António Correia Alves, Luís Guardão e Luís Lima (CESE)

“O CESE propõe o António Correia Alves, o Luís Guardão e o Luís Lima pelo trabalho desenvolvido, nos últimos anos, no motor de escalonamento (projeto Escalona). Este resultado é fruto do trabalho desenvolvido por estas três pessoas, pelo que não é possível distinguir uma única. Esta solução, de grande relevância para a indústria, passou por todo o processo de transformação de ciência em valor económico culminado”.

Coordenação do CESE

António Correia Alves

Tendo em conta todo o contexto, que desafios encontrou no decorrer do seu trabalho?

O projeto de desenvolvimento de uma solução de escalonamento de operações de produção em ambiente de manufatura iniciou-se há perto de década e meia, e surgiu na sequência de solicitação de uma pequena empresa de software portuguesa que pretendia apoio na componente de otimização. Os empreendedores tinham uma ideia do que queriam fazer, mas não sabiam como o fazer. Já tinham tentado uma parceria com uma universidade, mas sem sucesso. Como nos tínhamos cruzado numa experiência profissional de consultoria que tinha corrido muito bem, resolveram arriscar no desenvolvimento de uma solução com o na altura denominado INESC Porto.

O trabalho enquadrava-se na estratégia da então Unidade. Era um desafio muito interessante, dado que para além da componente de inovação científica, tinha a aliciante de poder gerar um produto capaz de se afirmar num mercado internacional de nicho, ajudando a indústria nacional a posicionar-se num mercado global.

O projeto foi uma excelente escola de formação profissional, pois permitiu o contacto com uma realidade que ultrapassava largamente o que estávamos até então habituados, ao nível de estabelecimento de estratégias de desenvolvimento de produto, modelos de licenciamento, e prestação de serviços avançados a empresas no domínio da gestão industrial e de operações.

Como os superou?

Exigiu muito trabalho em equipa e autoaprendizagem, nomeadamente na formalização e documentação de especificações, teste de software e gestão de projeto. Permitiu também a formação de vários jovens engenheiros em trabalhos de estágio e de dissertação.

Com o tempo, a solução alargou-se a outras empresas de software que passaram a integrar o motor de escalonamento nas suas soluções de planeamento de operações, com implementação no mercado nacional e internacional – Europa, América do Sul e China.

Do que mais gosta no seu trabalho? Para si, qual é o fator diferenciador do projeto?

O aspeto mais diferenciador da solução é a capacidade de conseguir modelizar uma enorme diversidade de cenários de produção discreta, e dar soluções de planeamento confiáveis e interpretáveis, e com isso conquistar a confiança dos seus utilizadores.

Como comenta esta nomeação?

A nomeação da equipa pelo trabalho desenvolvido ao longo destes anos reconhece a valia do trabalho desenvolvido em prol da criação de produtos de software com elevada base de conhecimento científico, e a sua transferência para o tecido empresarial.

Luís Guardão

Tendo em conta todo o contexto, que desafios encontrou no decorrer do seu trabalho?

A maior dificuldade que encontrámos no desenvolvimento deste projeto esteve relacionada com a falta de visibilidade sobre os clientes finais do sistema de APS (Advanced Planning & Scheduling), vendido pelos nossos parceiros, e que inclui o nosso motor de escalonamento. Nos primeiros projetos, não conseguimos estar envolvidos no diagnóstico, desenho e acompanhamento da implementação das soluções nas empresas industriais, o que impedia que ajudássemos a assegurar o sucesso dos projetos.

Um outro desafio esteve ligado ao facto de termos uma equipa pequena, o que dificultava o assegurar em simultâneo das tarefas de suporte aos nossos parceiros e de evolução do sistema.

Como os superou?

Alterámos a estratégia de colaboração com os nossos parceiros, passando de uma situação em que vendíamos licenças para o nosso motor de escalonamento e acordávamos com eles planos anuais de evolução do sistema, para uma nova forma de colaboração em que, para além de vendermos as licenças, abordávamos – em conjunto com o nosso parceiro – a pré-venda, o desenho e a implementação da solução no cliente final, para assim assegurar o sucesso dos projetos e a criação de mais valias para as empresas. Esta tem demonstrado ser uma estratégia de sucesso.

Recentemente, fizemos evoluir essa parceria, licenciando o código fonte do motor de escalonamento aos nossos parceiros, transferindo a propriedade intelectual e o conhecimento, e estabelecendo com eles acordos de parceria plurianuais. Conseguimos, por um lado, libertar a nossa equipa para prestar aos nossos parceiros serviços de maior valor acrescentado, como são a consultoria avançada em planeamento, escalonamento e arquitetura de software e, por outro lado, permitir que os nossos parceiros façam evoluir (com a nossa ajuda) um produto já maduro com maior autonomia e flexibilidade.

Do que mais gosta no seu trabalho? Para si, qual é o fator diferenciador do projeto?

Gosto essencialmente de diagnosticar e desenhar soluções efetivas que ajudem a nossas empresas a resolver os seus problemas e a ser mais competitivas. Gosto de falar com as pessoas das empresas, com elas aprender e para elas transferir conhecimento.

Como comenta esta nomeação?

Considero que é um reconhecimento justo para a equipa excecional que, ao longo destes anos, teve a perseverança de continuar a apostar nesta área de conhecimento, cada vez mais essencial para as empresas. O apoio e os desafios/orientações da coordenação do CESE foram fundamentais para conseguirmos completar o ciclo de maturidade do produto que desenvolvemos e no qual continuaremos a apostar.

Luís Lima

Tendo em conta todo o contexto, que desafios encontrou no decorrer do seu trabalho?

O trabalho remoto é necessariamente diferente, e o seu impacto é logicamente diferente, dependendo do tipo de trabalho – tendo, naturalmente, um maior impacto quando é necessário fazer trabalho de campo ou laboratorial. No meu caso em concreto, não acho que tenha grande influência no desempenho, acaba até por ser vantajoso em muitos aspetos e hoje em dia é fácil estarmos sempre comunicáveis, de modo que não senti propriamente que tenha tido um desafio para superar devido a esse facto. Até porque estou habituado a fazê-lo. Estamos a viver uma nova realidade, que por um lado também traz coisas boas, como quebrar alguns mitos: o facto de ser perfeitamente possível fazer reuniões online de forma eficaz, evitando-se assim viagens desnecessárias que muitas vezes duram o dobro ou o tripo do tempo da reunião presencial, ou mostrar que o facto de as pessoas trabalharem a partir de casa não querer dizer que não estejam na mesma dedicadas, e sejam igualmente eficazes.

Os maiores desafios que encontrei estão relacionados com o projeto em si, dado ser um projeto complexo e exigente, e que ao longo dos anos (mais de uma década!) evoluiu para um produto em utilização em diversos ambientes industriais, de áreas muito distintas, e onde era necessário dar suporte e evoluir o produto de acordo com as necessidades, com uma equipa extremamente limitada – sendo muitas vezes extremamente complicado conseguir dar resposta a todos os pedidos dentro dos prazos necessários. Regra geral, foi conseguido, mas exigiu bastante esforço e muitas dores de cabeça.

Como os superou?

No âmbito do trabalho remoto, o fator chave é conseguir ser disciplinado e manter o foco, resistindo a potenciais distrações que em casa obviamente serão maiores do que no local de trabalho. A utilização de plataformas digitais como o Zoom, Teams, NextCloud, etc. é crucial para que seja possível trabalhar remotamente, mantendo um espirito de equipa à distância. Em relação ao projeto em si, os últimos anos foram desgastantes devido ao aumento do número de clientes a utilizar o sistema, pelo que dedicação, empenho e organização são fatores fundamentais. Por vezes é complicado, mas depois, quando vemos o trabalho concluído e a ser colocado em utilização, é bastante compensador.

Do que mais gosta no seu trabalho? Para si, qual é o fator diferenciador do projeto?

Gosto de poder trabalhar no desenho de um sistema de uma forma integrada, acompanhando-o desde a especificação, passando pela arquitetura até à sua implementação; mas no final do dia, o mais gratificante é vermos o nosso esforço ser transformado em algo que realmente produz mais valia num ambiente real, e não algo que, quando terminado, fica fechado numa gaveta no fim de um projeto. Independentemente dos desafios tecnológicos que projetos deste tipo trazem – e que são sempre bastante motivadores -, o que me dá mais gozo é mesmo saber que aquilo que faço vai ser traduzido numa ferramenta que vai efetivamente ser utilizada em ambiente produtivo.

O fator diferenciador será o facto de ter sido um projeto que foi evoluindo desde a sua génese ao longo dos anos, até atingir a maturidade de um produto bastante robusto, aplicável às mais diversas áreas produtivas sem necessidade de grandes alterações conceptuais, e finalmente ter chegado a um ponto onde a tecnologia está a ser transferida para os nossos parceiros – dado que já não tínhamos capacidade interna (leia-se, recursos) para gerir um produto que cresceu bastante nos últimos anos. O escalonador passará a ser gerido pelos nossos parceiros, mantendo, no entanto, uma estrita colaboração connosco, e estando nós agora num papel de consultores durante a fase de implementação e de evolução futura do produto. Este tipo de acordo parece-me que se enquadra perfeitamente na missão de transferência de tecnologia do INESC TEC para as empresas/industria, e deveria ser replicado em outros projetos do centro.

Como comenta esta nomeação?

É sempre gratificante vermos o nosso trabalho reconhecido, de modo que só me resta agradecer e continuar a trabalhar da mesma forma nos desafios futuros. Como nota final, gostaria de salientar que acho que faz todo o sentido que esta nomeação seja feita a toda a equipa ligada ao projeto; o sucesso de um projeto como este só é possível devido ao esforço de todos, e não de um individuo em particular.

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