESC TEC monitoriza, de forma contínua, a radioatividade ambiental na ilha Graciosa, no arquipélago dos Açores. Os dados recolhidos pela equipa de investigação do Instituto apontam para uma maior humidade no solo e ajudam a distinguir variações naturais de possíveis ameaças nucleares.
Desde 2015 que o INESC TEC, em colaboração com o Instituto Dom Luiz (Universidade de Lisboa) e a Universidade dos Açores, lidera esta campanha pioneira, cujos dados são recolhidos de forma automática e ininterrupta na estação ENA (Eastern North Atlantic) – uma infraestrutura científica localizada no meio do Atlântico.
Os resultados destes dez anos de observações oferecem muito mais do que um simples retrato da radiação ambiente. Segundo Susana Barbosa, investigadora do INESC TEC responsável pela campanha, “a série temporal mostra uma tendência de diminuição dos níveis de radioatividade a partir de 2021, o que sugere uma maior humidade no solo, possivelmente associada ao aumento da frequência e intensidade de tempestades”. Este é apenas um dos muitos indícios climáticos que podem ser extraídos a partir dos dados recolhidos, que estão, aliás, disponíveis aqui ao público, promovendo, assim, o acesso aberto à informação científica.
Outro resultado relevante diz respeito aos picos de radiação gama frequentemente observados após episódios de chuva. Estes fenómenos ocorrem quando a precipitação arrasta para o solo os radionuclídeos presentes na atmosfera – uma dinâmica natural que pode facilmente ser confundida com eventos anómalos, como acidentes em centrais nucleares. A monitorização sistemática, aliada a dados meteorológicos detalhados e à localização única da estação ENA – isolada de fontes continentais de poluição – permite melhorar significativamente a distinção entre variações naturais e artificiais da radioatividade, reforçando os mecanismos de proteção civil e ambiental.
Para além da vigilância, este trabalho tem impulsionado a investigação científica em áreas como a vulcanologia, sismologia, climatologia e hidrologia. O gás radão, por exemplo, é utilizado como um traçador natural para estudar fenómenos terrestres e atmosféricos.
O futuro da campanha e a expansão com tecnologia de ponta
No seguimento desta campanha, está a decorrer uma nova iniciativa de monitorização no âmbito do projeto Europeu NuClim (Nuclear observations to improve Climate research and GHG emission estimates), coordenado pelo INESC TEC. Susana Barbosa, que também coordena este projeto, salienta que “esta campanha representa uma expansão significativa da rede de monitorização da radioatividade ambiental existente na Graciosa, com a instalação de diversos instrumentos de ponta para a medição de gás radão na atmosfera, radiação cósmica e radionuclídeos cosmogénicos”.
Os dados recolhidos no âmbito desta nova campanha permitirão avanços significativos em áreas como o estudo do clima, o reforço das medidas de radioprotecção e o aumento da capacidade de vigilância e resposta a eventos de natureza nuclear.
Para além dos dados públicos disponíveis através de repositório aberto, o conhecimento gerado ao longo destes anos tem vindo a ser também publicado em revistas científicas internacionais, como a European Physical Journal Nuclear Sciences and Technologies e o Journal of Environmental Radioactivity.
A investigadora do INESC TEC mencionada nesta notícia tem vínculo ao INESC TEC.