A incerteza é normal nos tempos em que vivemos e crises já tivemos várias; a última foi a crise financeira global, há mais de uma década. Na altura, o futuro vestiu-se de negro, o desemprego escalou e muitas empresas fecharam. Mas nós – o INESC TEC e o país – fomos resilientes, transformámo-nos e saímos por cima: maiores e um pouco melhores. E se Portugal e a Região Norte passaram em 2019 para o grupo dos “fortemente inovadores” de acordo com o European Innovation Scoreboard, podemos, no INESC TEC, sentir que também ajudámos a que isso viesse a ser possível.
Logo em março deste ano se percebeu que Portugal não passaria ao lado da crise pandémica, que seria global. E também se percebeu que esta crise seria enorme, diferente da anterior e que ninguém sabia muito bem o que prever. Reagir, decidir rápido e proteger todos dos efeitos da pandemia foi a prioridade. Colocar em teletrabalho quase mil pessoas em pouquíssimos dias é tudo menos trivial, mas conseguimos fazê-lo sem sobressaltos e fica aqui um muito obrigado a todos pela singular capacidade de planeamento e operacionalização.
Mal tínhamos sido confinados, fomos desinquietados pela ideia de sermos úteis, de oferecermos tudo o que temos e que sabemos para ajudar a combater a pandemia. As impressoras 3-D trabalharam sem parar para ajudar as equipas da U.Porto a fabricar viseiras que faltavam aos hospitais, mas também para fazer as peças para um ventilador de emergência, perante a ameaça de virem a faltar ventiladores nos hospitais. E logo se multiplicaram os projetos, os Diários de uma Pandemia com o ISPUP e o Público, o robô de desinfeção de espaços e tantos outros, iniciativas que emergiam dos nossos investigadores e centros. Finalmente, talvez o maior desafio de todos: a responsabilidade pelo desenvolvimento da aplicação nacional de rastreio digital, na sequência da participação no consórcio europeu que desenvolveu o protocolo DP3^T. Como não eram tempos normais, o INESC TEC fez bem mais do que seria de esperar para uma instituição de I&D: com a ajuda da Keyruptive e da Ubirider, veio a assumir a operacionalização de todo o sistema a nível nacional.
Mas, enquanto se mobilizavam competências e recursos para ajudar na luta contra a pandemia, os compromissos em curso não eram ignorados. A vida da instituição – fazer projetos, propostas, publicações – continuou, sem nunca baixar os braços e sempre protegendo os seus colaboradores. A candidatura a Laboratório Associado, o Plano e Orçamento para 2021, os trabalhos com as Comissões de Acompanhamento Científico e Empresarial, o reporte periódico de atividade e controlo orçamental foram preparados e apresentados com o empenho e rigor de sempre.
Com a luz das vacinas ao fundo de um túnel que desconhecemos, sentimo-nos hoje mais capazes num INESC TEC que aprendeu rapidamente com as surpresas, reagiu à adversidade, adaptou-se e preparou-se para ainda maior incerteza.
E sentimo-nos orgulhosos, porque o INESC TEC, ao estar na linha da frente dos contributos da ciência e do conhecimento para as políticas públicas em Portugal, e em particular nesta situação de pandemia, reforçou a sua ligação à sociedade, ao país e aos portugueses.
As perspetivas de um ano de 2021 de recuperação têm-se vindo a consolidar nas últimas semanas, com as múltiplas boas notícias nos domínios do tratamento, da vacinação e do diagnóstico. Parece cada vez mais provável que a curto prazo se consiga identificar uma combinação eficaz destes instrumentos que permita que os governos comecem a levantar restrições e comecemos a regressar a bons níveis de confiança coletiva.
Mas os percursos de recuperação em diferentes áreas da sociedade e da economia, e em diferentes regiões, não vão ser lineares e encerram ainda bastante incerteza. A ciência foi fundamental em 2020 para capacitar a nossa resposta à pandemia, e nos encontrarmos no final deste ano num cenário melhor do que as perspetivas mais otimistas de muitos especialistas. Enquanto comunidade científica teremos que nos mobilizar também para esta nova fase de reparação das feridas sociais e económicas causadas pela pandemia.
A União Europeia e o Estado português irão dedicar, já a partir de 2021, um volume excecional de recursos a essa recuperação. A nossa vocação de serviço público exige-nos participar desde o primeiro instante na primeira linha do apoio à sociedade e à economia europeia e nacional nesse esforço.
Por outro lado, estas feridas são reais também no dia a dia de cada um de nós, nas nossas vidas pessoais e nos nossos contextos de trabalho. Nesta esfera também temos sabido, enquanto comunidade e enquanto instituição, olhar e agir para dentro, estar atentos às necessidades de cada um e com cada um ter o maior cuidado, com um ânimo que vemos claramente projetado para a frente, com o empenho de todos.
O próximo ano vai desafiar-nos nestas dimensões de serviço e de comunidade, mas estas são desde sempre dimensões chave do INESC TEC, como propósito e impulso institucional. 2021 pode, portanto, estar seguro de que poderá contar connosco, com o melhor das nossas capacidades de ciência e inovação, guiados pelo nosso infatigável espírito de serviço, e como comunidade unida e mobilizada em torno dos nossos valores fundamentais: responsabilidade social, cooperação, liberdade de investigação, excelência na inovação e primazia às pessoas.
Em nome do Conselho de Administração, aqui fica o nosso muito obrigado aos Inestec_ianos, que tornaram possíveis todas estas realizações em 2020 e nos fazem sentir confiantes para 2021, um ano de grandes desafios e transformações, que desejamos seja muito melhor para todos nós.
Festas Felizes e um excelente 2021 para todos e para as vossas famílias!
José Manuel Mendonça (Presidente do Conselho de Administração) e João Claro (Presidente da Comissão Executiva)
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