As alterações climáticas e a transição energética

As consequências das alterações climáticas são conhecidas e começam a transformar-se numa realidade assustadora. O aumento das emissões de dióxido de carbono tem provocado o aumento da temperatura média da Terra nos últimos anos desde a era pré-industrial com reflexos claros no degelo das calotes polares e de glaciares por todo o mundo, provocando a subida das águas dos mares, o aumento da desertificação, os fenómenos extremos climáticos associados a grandes tempestades e ondas de calor. Toda esta situação determina uma urgência em descarbonizar a economia mundial e a sociedade. Para que tal seja possível é necessário proceder a uma crescente eletrificação das atividades económicas, complementada com uma utilização crescente de recursos energéticos renováveis para a produção de eletricidade. Ou seja, esta solução só faz sentido se a eletricidade que vier a ser utilizada for uma eletricidade “verde”, produzida com recurso a fontes primárias renováveis. Esta transição energética terá grande impacto em vários setores, tais como na mobilidade e nos transportes em geral, nas atividades industriais, nos setores primários da economia e no edificado, envolvendo, não só a utilização de fontes de energia “verde”, mas também o aumento da eficiência energética em todos os processos de conversão e utilização de energia.

Assim, para fazer frente as estas ameaças, nos últimos anos temos assistido ao aumento da instalação de centrais eólicas e solares fotovoltaicas, que se vêm somar às centrais hidroelétricas já existentes, e que irão substituir centrais termoelétricas que serão progressivamente desclassificadas. As primeiras centrais a desclassificar têm sido as centrais a fuel, tecnologia que em Portugal apenas ainda é utilizada nos sistemas elétricos da Madeira e Açores, e as centrais a carvão. Portugal é um bom exemplo deste movimento ao encerrar este ano as centrais a carvão de que dispúnhamos (Sines e Pêgo), num total de 1.884 MW de potência instalada. Esta é uma trajetória sobre a qual não pode haver hesitações, e que está a ser seguida em grande parte da Europa de forma a termos um sistema elétrico neutro em carbono antes de 2050 na maior parte dos países europeus. Nos próximos anos iremos assistir ao aumento da produção eólica por recurso ao re-powering de parques eólicos on-shore já existentes, ao aumento significativo da produção eólica off-shore, e ao aumento da produção solar fotovoltaica através da instalação de painéis nas coberturas de edifícios e em instalações de grandes dimensões. Infelizmente esta trajetória de rápida substituição das centrais térmicas que queimam combustíveis fósseis não está a ser prosseguida com a mesma velocidade em outras geografias, como a China e a India, o que implica a necessidade do reforço dos mecanismos do comércio internacional das licenças de carbono, para assim garantir a competitividade da economia europeia.

Uma rápida descarbonização da sociedade e da economia não será, contudo, possível de concretizar se não recorrermos a outro vetor energético – o Hidrogénio. Com efeito, as necessidades de produção de calor industrial, de disponibilização de uma solução eficiente e viável para a descarbonização do transporte rodoviário de longa distância, do transporte marítimo e do transporte aéreo, a que acresce o interesse em dispor de soluções alternativas para armazenamento sazonal de energia elétrica de origem renovável para garantir segurança de abastecimento no setor elétrico, justificam a aposta no Hidrogénio de origem renovável – Hidrogénio verde – como vetor energético complementar à eletricidade.  O Hidrogénio verde será produzido a partir da eletrólise da água, utilizando eletricidade com origem em fontes de energia renovável, fundamentalmente a partir dos recursos energéticos eólico e solar.

A transição energética não será, contudo, indolor e terá alguns impactos ambientais não desprezáveis, o que implica organizar o território para pode acomodar o crescimento da produção de eletricidade de origem renovável. Esta transição energética para ter sucesso requer uma crescente digitalização e a utilização intensiva de tecnologias de informação e comunicações no setor da energia, o que configura uma oportunidade ímpar para economia Europeia e Portuguesa. Com efeito o desenvolvimento de soluções avançadas de gestão e controlo dos sistemas multi-energia envolvidos em todas estas mudanças, onde o consumidor passará a ter um papel central, permitirá gerar mais valias económicas que muito contribuirão para o aumento da riqueza e do emprego qualificado na Europa e, portanto, também em Portugal.  Esta é uma oportunidade que não podemos perder.

João Peças Lopes, Diretor Associado

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