Oceanos de oportunidades

Ocupando mais de dois terços da superfície da Terra, os oceanos desempenham um papel crucial na regulação de processos essenciais ao funcionamento do nosso planeta, como a produção de oxigénio ou a retenção de carbono. Encerram também enormes recursos vivos e não vivos, muitos dos quais ainda pouco conhecidos ou caracterizados. A importância da proteção dos oceanos e da exploração sustentável dos seus recursos é amplamente reconhecida e alvo de inúmeras iniciativas de caráter global. Nestas se enquadra a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas que decorre por estes dias em Lisboa e tem por missão dar passos na implementação de medidas que contribuam para “conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos e os seus recursos”, o 14.º dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

Em termos nacionais, a importância dos recursos oceânicos e da economia azul é evidente. Embora se possa afirmar que muito mais poderia já ter sido feito, é inegável que Portugal tem dado passos decisivos na sua afirmação como ator relevante em alguns setores ligados ao mar. Um exemplo foi o esforço levado a cabo para a apresentação nas Nações Unidas do pedido de extensão da plataforma continental. Uma vez concedido, este pedido permitirá juntar ao território nacional uma vasta área de leito oceânico no triângulo entre Açores, Madeira e continente. Outro exemplo é o parque eólico flutuante instalado ao largo de Viana do Castelo, cuja tecnologia havia sido previamente validada também em mar português. Nestes exemplos, como noutros, o conhecimento já acumulado é em si relevante, mas as oportunidades e desafios que daí surgem são também muitos e variados.

De um modo geral, para que seja possível uma exploração sustentável dos oceanos, é necessário alargar o conhecimento que temos dos mesmos, é necessária uma maior e melhor caracterização dos seus recursos, bem como uma melhor compreensão dos seus processos internos e das suas interações. Haverá cada vez mais necessidade de recolher elevadas quantidades de dados, ao longo da coluna de água e no próprio leito oceânico, a grandes profundidades e em regiões remotas. Será também necessário usar esses dados para alimentar modelos que permitam prever evoluções, analisar cenários alternativos, permitindo a tomada de decisões o mais informadas possível. Todas estas necessidades trazem consigo desafios de investigação e desenvolvimento tecnológico, os quais, tendo um caráter essencialmente aplicado, são intrinsecamente multidisciplinares.

Não sendo as tecnologias para o mar uma das áreas nas quais o INESC TEC inicialmente se afirmou, é hoje inegável o nosso posicionamento nacional como uma instituição incontornável nesta área, tal é o impacto do trabalho aqui desenvolvido. A nível internacional o reconhecimento é também crescente, como atestam diversas parcerias.

Chegámos a este ponto com o esforço de muitos, a liderança de alguns, mas também o enquadramento proporcionado por um modelo de funcionamento da própria instituição que, em afinação constante, potenciou as sinergias necessárias para toda esta evolução.

Mas mais importante do que onde chegámos, é o que faremos no futuro. As oportunidades são imensas, o capital humano é grande, e a infraestrutura de suporte é única no país e relevante lá fora. Temos obrigação de fazer mais e melhor. Para tal temos de ser seletivos nos desafios que escolhemos endereçar, audazes no que nos propomos fazer, rigorosos no trabalho que desenvolvemos, unidos na forma como trabalhamos e resilientes perante as dificuldades. Mas isto não é mais do que continuarmos a ser inesctequianos!

Aníbal Matos (Administrador)

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