Soluções centradas nas pessoas para assegurar cadeias de abastecimento resilientes e sustentáveis: eis a tarefa que o INESC TEC ajudou a moldar nos últimos dois anos. O projeto ReSChape chegou ao fim e, agora, há ideias à solta para as cadeias do futuro.
É bastante provável que nos últimos três meses tenha feito uma compra online. Compramos cada vez mais assim e já deve ter sido surpreendido com a encomenda à sua porta em tempo recorde. Mas, afinal, o que é acontece entre o momento em que clicamos no derradeiro botão e ouvimos, dias depois, a campainha?
É um fenómeno complexo, mas o tal clique desencadeia um sem fim de processos, pessoas e empresas, todas a desempenhar o devido papel – sem falhas, idealmente –, em contrarrelógio, para que uma encomenda galgue toda a distância necessária para chegar ao seu destino. No fundo, estamos a descrever o funcionamento de uma cadeia de abastecimento.
Num mundo interligado, acompanhado por conflitos geopolíticos e crises ambientais – sem esquecer uma pandemia –, estas cadeias desempenham um papel fundamental, e robustecê-las é urgente. No fundo, tornar sistemas complexos mais sustentáveis e resilientes: e são estas as duas palavras-chave que o INESC TEC trabalhou no projeto ReSChape. Ao longo de dois anos, na companhia de oito entidades de cinco países europeus, o consórcio avançou novos modelos de gestão centrados nas pessoas e publicou recomendações para assegurar transações justas, inclusivas e sustentáveis.
“O projeto distinguiu-se pela sua abordagem abrangente aos desafios enfrentados pelas cadeias de abastecimento contemporâneas. Ao longo da sua execução, envolveu diversos atores que influenciam e são influenciados pelas atividades destas cadeias, assegurando que tanto as ações desenvolvidas como os resultados obtidos respondem às suas necessidades”, resume Ricardo Zimmermann, investigador do INESC TEC.
Se antes fornecedores e clientes estavam geograficamente próximos, hoje, a dispersão obriga a muitas interligações complexas. As preocupações com a escassez de mão de obra e a falta de competências nas cadeias de abastecimento aparecem cada vez com mais frequência nas notícias. A digitalização e a Inteligência Artificial aliviam algumas destas pressões? Sim, mas nem todas.
E é também por isso que o projeto colocou a ideia de comunidade no centro da discussão. O ReSChape trouxe para o centro de discussão empresas e atores com papéis de relevo dentro do enorme ecossistema destas cadeias, mas também os que, à margem, complementam esta engrenagem – como decisores políticos e investigadores. Este contexto de interação contínua garante, segundo Ricardo Zimmermann, que as pessoas “permanecem no centro das decisões e do processo de transformação das cadeias de abastecimento.” Ou seja: o trabalho colaborativo do ReSChape quer pescar em águas diferentes para moldar as cadeias de abastecimento do futuro sem esquecer o consumidor final. Que, mais conscientes da sua pegada ecológica, também procuram esse compromisso por parte das empresas.
O INESC TEC desempenhou um papel essencial na definição de ações concretas para promover a sustentabilidade e a resiliência das cadeias de abastecimento. “Em colaboração com um vasto conjunto de stakeholders, foram identificadas mais de 130 ações, que resultaram na criação de um modelo prático e adaptável a diferentes contextos e setores”, salienta o investigador. Foi também do INESC TEC que partiu uma análise abrangente das políticas e regulações em vigor, tanto a nível nacional como europeu.
Um passo importante para cartografar o “estado atual das políticas públicas que influenciam a sustentabilidade e a resiliência das cadeias de abastecimento na Europa”. Resultado? Um leque de recomendações estratégicas dirigidas a decisores políticos em múltiplos níveis.
O Projeto ReSChape – REshaping Supply CHAins for Positive social impact – foi financiado pelo programa Horizonte Europa da União Europeia e terminou no mês de setembro com o evento final realizado em Bruxelas.
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