Há quatro décadas a contribuir para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia

A criação do INESC, em 1980, teve como objetivo contribuir para a superação do crónico atraso do país nas áreas da ciência, tecnologia e inovação. O inovador modelo proposto pelo INESC, de criação de instituições de I&D privadas, sem fins lucrativos, ligadas às universidades mas independentes destas, permitiu ultrapassar muitas das limitações do sistema universitário da altura, onde a cultura de investigação, desenvolvimento e inovação era ainda bastante incipiente, em geral. Muitas das instituições científicas de topo que hoje existem hoje adotaram o modelo do qual o INESC foi pioneiro e. se Portugal está hoje muito melhor posicionado internacionalmente no que respeita à qualidade e quantidade da investigação científica produzida, tal deve-se pelo menos em parte ao INESC. 

Mais de quatro décadas após a sua criação, o ecossistema INESC continua a atuar de forma decisiva numa área muito próxima daquela onde começou a sua atividade, algo que revela uma clara visão estratégica. As tecnologias de informação e comunicação tornaram-se no fulcro do desenvolvimento económico dos países, uma realidade que, embora previsível há quarenta anos, não deixa de ser algo surpreendente, se pensarmos que nessa altura a Internet era apenas uma miragem relativamente distante. Os projetos que foram desenvolvidos nos primeiros anos do INESC, e que nos parecem agora ingénuos e primitivos, foram essenciais para a criação de conhecimento e, acima de tudo, de uma cultura de saber fazer que é uma parte importante do nosso capital.  

A cisão do INESC em cinco instituições independentes, perto da viragem do século, foi também um fator decisivo que, embora motivado por condicionalismos essencialmente externos, acabou por potenciar o desenvolvimento de novas atividades, novas lideranças e novas e maiores ambições. Embora se tenha perdido alguma coordenação global e alguma capacidade de colaboração que existia entre investigadores localizados em diferentes geografias, ganhou-se iniciativa, dinamismo e capacidade para atingir uma escala que, de outra forma, seria difícil de gerir. 

Das cinco instituições ativas em atividades de I&D do grupo INESC, o INESC-TEC é talvez aquela que melhor ilustra a evolução que teve lugar nestes quarenta anos. O nível de profissionalismo da gestão, das unidades de I&D e dos serviços de apoio está seguramente muito para além de qualquer coisa que tenha sido antecipada pelos fundadores, mesmo tendo em conta a sua experiência internacional, em países com instituições muito mais desenvolvidas. Hoje, o INESC-TEC pode ser visto como uma instituição modelo, não só a nível nacional, mas também a nível internacional, pesem embora as limitações impostas ao nosso funcionamento por coisas que são particularidades e originalidades do nosso país, tais como o peso da burocracia, a instabilidade dos mecanismos de financiamento, ou as limitações legais impostas à maioria das instituições públicas com que colaboramos. 

O esforço de elaboração do plano estratégico, que está a ser levado a cabo, é testemunha da maturidade do INESC-TEC como instituição. Tanto o processo de elaboração como o resultado final a que em breve chegaremos revelam uma maturidade institucional que é rara em Portugal e, creio, praticamente única entre as instituições do sistema de I&D português. Para além de contribuir para alinhar os esforços de toda a comunidade, o plano estratégico deverá também ser usado para identificar e colmatar os aspetos onde melhorias mais significativas podem ser conseguidas.  

A concorrência pelo talento e pela capacidade de inovação é global, e não podemos descansar sobre os louros alcançados. Tal como a rainha vermelha da Alice no País das Maravilhas, temos de correr cada vez mais depressa meramente para mantermos a nossa posição, face à competição. Será este o nosso desafio para as próximas décadas. 

Arlindo Oliveira, Presidente do INESC

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