No 37.º aniversário do INESC no Porto

O número 37 não é particularmente redondo, pelo que as comemorações do 37º aniversário do INESC no Porto não assumem uma celebração “especial”. Isso não significa que não faça sentido recordar e, olhando para trás, procurar perceber como, no meio de todas as enormes mudanças destes últimos quase 40 anos, sobrevivemos e, a meu ver, no essencial, mantivemos os mesmos valores e a mesma matriz essencial.

Em 1985 não éramos ainda nem INESC TEC nem mesmo INESC Porto, éramos apenas a primeira instanciação fora de Lisboa, o informalmente chamado INESC Norte. Os antecedentes vinham sobretudo da FCUP onde o José António Salcedo e o Manuel Barros já tinham uma forte colaboração com Lisboa a que se juntou a FEUP,  num processo longo e nem sempre fácil mas do qual eu, que à data estava em Aveiro, não fui testemunha direta. A U.Porto passava a integrar o bloco académico (onde estavam a UTL e o IST) e, para manter a regra da altura, de 50% académico e 50% empresarial, a CPRM junta-se aos CTT e aos TLP como associado empresarial. A direção do polo do Porto passa a integrar o Salcedo, o Borges Gouveia e o Pimenta Alves. Nenhum deles tinha ainda 40 anos. Acho, aliás, que todos eles já viveram mais tempo durante a existência do INESC no Porto, do que antes disso.

Este não é, definitivamente, o sítio para contar a história longa e nem sempre linear nem fácil do que temos sido [1] mas gostaria de chamar a atenção para três aspetos que me parecem particularmente marcantes daquilo que somos [2].

  1. A noção de serviço público: nunca o INESC foi, para quem o promoveu e dirigiu, senão uma forma de intervenção pública. Para alguns, como parte da sua missão de docentes universitários e para muitos o local de intervenção profissional, de investigação, inovação, em prol do desenvolvimento do País.
  2. A integração, num mesmo espaço e nas mesmas equipas, de investigação, inovação e prestação de serviços. É uma mistura difícil, com fronteiras ténues, que por vezes deixa menos espaço do que o desejável para a investigação mais livre e noutras vezes nos aproxima daquilo que as próprias empresas, com regras de mercado, fazem ou podem fazer. É impossível dizer que nunca esta fronteira foi atravessada e que a relação com o mundo empresarial foi sempre pacífica. Mas, à data da criação e durante muitos anos, o nível de desenvolvimento técnico das nossas empresas era frequentemente rudimentar, “obrigando-nos” a intervenções pouco condicentes com uma mais avançada investigação académica. Embora nem toda a gente se aperceba, o mundo empresarial, em Portugal, mudou de modo inacreditável e isso foi-nos também obrigando a reservar a nossa própria intervenção, evitando sermos vistos como competidores desleais, o que, entre outras coisas, nos levou a ajudar a promover um tecido empresarial de base tecnológica. A AITEC, com sede em Lisboa e delegação no Porto, foi um instrumento completamente disruptivo.
  3. A igual dignidade do trabalho de todos os colaboradores, seja na investigação, no apoio técnico ou nos serviços. Igual dignidade e importância com a consciência de que a qualidade e motivação de todos e cada um deles, é essencial no sucesso coletivo.

Talvez esta fidelidade a questões básicas seja o segredo da nossa longevidade e sucesso. O impacto que o INESC TEC tem hoje no sistema científico e tecnológico nacional é indiscutível, mas não nos deve deixar iludir para duas questões fundamentais:

  • o nosso posicionamento internacional, ainda carece de um salto equivalente;
  • e, last but not the least, aquela juventude inicial, perdeu-se. Acho que vejo, vezes de mais, dizer que A, B ou C é demasiado jovem, falta maturidade, etc. A comunidade académica nacional está terrivelmente envelhecida e iremos pagá-lo amargamente. Nós podemos (e devemos) voltar a ser quem, também neste aspeto, foi capaz de fazer a rutura.

[1] Se alguém estiver interessado nessa história, o livro “80-15-35, os 35 anos do INESC” dá uma visão bastante completa do INESC no Porto mas, também de todo (e todos) o(s) INESC(s).

[2] Para falar disto, eu devia ter preenchido a declaração de conflito de interesses, já que fui, nalguma medida, participante direto no processo; fica, contudo, o aviso para os leitores do BIP.

Pedro Guedes de Oliveira, Consultor do Presidente

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