Uma mão cheia de oportunidades

Num momento em que entramos na última fase de desconfinamento (uma palavra que entrou nas nossas vidas de forma bruta e que não sairá tão cedo da nossa mente), torna-se inevitável falar daquilo que espero que seja o futuro próximo, nomeadamente sobre os desafios que a recuperação desta longa e maldita pandemia nos vai colocar.

A Marta elencou, no editorial anterior, os principais programas de apoio da próxima década, sendo que neste momento o famoso Plano de Recuperação e Resiliência (também conhecido como Bazuca, Metralhadora HK21, Placebo, Fisga, etc.) é aquele que está na ordem do dia por tudo aquilo que poderá trazer ao País. Saliento uma parte das palavras da Marta, que realça que será uma excelente oportunidade “desde que que estes montantes sejam investidos de uma forma produtiva e que contribua efetivamente para a competitividade do país (…)”.

Se há coisa que a pandemia nos ensinou, e puxando um pouco ao meu lado de engenheiro eletrotécnico, é que um sistema demasiado exposto a um tipo de geração (de eletricidade, de negócio, de tecnologia) é pouco resiliente se a procura se alterar subitamente. Foi assim com o turismo no país (digo foi porque o desfile de malas e as filas para os restaurantes já voltou), está a ser assim no sistema elétrico com o gás natural.

Como dizia o saudoso Jack Welch, “Mude antes de ser obrigado a fazê-lo”. As primeiras oportunidades já chegaram, com o primeiro concurso de ideias que agora mesmo terminou, onde empresas e entidades não empresariais do Sistema Científico e Tecnológico se uniram para criar centenas de iniciativas, que se desdobram em outras tantas centenas de projetos, que irão naturalmente precisar de outras tantas centenas de pessoas.

Pegando então no que me parece ser necessário para que não caiamos na condição da “mão cheia de nada”, teremos de evoluir e capacitar o país, que precisa desesperadamente de rasgar com a lógica da mão de obra intensiva para criar produtos de escala e baixo custo, para passar à criação de produtos e serviços de alta intensidade tecnológica e com caráter diferenciador.

Uma instituição como o INESC TEC tem aqui um papel fundamental, ao gerar inovação de base científica que responde aos desafios das empresas. Temos de tirar partido deste nosso ecossistema único, que mistura o conhecimento e a investigação de excelência da nossa academia, trazida pelos docentes e bolseiros, com a competência e rasgo dos nossos investigadores contratados. Mas atenção, não nos podemos deslumbrar pela quantidade de oportunidades e solicitações, devendo antes manter o foco e garantir a nossa capacidade de resposta nos moldes que o país precisa.

Mas não são apenas as soluções tecnológicas inovadoras a nossa única riqueza e missão. Temos também um papel fundamental na capacitação e valorização de pessoas, que em boa verdade, são a pedra basilar desta transformação. Criar um fluxo estruturado, desde o(a) jovem de 18 anos que acabou de entrar no Ensino Superior até ao mercado de trabalho, é talvez o maior desafio que nos espera neste processo. Há que capacitar toda uma nova geração, mas também todos aqueles que, nas empresas, são essenciais com a sua experiência e conhecimento. Esta mistura virtuosa de experiência com conhecimento técnico e tecnológico de ponta, será seguramente a base duma evolução que se quer rápida, mas sólida.

Nós, INESC TEC, teremos de ser capazes de atrair e fazer evoluir talento, criando condições para que cada um possa crescer na direção que mais o motiva, dando-lhe espaço para fazer as suas escolhas: ficar junto a nós na I&D, com perspetivas claras de carreira e de valorização, ir para as empresas, naquele que é o melhor exercício de transferência de tecnologia, ou ainda na criação do seu próprio negócio, explorando o trabalho que aqui desenvolveu. Estamos a trabalhar afincadamente na clarificação desses caminhos e 2022 será um ano de mudanças importantes neste domínio.

Mais do que o INESC TEC, Portugal precisa de todos, a trabalharem de forma empenhada, motivada e solidária para com a causa maior, tornar-nos um país que é muito mais do que um excelente destino turístico para aqueles que nos visitam, aproveitando esta mão cheia de oportunidades para o conseguir.

 

Luís Seca (Administrador Executivo)

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