O grande desafio da transição energética

As ameaças resultantes das alterações climáticas obrigarão a que a economia mundial e a sociedade em geral acomodem uma forte descarbonização. Em termos energéticos, esse movimento só será possível se caminharmos no sentido de uma maior eletrificação da economia, uma vez que esta é a forma mais eficiente e flexível para promover essa mudança. Esta eletrificação terá também de ser suportada pela produção de eletricidade de origem renovável. Assim o setor elétrico enfrenta atualmente grandes desafios e oportunidades que resultam do previsível crescimento do consumo e de uma maior utilização de fontes primárias renováveis, caraterizadas por variabilidade temporal.

Contudo, a descarbonização completa da sociedade e da economia de Portugal não será possível de concretizar se não recorrermos a outro vetor energético – o Hidrogénio. Com efeito, as necessidades de produção de calor industrial de alta temperatura, de disponibilização de uma solução eficiente e viável para a descarbonização do transporte rodoviário de longa distância, do transporte marítimo e futuramente do transporte aéreo, a que acresce o interesse em dispor de soluções alternativas para armazenamento sazonal de energia de origem renovável para garantir segurança de abastecimento no setor elétrico, justificam a aposta no Hidrogénio de origem renovável – o Hidrogénio verde.  O Hidrogénio verde será produzido a partir da eletrólise da água, utilizando eletricidade com origem em fontes de energia renovável, fundamentalmente a partir dos recursos energéticos eólico e solar.

Sendo a mobilidade um dos setores mais energívoros relativamente à utilização de combustíveis fósseis, é também evidente a necessidade e urgência de descarbonizar a mobilidade. A descarbonização da mobilidade terrestre passa pois em grande parte por eletrificar estes meios de transporte, em particular o transporte individual, mas também o transporte coletivo urbano e os transportes de mercadorias. A mobilidade assume, contudo, uma dimensão de grande complexidade nomeadamente nas zonas urbanas onde há que otimizar um problema com múltiplas variáveis que envolvem o transporte ferroviário (comboios e metropolitano), rodoviário de passageiros (bicicletas, veículos individuais e transporte coletivo), passando pela oferta de soluções integradas de intermodalidade pois uma solução sustentável para a mobilidade significa também tornar o transporte coletivo mais eficiente e atrativo em termos da duração dos tempos das viagens.

As infraestruturas de distribuição de gás natural têm sido exploradas até agora apenas com injeções de gás proveniente exclusivamente das redes de transporte de gás natural ou a partir de unidades autónomas de gás natural liquefeito. Contudo, a necessidade de descarbonização deste setor está a levar as empresas de transporte e distribuição de gás natural a conceberem a dopagem do gás natural com gases renováveis (biogases e ou hidrogénio), sendo de esperar a evolução destas redes por forma a virem a veicular exclusivamente hidrogénio, o que implicará investimentos significativos no recondicionamento destas infraestruturas.

Estes desafios oferecem grandes oportunidades para a criação de emprego altamente qualificado no setor energético, sendo que em Portugal há capacidade para formar os técnicos e gestores do sistema energético do futuro. Também a economia portuguesa poderá aproveitar este cenário para desenvolver novos produtos e serviços com elevado valor acrescentado que permitirão aumentar a capacidade exportadora e a riqueza do País. Tudo isto só será possível investindo fortemente em investigação, desenvolvimento e inovação, tendo as Universidades e as instituições do sistema científico e tecnológico um papel crucial para assegurar o sucesso desta transição energética.

Por João Peças Lopes, Diretor Associado

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